Era de praxe todos os anos recebermos nas escolas a visita da imagem do Divino Espírito e colaborarmos com alimentos não perecíveis para a realização da Festa do Divino Espírito Santo de Mogi das Cruzes. Como agradecimento recebíamos uma medalha com a imagem do Divino.
Embora a padroeira de Mogi das Cruzes seja Santana, o Divino Espirito Santo tem uma grande celebração que sempre acontece no mês de maio, após a Festa de São Benedito. São realizadas "alvoradas", procissões, a tradicional quermesse com quitutes só encontrados na nossa culinária como o delicioso "afogado" e os doces. A festa tem ainda a parte folclórica que me encanta desde pequena.
No último sábado da festa acontece a "Entrada dos Palmitos" . De origem portuguesa é uma celebração da colheita realizada no outono no qual desfilam grupos das comunidades, escolas, carros de bois com flores vermelhas, com legumes e verduras, cavaleiros, e todas as bandeiras: a cidade se veste de branco e vermelho (as cores do Divino) . Além dos grupos de marujada e congadas que com suas batidas e cantos faziam acelerar meu coração de menina que atenta via o pai transmitir cada detalhe do evento na rádio onde trabalhava. Era lindo ver em uma festa de origem católica a presença de elementos da cultura africana, de religião afro-brasileira: a essa união linda damos o nome de sincretismo.
Anos depois no primeiro ano de Jornalismo escolhi a Folkcomunicação como linha de estudo pra um projeto que tinha como objetivo a defesa de uma tese. Meu objeto de estudo, a maior festa da cidade, que misturava fé e cultura. Mal sabia eu que a mesma tinha sido estudada pelo modernista Mario de Andrade.
Neste ano já estava no Coral da Universidade e ao recebermos a visita da imagem do Divino e dos festeiros apresentamos algumas canções como "Calix Bento", " A nós descei, divina luz" e " Bandeira do Divino", de autoria do Ivan Lins.
No final de nossa apresentação a maestrina chamou a mim e a uma colega professora de música de crianças de uma escola da cidade para uma conversa com o capitão do mastro (líder religioso e responsável por cuidar da bandeira do divino). Tinha um recado: que zelasse por nossas vidas e vozes pois o Divino havia nos iluminado. Ninguém sabia da minha pesquisa ali, só eu.
Logo o grupo da congada começou a tocar e seguindo grupo com palmas me lembrei da menina que sentia o coração bater no ritmo das batidas dos tambores.
E é pra lá que convido vocês na minha quinta de saudade de hoje. Apresento a Congada de Santa Efigênia, que muito me emociona. Aliás ouçam com fones de ouvido. É possível encontrar os grupos de Congada da Cidade nos streamings.
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