Nesta quinta-feira, 23 de outubro a partir das 20h, o Sesc 24 de Maio apresenta o espetáculo Nipo-Brasilidades, um encontro inédito entre artistas brasileiros de ascendência japonesa que reafirmam a presença amarela na música popular brasileira. O projeto, com direção musical da guitarrista Mônica Agena, propõe um mergulho nas múltiplas expressões da identidade nipo-brasileira — suas vozes, sons, memórias e resistências — traçando um panorama vivo da criação artística contemporânea em diálogo com o legado da imigração japonesa no Brasil.
Mais do que um show coletivo, Nipo-Brasilidades é uma afirmação poética e política da amarelitude, entendida aqui como sensibilidade estética e afirmação identitária. As canções atravessam tradições e experimentações, entrelaçando samba, MPB, pop, rock e música eletrônica em uma tessitura híbrida que reflete a complexidade de ser amarelo no Brasil.
A ideia de se unir toda essa potência criativa surgiu de e um encontro significativo entre os artistas Lígia Kamada e Victor Kinjo, durante uma festa na casa do produtor Kastrup. Em meio à celebração, uma longa conversa revelou uma dor compartilhada: a de não serem plenamente reconhecidos como artistas brasileiros, especialmente dentro do cenário musical, onde cantautores e cantautoras com ascendência asiática, particularmente amarela, ainda são frequentemente vistos como estrangeiros.
“Falamos sobre como, nos debates e nas discussões sobre brasilidade, quase sempre somos deixados de fora. A narrativa nacional costuma girar em torno de pessoas brancas, pretas e indígenas — e nós, pessoas amarelas, muitas vezes não somos reconhecidas como parte legítima dessa construção brasileira”, lembra Lígia.
Na conversa, ainda veio à tona a história do pai de Kamada (Tetsuo kamada, conhecido como Tchê- The Beggers) nascido no Brasil e atuante na música autoral nos anos 1960. Um artista corajoso, que subia ao palco com sua banda, cantando em português e enfrentando o preconceito de todos os lados — por sua aparência japonesa e por ocupar um espaço que lhe era negado.Inspirado pelo encontro com Kinjo — que, além de músico, é também pesquisador das questões raciais e identitárias ligadas à diáspora asiática no Brasil — o projeto se fortaleceu como uma forma de resistência e afirmação.
“Entendi a importância de nos juntarmos, de fazermos o que amamos — música, arte — e de termos coragem para enfrentar os desafios e o racismo que ainda paira sobre nossos corpos”, afirma Kamada.
Artistas que contam com um currículo repleto de projetos marcantes participarão do espetáculo. Ligia Kamada é cantora, compositora, instrumentista e produtora musical cuja obra transita entre a MPB, folk, reggae, música eletrônica e sons do mundo, mesclando ancestralidade e contemporaneidade em composições que evocam espiritualidade, natureza e o corpo feminino como território de criação. Victor Kinjo, cantor, compositor e pesquisador, é um dos nomes mais destacados da nova geração da canção brasileira. Seu trabalho mistura tradição e vanguarda, mesclando ritmos brasileiros, cantos de Okinawa, pop, rock e poesia contemporânea. Dan Nakagawa, multi-artista queer, amarelo e brasileiro, diretor, dramaturgo, ator, compositor e fundador do núcleo SAMBECKETT de teatro. Atua entre o teatro, a música e o audiovisual, com seis espetáculos, de sua autoria, apresentados no Brasil e na Suécia e trilhas sonoras para teatro, dança e cinema . Marcelo Nakamura, violonista e compositor, integra a linhagem dos grandes autores da canção paulistana e amazônida. Sua música parte das brasilidades para dialogar com harmonias modernas e arranjos sofisticados, revelando uma sensibilidade refinada que ecoa tanto o urbano quanto o ancestral. Lina Tag, cantora, produtora e compositora, é presença marcante na cena contemporânea com um trabalho que cruza R&B, soul e música eletrônica. Sua voz potente e seu olhar sobre a estética asiático-brasileira colocam em pauta questões de identidade, feminilidade e representatividade na arte. Niwa cantora, compositora e educadora de ascendência japonesa e indígena. Em 2023, lançou Araponga, seu primeiro álbum solo de linguagem vocal e experimental, em que a voz se torna eixo e território, revelando atravessamentos de uma vivência mestiça e múltiplas identidades culturais. Sua obra habita um universo sonoro marcado pela introspecção e pela fusão de elementos eletrônicos e acústicos, explorando o deslocamento e a identidade como matéria poética, em diálogo com o indie, a MPB e a estética minimalista.
A banda será sabiamente conduzida pela guitarrista Mônica Agena, uma das instrumentistas mais inventivas da cena contemporânea, o espetáculo reúne uma formação de peso, responsável por traduzir em som a diversidade estética e emocional do projeto. Aimê Uehara (baixo) é uma das principais representantes da nova geração de baixistas paulistas, conhecida por sua precisão rítmica e musicalidade refinada. Integra a Batucada Tamarindo, além de assinar os trabalhos audiovisuais do grupo e também faz parte do Bloco Ritaleena desde seu início e da banda Casa Bagunçada. Dudu Tsuda (teclas), compositor, produtor e artista multimídia, traz sua experiência com música eletrônica, pop experimental e trilhas sonoras — sua assinatura sonora adiciona camadas de textura e improviso à performance. André Hosoi (guitarra) é referência em versatilidade, com uma carreira que atravessa a música instrumental, o rock alternativo e a canção brasileira e integrante do Barbatuques, suas intervenções de guitarra equilibram lirismo e energia. Fernando Sagawa (sax, flauta e sintetizador), músico e arranjador, é reconhecido por seu trabalho que integra música brasileira, música de concerto, jazz e improvisação livre; seus sopros e sintetizadores expandem as possibilidades de texturas sonoras do grupo. Gui Nakata (bateria) imprime uma pulsação moderna e inventiva, unindo precisão técnica e sensibilidade poética — um baterista que respira o diálogo entre tradição e inovação. Maicou Yuri (percussão) completa o conjunto com um trabalho vigoroso e criativo, fundindo ritmos brasileiros e influências orientais, criando pontes entre o ancestral e o contemporâneo. Coração pulsante da é o coração pulsante Nipo-Brasilidades a banda promete um show marcante : trazendo texturas, grooves e improvisos tecendo o fio invisível que liga cada artista ao todo, criando uma experiência coletiva de som e identidade. A presença do violonista Rômulo Fernandes, de ascendência palestina, amplia ainda mais os cruzamentos de vozes e culturas, reafirmando o espetáculo como um espaço de convivência e diálogo entre diásporas. Para Ligia Kamada, o show é ainda uma oportunidade para promover uma reflexão sobre pertencimento e representatividade na música brasileira.
"Mais do que uma apresentação artística, o show que une 13 artistas e uma equipe incrível carrega um profundo sentimento de pertencimento, reencontro e escuta. Estamos abrindo frestas em uma estrutura que historicamente não nos reconheceu. Este não é apenas um novo começo — já havia começos nos anos 60 — mas queremos existir plenamente, como qualquer outra pessoa brasileira. A cultura nipônica está presente, misturada e viva — como qualquer outra herança cultural que compõe o mosaico brasileiro. O projeto Nipo-Brasilidades surge, assim, como uma afirmação de identidade, memória e futuro. Decidimos então, trazer mais gente e de várias facetas da música brasileira produzida por nós!", comemora.
Serviço
Nipo-Brasilidades
Local: Teatro – 1º subsolo, Sesc 24 de Maio
Data e horário: 23/10 (quinta-feira), às 20h
Classificação indicativa: 12 anos
Ingressos: https://www.sescsp.org.br/programacao/nipo-brasilidades/
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