Não sou devota de nenhum santo. Não por preconceito ou por não crer. Acredito em tudo. Mas poderia dizer que em minha vida os "Antônios" foram presença constante e cada um me trouxe uma lição. Nasci de um Antônio e o segundo chegou na minha vida trazendo música e alegria.
Sou de Mogi das Cruzes mas recém-nascida -há quase 41 anos num feriado de Corpus Christi -fui para a casa dos meus avós maternos em Cruzeiro, no Vale do Paraíba. Um dia um assobio ao longo da estrada de terra anunciou a chegada de Totó Valente, filho de portugueses e pai de meu pai.
"Vim conhecer minha neta", disse ele.
Ali começava uma história de tempo curto mas com muito amor e música. Ele era um boêmio assumido: quando jovem tocava pandeiro nos bailes nas casas, amava música, vinho, bacalhau, viagens para a praia e acampar. Diziam que nos carnavais ele se vestia com as roupas das irmãs e brincava com um cachorrinho feito de pano. Cresci ouvindo que era assanhada pois era "neta de Totó". E ele gostava de me ver cantar e dançar.
Era daltônico e comprava presentes em azul (da cor de seus olhos) para mim, sempre levando broncas da esposa (minha avó por adoção) que lhe instruia dizendo que eu era uma menina e tinha de ganhar rosa. Mas nunca me importei e cresci não ligando para cores . Acho que por isso sempre gostei de usar preto.
Sabendo que gostava do programa Balão Mágico, exibido pela Rede Globo na década de 80 me deu uma fita cassete que me apresentou a turma toda e o incrível mundo do produtor Edgard Poças numa infância inocente e cheia de sonhos. E foi nessa que fui apresentada ao Djavan e ao "superfantástico" mundo da música. Eu era uma figurinha de cabelos dourados e cacheados que cantava, dançava e falava. Meu avô, já debilitado pela diabetes e pela vida dura de funcionário da DER (Departamento de Estradas e Rodagens) pegava o trem Rio- São Paulo e ia me me visitar em Mogi. Fazia questão de ir me ver. Ele dizia com sua voz anasalada :
" É minha neta", todo orgulhoso.
Mas se tem algo que os meus "Antônios" têm em comum é a teimosia. Eles não dão o braço a torcer. E meu avô teve uma vesícula rompida o que lhe causou uma infecção gravíssima. Na Santa Casa de Cruzeiro ao receber a visita de meus pais falou:
" Não sei se sonhei ou se vi a Tatiana dançando e cantando a música do Balão Mágico aqui no corredor", contou animado mas muito fraco.
Eu não estive lá. Criança não podia entrar e eu era uma pequena de 4 anos. No dia seguinte meu Antônio foi embora e me deixou além do sobrenome Valente, todo amor numa fita cassete que guardo com muito carinho até hoje.
E minha Quinta da Saudade hoje volta para 1983 quando a minha história com a música começou...
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