"Papagaio da asa amarela
Corre e leve esse recado meu pra ela
Minha saudade não se rebate
Vai no grito estrangulado do meu canto..."
(Cátia de França- Coito das Araras)
Dia de #tbt.
Impossível não sentir saudade de algo na vida. E saudade é sentimento zombeteiro. Fica ali incomodando, um nó na garganta. Mas é um nó bom. Diferente do que sinto a cada vez que vejo os noticiários na TV.
Minha saudade é da minha menina que tinha a idade de meu filho mais velho. Com 11 anos era ainda uma moleca. Tinha carinha de criança, com sardas e era magrinha: de se ver os ossos da costela. Amava música e sua coleção de bonecas que ficavam em cima da cama eram suas "filhas". Tinha um "xodó" o pequeno André que ela carregava nos braços. Tinha uma boneca que quando na caixa não nada pra saber se era menino ou menina- só se descobria quando a fraldinha ia pra água e um papelão indicava o sexo. Daí se escolha o nome. Maternidade era só de brincadeira .
Tinha na parede quadros e posters da boyband que ela amava e cantava o amor. Um sentimento puro pra ela, traduzido no filme "Meu primeiro amor", estrelado por Macaulay Culkin. A história mostrava a bela amizade e inocência de duas crianças como ela .
Na escrivaninha de seu quarto, uma máquina de escrever onde além dos trabalhos escolares datilografava nas laudas suas histórias e matérias imaginárias sobre um mundo perfeito. Neste mundinho o medo existia. Mas era da prova de matemática e das contas complexas que não entravam em sua cabeça sonhadora.
O que ela gostava mesmo era de ser livre. De correr no mato, subir na goiabeira, nadar no rio, cair na valeta e viver suja de barro. Coisa que fazia quando estava no sítio da avó.
Talvez por isso ainda pequena tenha se apaixonado pela música "Coito das Araras" da compositora paraibana Cátia de França. Os versos da música falam sobre um sítio em Minas Gerais com palavras muito parecidas como as usadas por Guimarães Rosa e por João Cabral de Melo Neto - referências da compositora que tem a literatura na veia.
Minha menina também tem a literatura e a música na alma . A liberdade dela está descrita em trechos como " ainda guardo na boca, nos olhos, a visão da tua imagem; despenteada sorrindo, correndo pela rodagem..."
É como se pudesse ver aqui na frente minha Tatiana de 11 anos toda despenteada, correndo, livre e em paz . Como toda criança desta idade deveria ser e ter uma infância protegida por todos que a cercam . Principalmente pelas leis. Mas a menina, hoje mulher ainda sonha com um país onde todas possamos viver com dignidade e liberdade. Sem medos.
Vou dividir com vocês "Coito das Araras" da compositora Cátia de França, que conheci ainda na infância na voz de Amelinha. É pra lá que vai minha saudade hoje. No vídeo Cátia está acompanhada pela Orquestra Sinfônica da Paraíba.
Comentários
Postar um comentário