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29ª edição do Samba das mulheres começa neste sábado

 


Samba das Mulheres traz oficinas, debates e música a partir de 11 a 19 dezembro
Foto: Lethícia Galo





Protagonismo de mulheres na cultura, representatividade, muita música e a formação de uma grande roda online. Tudo isso e muito mais é o que se pode esperar da 29ª edição do Samba das Mulheres, que será realizada durante todo o mês de dezembro. Segundo festival realizado pelo grupo, o evento tem o apoio do Programa de Fomento à Cultura de Mogi das Cruzes (Profac) e também da Prefeitura de Mogi das Cruzes e inclui ainda debates e outras atividades. Toda a programação é online, gratuita e aberta para pessoas de todas as idades e será exibida no Facebook e no Canal do YouTube Dona da Rua de 11 a 19 de dezembro. A programação está disponível no Instagram @sambadasmulheres.

Sempre de maneira digital, sem limite de público e com tradução em Língua Brasileira de Sinais (Libras), serão dois pocket shows gravados por dois grupos de samba femininos que nasceram no Samba das Mulheres. O primeiro deles será protagonizado pela formação ‘Samba M’, que busca evidenciar “o protagonismo da mulher negra no samba mogiano”.

Com artistas atuantes na comunidade de Samba do Bairro de Brás Cubas (Elci Souza - voz e percussão; Raquel Ribeiro - voz e pandeiro; e Vitória Moura - percussão e voz), o grupo fará uma animada apresentação regada à samba rock e outros estilos.

Já o segundo pocket show será do grupo Dona da Rua. As artistas Helô Ferreira, Juliana Rodrigues e Lívia Barros interpretarão canções originais com temas da militância feminista e negra na música. Em letras como ‘Que Venha em Mim’, ‘Filha da Luta’ e ‘Justiça’ elas buscam trazer reflexões acerca das múltiplas opressões vividas por mulheres.

Além destes concertos, será formada uma “Grande Roda” de “samba, literatura e debate”. Em formato “super live”, as integrantes do projeto se revezarão, dialogando sobre suas vivências e mostrando sua arte.

Esta agenda contará com números musicais solos de participantes do projeto, leitura de poemas e outras produções literárias de mulheres e pessoas trans, bem como debates sobre gênero, negritude, cultura popular, intolerância religiosa e políticas públicas voltadas para a juventude.

“O samba historicamente é lugar simbólico onde o povo negro se viu representado em suas lutas. Nas rodas de samba de bairro, nas comunidades, nos terreiros, temas caros para o povo negro sempre foram abordados, tanto nas canções quanto no exercício de construção de identidades”, afirmam as organizadoras, em defesa de uma produção cultural como essa, possibilitada pelo Profac.

Sendo assim, a “Grande Roda” pretende convidar mulheres em diferentes áreas de atuação que possam, “além de cantar, tocar ou ler poemas, também falar sobre pautas como LGBTQI+fobia, direitos das mulheres, discriminação de gênero, discriminação racial, educação antirracista, religiões afrodescendentes e manifestações afrodiaspóricas da cidade”.

Já estão confirmadas as participações da professora da rede pública e militante em movimentos locais Mari Mendes; do instrumentista, cantor e compositor Lyan Silva; da cantora, compositora poeta e praticante do candomblé Raquel Ribeiro; da cantora, compositora, produtora e professora Bruna Oliveira; da mestra da Congada Santa Ifigênia Mestra Laine; e da cantora Regiane Pomares.

Entre os temas abordados nestas conversas estarão juventude, gênero, sexualidade, negritude, representatividade trans na roda de samba, periferia, intolerância religiosa e educação.

A ideia é revelar a potência da roda Samba das Mulheres, assim como acontecia presencialmente na Associação Cultural Casarão da Mariquinha e em outros endereços (leia mais abaixo). Por isso, a 29ª edição do Samba das Mulheres conta, ainda, com uma oficina sobre o Plano Municipal de Cultura, voltada para formação das mulheres artistas da cidade.

Quem apresentará esta atividade será a arte-educadora e co-fundadora da companhia Clara Trupi de Ovos y Assovios, Thalita Benigno. O objetivo da ação, que estará gratuitamente no YouTube e plataformas similares, com classificação indicativa livre, é “oferecer subsídio formativo para a população em geral com enfoque no grupo social a que pertence a maioria das integrantes do projeto”.

Ao longo da oficina (que assim como os pocket shows) terá tradução em Libras, os participantes entenderão o que é e qual a função do Plano Municipal de Cultura; como as mulheres são contempladas neste documento e como ele pode ser um instrumento de fortalecimento da representatividade feminina. Também será abordado o Programa Diálogo Aberto e sua participação social na construção e implementação de Políticas Públicas Culturais em Mogi das Cruzes.

História

Foi o “desejo de ver e ouvir mulheres ocupando lugares físicos e simbólicos da cidade”, como as tradicionais – e majoritariamente masculinas - rodas de samba, que deu luz ao Samba das Mulheres, há seis anos.

Em 2015, portanto, foi formada a primeira roda do Samba das Mulheres, com participação de Seu Eurico (mestre mogiano do choro) e Jorge Liberato. Depois disso, entre março de 2017 e dezembro de 2020 foram realizadas 28 edições do encontro musical com organização da cantora e compositora Lívia Barros e claro, com a parceria de muitas mulheres e homens ao longo dos anos. Recentemente, o projeto ganhou novo formato e passou a ser um festival, o que se repete agora em 2021.

A principal característica de todos estes encontros foi a diversidade cultural, social e racial. Mas as organizadoras lembram que, apesar disso, as ações pensadas pelo projeto não se limitavam apenas a um discurso de tolerância, e sim à prática efetiva de ações de representatividade que incluíam diversas linguagens e debates para além da música.

Seja nos inúmeros eventos realizados no saudoso Casarão da Mariquinha (espaço cultural que fechou as portas em 2019), ou nas atividades mais recentes, estas características nunca foram deixadas de lado. Exemplo disso é o edital nº 019/2020 da Prefeitura de Mogi das Cruzes, que premiou diversos projetos culturais. Entre eles, o primeiro festival Samba das Mulheres.

Naquele momento, a contrapartida foi a realização da 28ª edição do evento, repleto de novidades. Compositoras, cantoras e instrumentistas de Mogi marcaram presença em entrevistas, bate-papos e números musicais realizados de forma remota. Os encontros abordaram a vida e obra de cinco mulheres representativas do samba: Leci Brandão, Alcione, Ivone Lara, Jovelina Pérola Negra e Elza Soares.

Em 2020, devido a pandemia de Covid-19, toda a programação foi digital. O aprendizado do ano passado se repete agora, em 2021, quando, um ano depois, a 29ª edição do evento será novamente digital, mas ainda maior e mais abrangente.

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