Pular para o conteúdo principal

Quinta da Saudade : quando conheci Circuladô de Fulô



Um mix delicioso de forró e reggae: Circuladô de Fulô
Foto: arquivo pessoal



Eu tinha uns 20 e poucos anos e quando botava uma coisa na minha cabeça não tinha jeito. Naquela época já trabalhava e além de sustentar  meu amor pela música tinha o hábito de comprar revistas. Não era mais uma adolescente leitora da Capricho, já me achava uma mulher (rs). 

Lia Marie Claire, Claudia e a Nova ( Cosmopolitan) que ao contrário do que muitos falavam não trazia somente as últimas posições do Kama Sutra. Ali tinha muita entrevista interessante, histórias de superação e de mulheres que não tinham vergonha de ser quem eram. Além de inúmeras dicas de beleza e produtos que prometiam resultados já testados pelas jornalistas da revista.

Foi numa dessas que vi um shampoo com aroma de chocolate, que segundo a resenha " deixava os cabelos macios e cheirosos como um danone muito famoso". Pronto. Confesso a vocês um vício do qual não me envergonho: sou louca por chocolate. A ponto de sair à noite para comprar uma trufa pois não aguentava de vontade. Hoje estou curada (rs). Daí coloquei na cabeça que queria muito esse shampoo. Vasculhei as lojas de cosméticos de Mogi e não encontrei. Minha amiga Renata, moradora de Arujá me ligou (como fazia sempre) e contei a ela minha saga.

" Tati, aqui tem uma loja pequena mas é possível encontrar shampoos diversos, trazem de São Paulo, tem até os importados, vou dar um pulo lá  e te retorno...", me animou minha amiga.

E não é que tinha mesmo...

Peguei o ônibus e em 15 minutos estava em Arujá, de posse do meu shampoo que não era caro e o cheiro era idêntico ao que prometia a resenha. Almocei com minha amiga e como fazíamos sempre falamos sobre a vida, amores, desamores, literatura e o que mais gostava:  divagávamos sobre qualquer assunto. Renata é filha de nordestinos e traz em seu sangue o amor pela cultura de seus pais e o dom de tocar sanfona como o pai (inclusive tem uma página no Instagram : @sanfonateixeira)

Me levou até a rodoviária e lá o som da zabumba era sempre presente- a cidade tem muitos nordestinos. De repente começou a tocar "Tudo Azul" do Lulu em ritmo de forró. Parei. Não era ele, coisa que já tinha visto em show. Desta vez era um mix de forró e reggae. Estava na fila de embarque de frente para o ônibus e de posse de minha passagem esperando o motorista chegar. Me lembro que disse a ela:" preciso deste CD" . Ela, amante de um bom forró me encorajou:

" Corre que eu espero o ônibus e falo com o motorista!" já rindo muito.

Cheguei na pequena loja e disse: "quero esse CD  que está tocando, mas tem que ser rápido porque meu ônibus vai sair!"

Acho que o vendedor não entendeu nada. Me entregou o CD (nem perguntei o preço, paguei sem pensar).  O fato foi que cheguei a tempo de embarcar. Abracei minha amiga e o motorista me perguntou é forró? (rs)

Era Circuladô de Fulô, uma banda de forró universitário paulistana que em seu primeiro álbum trazia hits como " Tudo Azul" ( Lulu Santos) ;"Te Ver" ( Skank); " Magamalabares" (Brown e Marisa Monte );  "Presente de um Beija-Flor" ( da brasiliense Natiruts); e um medley com " É Proibido Cochilar/ De Tamanco Mulher/ Rosinha .  Além de " Meu Cenário" (meu xodó); " O Sol, a Lis e o Beija-flor" (música com a qual "estouraram" nas rádios); "Vem me Ver"; " Pode Sim"; " Praia dos Pescadores"; " Som de Bob" e "Ao meu Lado é o seu Lugar".

Sentada na poltrona número 5 abraçada com meu shampoo, saquei meu discman da bolsa e acenei para minha amiga da janela (ela já conhecia minhas loucuras e se divertia) . A primeira música era "Águas Mansas" uma composição de Marco Ferraz  que fala sobre saudade e é pra onde meu vai meu  #tbt  hoje!

" Joga lenha na fogueira cinzas de saudades vão ficar. O amor que eu lhe devo deixe que eu vou pagar... Solta um beijo pra cá, deixa o vento levar...











Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Quinta da Saudade : Barracão de Zinco

Véspera de Natal e dia da famosa quinta da saudade. E a data esse ano pede (deveria pedir sempre) reflexões sobre nossas atitudes e o que podemos fazer para melhorar, evoluir. Especialmente num ano de tantas perdas, em que muitas vezes tivemos de abrir mão de estar com quem amamos para preservá-los.  E Natal para mim, desde a infância teve uma atmosfera mágica : desde o decorar a casa, até acreditar no Papai Noel e esperar pela meia-noite sempre foi muito aguardado, e ainda é. Mas o papo aqui é música, e vou contar a história de uma serenata que me lembro ter participado ainda criança (década de 80)  lá no bairro do Embaú, em Cachoeira Paulista, no Vale do Paraíba. Todos os anos nos reuníamos entre familiares e amigos e o samba era o ritmo que fazia a trilha sonora das festas. Ali tocavam Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Originais do Samba, Beth Carvalho, Clara Nunes, Almir Guineto, Martinho da Vila e assim a noite corria. Uma tia avó, chamada Cândida (Vó Dolinha para nós), g...

Djavan e Eles

Pétala - dia de celebrar o cantor e compositor muso deste blog e de muitos outros poetas e escritores Foto: Tati Valente Dia de Djavanear o que há de bom. Os leitores do Falando em Sol já estão cansados de saber o apreço que tenho pela obra do alagoano Djavan Caetano Vianna, e que todo ano, esta data aqui é celebrada em forma de palavras. O que posso fazer, se Djavan "invade e fim"? Para comemorar seu 76º aniversário, selecionei cinco momentos em que ele dividiu cena com outros nomes da música popular brasileira. O resultado: um oceano de beleza. Tudo começou aqui. Este foi o meu primeiro contato com Djavan e tenho a certeza que de toda uma geração que nasceu nos anos 1980. Ele é Superfantástico! Edgard Poças...obrigada por isso... Azul é linda, amo ouvir e cantar até cansar...  Com Gal e Djavan então...o céu não perde o azul nunca... Esse vídeo foi em um Som Brasil, no ano de 1994. Desculpem, posso até parecer monotemática, mas Amor de Índio é linda. Mais linda ainda com est...

Quinta da Saudade : A Trilha Sonora de Renascer

   Crush - Marcos Palmeira foi a capa do primeiro álbum da trilha sonora da novela de Benedito Ruy Barbosa Foto: Reprodução LP  Nem preciso dizer para vocês o quanto estou feliz. Ando desanimada com o rumo que a teledramaturgia vem tomando no país. Temos ótimos artistas e as novelas dos últimos tempos não prendem minha atenção. Sou noveleira assumida. Tanto que já -tá, podem rir ou me xingar a escolha é de vocês- deixei de sair de casa e já perdi paqueras por preferir assistir ao capítulo de uma novela. Vivi o romance dos personagens e deixei o meu pra outra menina viver. Mas desde segunda-feira este coração romântico bate com mais alegria após o Jornal Nacional: a minha novela xodó Renascer está de volta, depois de 20 anos. Era uma menina  entrando na adolescência quando me encantei pelo romance do "Coronelzinho" por Maria Santa. Leonardo Vieira e Patrícia França eram lindos de se ver em cena, e os atuais protagonistas Duda Santos e Humberto Carrão me mostraram ao s...