Hoje comemoramos o Dia Internacional da Mulher, uma data que foi oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1970 como forma de registrar a luta histórica das mulheres na reivindicação de condições salariais iguais aos dos homens. Também se colocavam contra o machismo e todo e qualquer tipo de violência.
Sabemos que infelizmente esta luta ainda segue e os casos de violência (física, verbal ou psicológica) ainda são manchetes dos noticiários. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) no ano de 2020 foram registrados 120 mil casos de lesão corporal em decorrência de agressões domésticas.
Em todas as profissões as mulheres encontram dificuldades para serem inseridas no mercado de trabalho : existe além do preconceito o dilema de se dividir entre o trabalho, a casa, os filhos e muitas vezes o casamento.
Na música não é diferente: musicistas são vítimas de preconceito a todo momento e para homenagear essas mulheres que assim como Euterpe (musa da música na mitologia grega) nos trazem com suas artes música e alegria, farei aqui no Falando em Sol uma série em homenagens às nossas musas brasileiras.
Vou começar com a primeira musicista, maestrina e pianista "chorona" brasileira: Francisca Edwiges Neves Gonzaga, nascida em 17 de outubro de 1847 no Rio de Janeiro. Seu pai era um general do exército com uma filha de escrava e na infância teve uma educação primorosa para que se tornasse uma dama da sociedade carioca. Tinha como padrinho de batismo Duque de Caxias e como professor de piano o Maestro Lobo.
Chiquinha Gonzaga, como a conhecemos compôs sua primeira canção aos onze anos : "Canção dos Pastores" para um Natal em família. Ainda jovem gostava de frequentar rodas de lundu, umbigada e de ritmos africanos (que estavam no seu sangue). Porém, aos 16 anos foi obrigada a se casar e o marido a impôs que abandonasse a carreira, fato que a jovem não aceitou. Se separou e novamente se casou mas queria muito viver de sua música e este segundo casamento também não lhe dava a abertura necessária.
Mais uma vez separada Chiquinha foi rejeitada pela própria família e teve de abrir mão da guarda de 3 de seus filhos, já que na época ainda não existia o divórcio no país. A rejeição era tamanha, que muitos dos meninos que vendiam as partituras da artista pela rua as tinham rasgadas por ordem de seu pai. Mas a valente pianista que era não se abalava: durante o Carnaval era obrigatoriamente ouvida por todas as ruas do Rio.
Compôs seu primeiro sucesso "Polca Atraente" em 1877, um clássico que anos mais tarde foi regravado pelo mestre Pixinguinha. Em 1885 se consagrou como a primeira maestrina a reger uma Orquestra no Brasil .
Alguns anos depois estava assistindo de sua casa o ensaio do Cordão Rosas de Ouro e inspirada compôs " Ô Abre Alas", a primeira marchinha de Carnaval com letra de que se tem notícia no nosso país. Em 1912 apresentou a burleta (uma comédia musical) "Forrobodó" que trazia a belíssima canção Lua Branca.
Aos 52 anos conheceu João Batista Bernardes, um jovem estudante de música por quem se apaixonou. Mas a diferença de idade era grande e não aprovada pelos filhos da musicista o que a fez adotar o rapaz e viver seu grande amor em Portugal, longe de todos. O romance só foi revelado após a morte de Chiquinha Gonzaga em 1935 com a descoberta das cartas de amor que trocavam.
Nossa primeira maestrina nos deixou no início do Carnaval daquele ano e segundo sua biógrafa a socióloga Edinha Diniz: "sua desobediência se refletia na sua arte: quando libertava a si mesma, libertava também a música."
Abrimos a semana com " Ô Abre Alas" porque nós mulheres queremos passar!
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