Pular para o conteúdo principal

Quinta da Saudade : Mario Zan

" Anarriê !
 Caminho da roça!
Olha a cobra...
É mentira!!!!"

Nasci no mês de junho, em um feriado de Corpus Christi. Desde pequena fui fascinada pela montagem do tapete do Divino e pelas festas juninas.  Tanto que os temas do meu aniversário sempre foram com bandeirinhas e eu vestida a caráter. 
As festas juninas surgiram na Europa (Portugal e Espanha) durante o período de solstício (mudança da primavera para o verão) quando era comum rituais considerados pagãos para afastar os maus espíritos e as pragas das colheitas. 
Afim de catequisar os povos a festa foi incorporada ao calendário cristão. São  celebrados três santos : Antônio (dia 13), João (hoje, dia 24) e Pedro ( dia 29). A comemoração veio para o Brasil no século XVI e ganhou elementos comuns da zona rural e da cultura indígena como os quitutes preparados com milho e o hábito de se vestir de caipira. Sem contar a tradicional barraca do beijo, o correio elegante , a pescaria e a cadeia.
Quando criança aguardava ansiosamente pelo dia da Festa Junina. Lá ia eu de maria chiquinha, pintinhas (embora naturalmente tivesse sardas), rouge marcado e batom (era a chance de usar uma cor mais forte).  
Na pré-adolescência uma onda country chegou no país. Minhas colegas de sala já não queriam mais se vestir de caipira (era coisa de criança). A Professora de Educação física fez uma quadrilha com as vestes típicas dos americanos (bota, jeans e chapéu para todos).
Não quis dançar, e ela que já me conhecia de outros junhos veio conversar comigo. Fui clara: gosto da outra música. Era de "Festa na Roça" , canção de Mario Zan que eu sentia falta. 
Mario Giovanni Zandomeneghi  era um acordeonista italiano que veio para o Brasil na década de 1920 e se instalou na região de Catanduva. Era uma delícia ouvir suas músicas, populares nas festas juninas.
O músico italiano foi considerado por Luiz Gonzaga o verdadeiro "Rei da Sanfona". Chalana, qua conhecemos na voz de Almir Sater é de autoria dele.
A professora entendeu minha reclamação. Me encaixou na quadrilha dos anos anteriores. Porém eu sempre fui alta e ela me arrumou um par que faltou no dia (isso acontecia comigo todos os anos : os meninos que iam dançar comigo faltavam). Uma colega vestida de homem estava também sem par : ninguém queria dançar com ela. Eu nunca me importei e disse a ela : vamos dançar!
Mas na hora  que a professora gritou :olha a cobra...
Fomos as duas pro chão!
Foi mais divertido ainda. (rs)
Hoje minha quinta da saudade vai buscar " Festa Junina", de Mario Zan!
"Vai virar jacaré... é mentira!"





Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Djavan e Eles

Pétala - dia de celebrar o cantor e compositor muso deste blog e de muitos outros poetas e escritores Foto: Tati Valente Dia de Djavanear o que há de bom. Os leitores do Falando em Sol já estão cansados de saber o apreço que tenho pela obra do alagoano Djavan Caetano Vianna, e que todo ano, esta data aqui é celebrada em forma de palavras. O que posso fazer, se Djavan "invade e fim"? Para comemorar seu 76º aniversário, selecionei cinco momentos em que ele dividiu cena com outros nomes da música popular brasileira. O resultado: um oceano de beleza. Tudo começou aqui. Este foi o meu primeiro contato com Djavan e tenho a certeza que de toda uma geração que nasceu nos anos 1980. Ele é Superfantástico! Edgard Poças...obrigada por isso... Azul é linda, amo ouvir e cantar até cansar...  Com Gal e Djavan então...o céu não perde o azul nunca... Esse vídeo foi em um Som Brasil, no ano de 1994. Desculpem, posso até parecer monotemática, mas Amor de Índio é linda. Mais linda ainda com est...

Quinta da Saudade : Barracão de Zinco

Véspera de Natal e dia da famosa quinta da saudade. E a data esse ano pede (deveria pedir sempre) reflexões sobre nossas atitudes e o que podemos fazer para melhorar, evoluir. Especialmente num ano de tantas perdas, em que muitas vezes tivemos de abrir mão de estar com quem amamos para preservá-los.  E Natal para mim, desde a infância teve uma atmosfera mágica : desde o decorar a casa, até acreditar no Papai Noel e esperar pela meia-noite sempre foi muito aguardado, e ainda é. Mas o papo aqui é música, e vou contar a história de uma serenata que me lembro ter participado ainda criança (década de 80)  lá no bairro do Embaú, em Cachoeira Paulista, no Vale do Paraíba. Todos os anos nos reuníamos entre familiares e amigos e o samba era o ritmo que fazia a trilha sonora das festas. Ali tocavam Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Originais do Samba, Beth Carvalho, Clara Nunes, Almir Guineto, Martinho da Vila e assim a noite corria. Uma tia avó, chamada Cândida (Vó Dolinha para nós), g...

Bituca é Nosso!

Cara Academia do Grammy. Fica aqui nossa indignação pela forma como nosso Milton Nascimento foi recebido no evento de ontem. Sem mais, Tatiana Valente, editora responsável pelo Falando Em Sol.