Comecei o curso de Comunicação Social em 2002. O primeiro ano era básico para todas as habilitações : teríamos de escolher uma tese para defender dentro de uma corrente que estudasse o processo de comunicação.
Era um projeto muito ousado chamado Balcap comandado pelo Professor Armando Sérgio que também ministrava aulas no Curso de Artes Cênicas da Universidade de São Paulo.
Eu era apaixonada pela Festa do Divino Espírito Santo de Mogi das Cruzes que une o religioso e o folclórico e tinha decidido que faria uma análise da festa pela Folkcomunicação, uma corrente que defende o folclore e suas manifestações (música, festas, artes) como meio de comunicação.
Lá fui eu no mês de maio coletar toda informação necessária para poder fazer meu projeto até que observei que na quermesse tocava "Funk".
A festa tem como tradição executar durante a quermesse a canção "Os devotos do Divino" (de Ivan Lins e Vítor Martins) e normalmente leva duplas caipiras da região e artistas conhecidos para tocar no palco principal.
Na minha "concepção" o fato de tocar Funk poderia descaracterizar da festa. Montei minha tese e não levei em conta o que tinha aprendido nas aulas de Sociologia: como comunicadores temos de nos isentar do juízo de valor (em outras palavras nos despir de preconceitos).
No dia da apresentação da primeira parte do projeto (que valia nota bimestral de todas as matérias) recebi a informação que teria de refazer meu trabalho. Minha orientadora Cristina me passou o nome de alguns livros que teria de ler para reformular meu trabalho pois estava carregado de juízo de valor. Dentre os autores Marilena Chauí e Luiz Beltrão - foi uma imersão de um mês de leitura e passei parte de meu aniversário de 21 anos reescrevendo meu trabalho.
Meu preconceito me deixou de recuperação : não é porque o Funk é um fenômeno da cultura de massa é que deve ser desprezado. É fruto da cultura de um povo.
As partes religiosas e folclóricas da festa (as procissões, a alvorada, a Entrada dos Palmitos, a apresentação dos grupos de Congada, Moçambique e Marujada) não sofriam alteração com a execução do estilo musical do qual vou falar mais neste sábado.
Trabalho refeito, tirei nota máxima e meses mais tarde recebi uma menção honrosa e a notícia que teria minha tese inscrita num Congresso Nacional de Folkcomunicação e apresentaria meu trabalho e minha cidade para especialistas de todo país.
Mas eu não sei o porquê de minha implicância com o funk já que em 1997 me apaixonei por uma dupla chamada Claudinho e Buchecha que me apresentou ( além de uma coreografia divertidíssima) o " Funk Melody" que cantava o amor no ritmo dançante carioca.
Foi paixão à primeira ouvida: aqueles rapazes de origem humilde de São Gonçalo me apresentaram inúmeras canções que me fizeram dançar e cantar junto. Dentre os hits da dupla o " Funk do Salgueiro", " Só Love", " Nosso Sonho", "Xereta", " Carrossel de Emoções". E me ensinaram que a música pode transformar a vida de meninos como eles.
Em 2002, um mês após ter reapresentado meu trabalho na faculdade a dupla fez um show em Lorena. Claudinho estava em seu carro e resolveu voltar para o Rio de Janeiro na mesma noite com seu empresário. Sofreu um acidente na Rodovia Presidente Dutra e infelizmente nos deixou. MC Buchecha continua na ativa, em memória do grande amigo e parceiro.
Minha saudade hoje é de Conquista, uma das primeiras músicas da dupla que me encantou.
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