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Carta para o Professor: Um Brasil "Paratodos"

 Meu Caro Professor Sérgio...

O senhor não me conhece. Não fiz USP tampouco UnB. Mas temos um conhecido em comum: seu orientando José Sebastião Witter foi gestor da área de humanas da Universidade de Mogi das Cruzes, onde tive ótimos Mestres "comandados" por ele. Assim são os grandes mestres: por onde passam deixam a semente do conhecimento. A árvore cresce e dá frutos, numa sequência orgânica.

Fui aluna ainda dos sobrinhos do Professor Witter nas matérias de Língua Portuguesa e História. Meus Professores de História e Geografia (todos, sem exceção) tinham como base para nos ensinar o livro "Raízes do Brasil" e desmistificaram muitos fatos da História do País.

Mas nem todos os brasileiros tiveram a sorte que eu tive de ter bons mestres.

 Ou não prestaram a mesma atenção que prestei nas aulas. Aliás uma vez um destes mestres me mandou para fora  da sala de aula porque eu estava muito quieta. Quando indaguei qual o problema de estar quieta ele me devolveu : é porque está pensando. Quando você pensa é perigoso.

E ele tinha razão. Quando se entra no plano das ideias e se tem conhecimento de História dependendo do feitio da pessoa pode ser MUITO perigoso. Quando se tem o domínio da linguagem  escrita então pior.  Aliado a  meios de comunicação pode-se comandar uma massa. E quem não se dá ao trabalho de enxergar com "olhos de ver" se põe em situação de risco.

A coisa aqui está  literalmente "preta". Estamos em luto. Mais de 500 mil vidas se foram por brasileiros que foram colocados a mercê de um vírus e da desinformação. Usaram nossa Língua Pátria para manipular fatos e distorcer a História do Brasil. Professores foram tidos como inimigos do povo e jornalistas como nós então...

Mas de tudo isso a única coisa que me passava pela cabeça era o silêncio dos bons. Assim como na frase de Luther King este sim é preocupante. Me preocupei com o silêncio de teu filho. Ele que com a música me ensinou tanto sobre o jogo de ideias e palavras pela luta por um país livre da opressão e de uma sociedade autoritária estava calado.

Também pudera. Fomos divididos em dois grupos: se concordar pode usar a cor da bandeira. Quem discorda leva um carimbo vermelho na testa. Se seu orientando estivesse aqui na Terra explicaria pela lógica do futebol: nos tornamos um Fla x Flu ou melhor num BRx URSS (CN). Mas sem fair play!

O senhor já imagina onde colocaram Chico. No time adversário, sem direito a jogar solto como ele gosta.  Entretanto, finalmente o povo parece ter despertado diante tantas mortes: mais de 500 mil!!!!! 

E o último sábado dia do aniversário dele  ficará registrado na História: 19 J. Teu menino foi às ruas, abraçado pelo povo. Sem time, sem partido, sem armas . Na luta por um país democrático, livre de tiranias e em favor da vida.

É,Mestre. Temos ainda um longo caminho e só existe um : a Educação libertadora como pregava Paulo Freire . Só com ela teremos um Brasil "Paratodos".

Termino esta carta, pois  aqui na Terra há muito choro. Mas na esperança por dias melhores.

Gratidão pelos ensinamentos.

Tatiana.



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