Cantar é transcender em forma de música o sentimento que a canção quer passar. Esta foi uma das aulas que tive com Max Grácio artista de Mogi das Cruzes, localizada na região do Alto Tietê em São Paulo.
Ator formado pelo Senac e pelos palcos das saudosas Mostras de Teatro Estudantil promovidas por Denerjânio Tavares de Lira nos anos 90 e canto popular pela ULM -Universidade Livre de Música Tom Jobim, Max é multifacetado : já atuou em musicais, como Mudança de Hábito, O Rei Leão, Rent e brasileiríssima Ópera do Malandro.
Também já viajou mundo a fora levando seu canto pelos mares se apresentando em Cruzeiros.
Com sua emoção encantou os jurados do programa Canta Comigo, exibido pela Rede Record, interpretando Sangrando, de Gonzaguinha.
E Max não para: mesmo na P... ( não vou usar esta palavra neste abre), faz vídeos, dá aulas de canto e trabalha com dublagem e tem inúmeros projetos.
Foi entre uma atividade e outra que me concedeu esta entrevista : falamos de sua formação até a situação do artista no Brasil de hoje.
Porque Max é assim: se você piscar, sua arte o leva para longe.
(Tatiana Valente)
FS- Como você começou a cantar? Quais suas influências musicais?
Estou ensaiando um monólogo, adaptação de um texto do Luigi Pirandello, dramaturgo Italiano do fim do século XIX começo do século XX. Chama O homem da flor na boca. A direção é do Marco Barbosa, direção de corpo da Priscila Nicoliche e assistência de produção da Alana Carvalho, com estreia prevista pra março do próximo ano.
Comecei na igreja por volta dos meus sete anos de idade. Primeiro sozinho depois a partir dos quatorze comecei a me envolver com grupos vocais, quartetos, corais... Fui bastante influenciado nessa época por grupos gospel como o "Heritage Singers" e o "Prisma Brasil" entre outros. Depois influenciado por amigos músicos e pela escola comecei a ouvir muita MPB, bossa nova, jazz tendo entrei o que mais ouvi Lenine, Zeca Baleiro, Marisa Monte, Zélia Duncan, Zizi Possi, Jane Monheit, Michael Bublé, Jamie Cullum, Norah Jones, Anthony Strong entre outros. Entre minhas referências mais recentes tenho curtido muito o Avi Kaplan e a Luedji Luna e me interessei por esses dias depois de alguma resistência pelo som da Liniker
FS- E o teatro, quando entrou na sua vida?
Tive umas poucas experiências na igreja também, e às vezes brincava de fazer "espetáculos" no quintal de casa, mas o que me fez apaixonar foram as oficinas de inverno que fervilhavam em Mogi das Cruzes nos anos 90, foi quando eu descobri a magia do palco.
FS-Ter noção de interpretação é importante para o cantor?
Eu particularmente valorizo muito isso, prefiro um cantor que conta histórias mais do que o cantor que faz puro exibicionismo de técnica. Eu também me sinto mais esse primeiro. Mas pra mim é uma questão de gosto, tendência, formação, influência, sei lá...
FS -De 2005 a 2011 você cantou em cruzeiros. Como foi? Teve alguma história inusitada?
Cantar em navios de cruzeiro por si só já é uma história inusitada, "rsrs".
Foi uma experiência/fase incrível. Tem um preço alto que pra mim é descontinuidade de qualquer coisa que você tenha em terra, algumas obrigações de marinheiro meio chatas que a gente tem como os "Drills"(treinamentos de segurança), a comida não é a mais gostosa do mundo- (a comida de quem mora nos navios não é a mesma dos passageiros), dividir uma cabine minúscula por meses, (dividir cabine pra mim foi um dos preços mais altos, rsrs).
Mas como tudo tem suas compensações, eu jamais conheceria todos os lugares do mundo que conheci de outra forma e ainda por cima fazendo o que eu gosto que é cantar. A história mais inusitada que eu me lembro foi um show que eu tive a oportunidade de fazer chamado "Águas", músicas de água, músicas de Clara Nunes, Dorival Caymmi, e tudo isso em alto mar, foi mágico.
FS-de quantos musicais já participou? Qual foi seu personagem preferido?
Fiz seis musicais profissionais, (O Rei Leão, Mudança de Hábito, Dez Mandamentos, Rent, Les Miserables e Romeu + Julieta ao som de Marisa Monte) mas gosto de mencionar também o meu primeiro musical que foi uma montagem do SESI de Mogi das Cruzes da Ópera do Malandro.
É bem difícil escolher um personagem, tenho uma história de amor diferente com cada um deles, fico bem dividido entre o Joey do Mudança de Hábito que que foi um personagem maravilhoso e o Collins em Rent que eu já amava muito antes de imaginar a possibilidade de dar corpo e voz pra ele.
FS Rent é um musical super ousado. Como foi interpretar Collins?
Rent me conquistou mais pela mensagem de amor e respeito pelo que é diverso que pela ousadia. Acho que podia ser considerado mais ousado nos anos 90 quando estreou nos EUA e tudo estava mais latente. O cenário do teatro musical apresentava peças bem mais clássicas e todas as questões levantadas por Rent eram ainda mais marginalizadas e pouco discutidas. O Collins e a Angel pra mim são um símbolo enorme de um amor super humano, crível e que chega a fazer a gente sonhar em ter aquele amor, pelo menos por um instante. Ser o Collins pra mim representou materializar esse amor no palco, sou apaixonado por ele por isso.
FS - E o Canta Comigo como foi a experiência?
Maluca, mágica, incrível. Deu uma chacoalhada boa no meu sistema todo, "rsrs"
Eu sempre fui avesso a competições como essa, mas o formato me chamou muito a atenção e valeu muito a experiência. Uma emoção que não dá pra explicar.
FS - A pandemia colocou os artistas em grandes dificuldades. Como foi para você?
Não gosto de falar essa palavra com P... cansei dela, já que a mídia e todo mundo repete isso a cada milésimo de segundo. prefiro dizer Apocalipse zumbi, "rsrs"
As dificuldades que a cultura enfrenta, pelo menos no que me afetou, são anteriores ao Apocalipse.
Pra mim a cultura já vem sofrendo transformações há algum tempo por conta das mudanças no comportamento social, vejo cada vez menos interesse do grande público por teatro e afins. Depois as mudanças na lei Rouanet também causaram um baque que acho que pelo menos quem estava trabalhando em grandes produções sentiu com bastante força. E então veio o Apocalipse. Mas dificuldade e inconstância são duas palavras sempre presentes no vocabulário de quem escolhe a arte como sustento, a gente aprende a se adaptar.
FS- Você acompanha o "The voice Brasil?" .
Que conselho daria aos participantes?
Não acompanho, não gosto muito. Pelo que eu ouço de amigos e conhecidos que participaram, tenho a sensação de que não é muito a minha cara e me dá um pouco de preguiça de acompanhar.
Tenho um amigo muito querido que estava participando nessa edição mas foi eliminado na semana passada. Ele é meu oposto porque aposta tudo na técnica, já estudou muito e ainda estuda, professor dos bons, que não sei se daria conselho por achar como eu disse antes que é uma questão com muitos fatores. Mas eu quebraria um pouco da armadura da técnica pra mostrar mais o humano. Mas como eu disse, é muito pessoal
FS- Tem algum projeto em andamento?
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