Pular para o conteúdo principal

O poder transformador da música: o elo entre pai e filha

" ...meu coração,  não sei por que..bate feliz, quando te vê..."

(Pixinguinha/ João de Barro)



Foto: arquivo pessoal Maria Iracema Nunes de Camargo

Em nossa família esta música tornou-se uma oração. Simples assim.

Por toda a vida, meu pai nos falava que a diferença entre uma casa com  família feliz, e outra não, era o som da música que ela emanava...

Meu pai chegava e colocava música em casa...diariamente. Tirava minha mãe para dançar, enquanto ela cozinhava ou mesmo quando ela estava distraída em seus afazeres domésticos. Apertava ela em seus braços e os sorrisos se abriam! E bailavam seus boleros!

Ele falava, e hoje tenho conhecimento cientifico, que a música tem poder transformador! Transforma os ambientes, e tudo o que ele abriga.

É fato, que toda nossa vida possui uma trilha musical, independente daqueles que não possuem a disponibilidade para tal atenção .

A música têm o poder de nos transportar pelo tempo, pelos espaços,  nos desperta prazeres, cheiros, aconchego ou também desconforto frente à experiências  vivenciadas pois, passamos na vida  não somente por bons momentos, mas mesmo assim temos escolhas dentro deles.

Tivemos em família, o que hoje chamo de Graça Divina, que foi um exercício de amor total pelo meu pai, quando, do fato real e cruel, nos deparamos frente a um diagnostico de Alzheimer.

Foram 12 anos de exercício diário de amor, escolha consciente após as instruções dos profissionais de saúde.

Aproveitamos cada momento, como numa ordem contraria da vida, que tira e não dá...que declina e não retoma a saúde. Seu declínio foi sim, muito bem acompanhado mas em nenhum momento rotulamos a doença nele. No homem, no chefe da nossa família. Jamais.

Era o pai, o marido, com algumas dificuldades sim, que enxergávamos.

Ele apresentava dificuldades cognitivas, mas tinha o colo mais afetuoso e acolhedor que um pai pode ter...

Foram 12 anos vivenciando amor, gratidão e a certeza da experiência única daquele momento, como uma criança em um brinquedo que dispõe somente de um tempo determinado para se divertir e não perde tempo com o entorno.

Neste relato não existe dor. Não mesmo. Somente saudades....

Levamos meu pai com frequência, onde havia musica.

Apresentações musicais de pianistas, bandas, cantores e usamos e abusamos do You Tube na busca de músicas antigas e de bandas de coretos...fanfarras etc (o pai dele, meu avô foi maestro de banda do interior!)

Era nosso programa, nós e a música...a música e nós!

Cantávamos com ele e quando a viela da vida se estreitou  foi-se alargando o rio das notas, das vozes, dos diferentes ritmos e instrumentos e suas complexidades. Fazíamos o som dos instrumentos para ele, com ele.

Passamos a cantar em casa juntos e quando  ele já não pronunciava mais a letra, ficávamos no ritmo, "solfejávamos" com as mãos, e nos alegrávamos!

Estudando aqui e ali fui entender o poder real e científico da música. Ela pode fazer  uma  "ponte" para a realidade, para a consciência nas pessoas "demenciadas", ajuda a manter a qualidade de vida, colabora com a criatividade, desperta estímulos  para as atividades físicas, alivia dores, acalma mesmo pois libera dopamina, trazendo a sensação de bem estar. Além de ajudar na socialização das pessoas, que podem se agrupar, por determinados gostos musicais.

Meu paizinho foi cantado e encantado por música! Cantei com ele e para ele nas horas boas e cantei pra ele nas horas difíceis. Sussurrei músicas em seus ouvidos quando esteve na UTI e na minha ausência soube que cantaram para ele nossa música, nossa prece...

Hoje uma prece...

Para ele que se encontra em outra dimensão e uma prece para mim pois, quando a ouço inesperadamente, fantasio ser  enviada por ele para o meu coração.

Maria Iracema Nunes de Camargo - Pedagoga e Psicóloga Clínica voltada à Maturidade- Psicogerontologia  

Comentários

  1. A música tem poder transformador em nossas vidas.....nos remete ao passado e o trás a tona....as alegrias vividas, as tristezas doídas na alma, paz no coração....Amor ❤️...sim Maria Iracema....a música é uma Prece !

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada pelo belo comentário!
      A música une, elo de amor!
      Passarei seu comentário para a Maria Iracema.
      🎼🌹❤

      Excluir
  2. Maravilhoso ! Tudo isso me soa como uma "CANÇÃO de AMOR". Minha família também ama a Música.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Quinta da Saudade : Barracão de Zinco

Véspera de Natal e dia da famosa quinta da saudade. E a data esse ano pede (deveria pedir sempre) reflexões sobre nossas atitudes e o que podemos fazer para melhorar, evoluir. Especialmente num ano de tantas perdas, em que muitas vezes tivemos de abrir mão de estar com quem amamos para preservá-los.  E Natal para mim, desde a infância teve uma atmosfera mágica : desde o decorar a casa, até acreditar no Papai Noel e esperar pela meia-noite sempre foi muito aguardado, e ainda é. Mas o papo aqui é música, e vou contar a história de uma serenata que me lembro ter participado ainda criança (década de 80)  lá no bairro do Embaú, em Cachoeira Paulista, no Vale do Paraíba. Todos os anos nos reuníamos entre familiares e amigos e o samba era o ritmo que fazia a trilha sonora das festas. Ali tocavam Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Originais do Samba, Beth Carvalho, Clara Nunes, Almir Guineto, Martinho da Vila e assim a noite corria. Uma tia avó, chamada Cândida (Vó Dolinha para nós), gostava mu

Black Jack celebra o amor em forma de rock'n'roll

Black Jack - banda taubateana conquista fãs no Vale do Paraíba e anuncia o lançamento do videoclipe do single "Celebrate Love" para setembro  Foto: Ian Luz Guitarras e bateria anunciam o fim de uma era de intolerância. Hora de praticar o bem ao próximo e quebrar o ciclo de vingança e de ódio. Um chamado para os fãs do bom e velho rock and roll . Este é o tema de "Celebrate Love", música da banda taubateana Black Jack, lançada no dia 13 de julho, Dia Mundial do Rock. Em setembro - próximo mês - será lançado o videoclipe da canção,  o single pode ser encontrado  em todas as plataformas digitais. A história do grupo começou em 2009, na cidade de Taubaté, no Vale do Paraíba, quando cinco amigos, todos com catorze anos, estudantes da escola Balbi- Unitau se reuniram e resolveram fazer um som. Desde então a banda passou por algumas mudanças e  atualmente, apenas dois integrantes originais ainda continuam na banda, Caio Augusto Rossetti  (baterista e backing vocal) e John

Entrevista: A Dança existencial de Sterce

  Fusão - Misturando Indie, Synth Pop e Alternative, cantora paulistana celebra o lançamento de seu terceiro single Foto: Divulgação A cidade de São Paulo ao anoitecer é um espetáculo para quem gosta de observá-la. Uma mistura de ritmos e luzes, com os sons dos carros e as iluminações dos prédios. E é da capital que nasceu Isabella Sterce, cantora e compositora que adotou o sobrenome como nome artístico. A artista de 21 anos busca por meio de sua música toda inquietação da juventude, trazendo à tona temáticas como sonhos, brevidade da vida e emoções diversas, abordando tudo o que não se vê mas se sente, misturando sonoridades e letras vezes melancólicas, vezes nostálgicas. Hoje a cantora lança "A Dança" seu terceiro single em todos os streamings, uma música que fala sobre a vulnerabilidade de existir em meio ao caos e sobre encarar a jornada da vida como se esta fosse uma coreografia a ser desenvolvida. Além do single entra no ar o videoclipe que pode ser conferido no canal