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Quinta da Saudade : O swing do Bragadá e o segredo do guaraná axé...

 " É professora. A senhora briga comigo porque já estou marcado mesmo. Quem vê a Tati com essa carinha de anjinha não sabe o que ela aprontou em Porto Seguro. Era só tocar um axé que ela quebrava todas ", disse meu colega em tom de ironia.

" Pois é, lá era lugar pra ela fazer isso. Aqui ela se comporta como uma ótima aluna", devolveu minha professora numa classe invejável.

Aproveitei que ela tinha se virado de costas e mostrei gentilmente meu dedo médio para meu colega, fazendo a sala inteira "cair" na gargalhada. Esse era meu modo de resolver bullying. Mandava pra onde quer que fosse quando falavam do meu cabelo, ou vinham com gracinhas. E nem por isso os meninos tinham raiva de mim, afinal eu me dava bem com todo mundo era só não me provocar. 

Muitas vezes estava na minha com meu "discman" ou com as meninas que tinham um modo de pensar parecido com o meu, mas elas não foram pra Porto Seguro, destino certo para celebrar a formatura do Ensino Médio.

Eu queria muito ir: minhas primas mais velhas voltavam contando maravilhas sobre o local, as pessoas e as músicas. Na época a axé music estava em alta e as coreografias eram fantásticas. Mas uma nerd que só usava preto e camiseta de banda em Porto Seguro?

Fui e logo na porta do ônibus ouvi um pai de um colega recomendando a ele que não bebesse, que não fosse na onda dos outros e que cuidasse de mim. Ouvi e pensei: eu vou cuidar deles com certeza. Batata.

Com medo do vexame que a bebida me causaria não ousei, só tomei coca-cola . Nem o "capeta", bebida doce que misturada com a cerveja rendia vômitos infinitos para as minhas colegas. Eu estava lá segurando os cabelões para que pudessem aliviar o mal estar. Beijar era o verbo: eles apostavam quem beijava mais em uma noite. 

Eu era muito reservada quanto a isso. Só ia beijar quem eu gostasse e quem eu gostava nem olhava pra mim. Então decidi aproveitar a viagem de acordo com o que eu amava: a música.

Aprendi a tocar atabaque e todo fim de tarde ia para a Passarela do Álcool onde os vendedores de berimbau ensinavam a quem quisesse aprender. Não só aprendi como voltei com um berimbau de lá (mas essa história conto outro dia). 

E claro dancei muito. O hit daquele ano era a dança da manivela e eu sabia todas as coreografias. Carla Perez morreria de inveja.

Lá pelo quarto dia de viagem todo mundo já estava esgotado. Num dos passeios paramos em uma barraca que vendia "guaraná axé", uma bebida africana que misturava ervas, pó de guaraná e segundo a vendedora "levantava defunto".

Pensei "ah não é alcóolico", vou tomar. Comprei um copo e ouvi dela que deveria dividir com um colega afinal era forte. Era docinho, delicioso. Tomei tudo.

Tati, que nasceu ligada nos 220 voltz duplicou a voltagem. Fiquei "ligadaça". Enquanto os colegas dormiam ou vomitavam nas escunas eu estava lá com os dançarinos fazendo todas as coreografias. Minha cintura ganhou uma mola como a dos moradores da cidade e a "branquinha" ficou conhecida, dando axé pra todo mundo.

E nessa aprendi a dançar o "Buribai", da  Bragadá, que depois se tornou Braga Boys, uma banda de percussão que  me fez dançar. E ainda faz. É o que vou fazer assim que postar esse texto. É para 1998 que vou levar vocês hoje, para curtir esse samba reggae. 

Eu não resisto...




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