Quando comecei o Falando em Sol não tinha no meu celular nenhuma plataforma de streaming. Aliás sempre fui um tanto lenta para os avanços tecnológicos: fui conhecer um computador em 1996, quando no colégio no qual estudava entrei para o curso de Redator Auxiliar. Até então, convivia no meu quarto com uma pequena máquina de escrever- foi estranho não ter de prensar uma lauda ou ficar sem brigar com a fita enroscada.
O fato é que agora conto com duas plataformas de música no meu telefone, e uma delas me indicou que ao longo de um ano ouvi mais de 2800 músicas. Adoro buscar uma música e deixar que o próprio aplicativo me direcione para uma "playlist". Para a minha surpresa fui acariciada dia desses por " Vou- me embora", uma música de autoria de Roberto José e Paulo Diniz (que também a interpreta).
Paulo Diniz é um compositor, cantor , locutor de rádio e televisão, natural de Pernambuco. Começou carreira no ritmo do iê-iê-iê da Jovem Guarda e depois abraçou o soul, a Tropicália e a MPB. Foi em 1970 que lançou um de seus maiores sucessos " Quero voltar para a Bahia", uma homenagem para Caetano Veloso, exilado em Londres.
Dois anos depois se dedicou a musicar versos de poetas como Gregório de Matos, Manuel Bandeira, Augustos dos Anjos, Jorge de Lima e Carlos Drummond de Andrade. E foi no álbum E agora José, lançado em 1972 que lançou a música " Vou-me embora" que semana passada me levou de volta para 1993, primeira vez em que me lembro de tê-la ouvido.
Neste ano tive meu primeiro conflito com a morte. Cresci vendo velórios realizados nas salas das casas (na época as cidades de Cruzeiro e Cachoeira Paulista não tinham um local para os velórios). Era algo natural, não eram pessoas tão próximas. Até que perdi minha avó materna, tão doce, que me enchia de mimos e carinhos. Foi muito doído. No caminho de volta para Mogi, ouvíamos uma fita cassete com seleções de discos que meu pai gravava. Os versos de "Vou-me embora" ficaram na minha cabeça: "cuidar da minha vida que a morte é certa".
É como no Auto da Compadecida de Suassuna:" encontrar-se com o único mal irremediável". Mas dói muito, é o latejar da ausência física de alguém que muito amamos . Porém existe uma falta que também dói exageradamente: a de se deixar morrer a fé, a esperança. Esta é a morte em vida.
No Tarot a carta da morte embora assustadora, não tem um significado ruim: é anúncio de algo novo por vir . E muitas vezes precisamos deixar algo morrer para um recomeço - como na canção de Diniz, "encantar a vida ou desencantar a morte" pra poder "buscar a sorte". Uma das lições de 2021, já que o próximo ano está quase aí.
E agora, Paulo Diniz? Por quais caminhos iremos?
Enquanto não decidimos é pra essa saudade que minha quinta vai levar vocês...
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