Era uma vez um menino de nome Israel que ainda pequeno participou de um projeto social no bairro de Peixinhos em Pernambuco, onde vivia. O Projeto Espiral, fundado pelo maestro espanhol Luis Soleil transformou o menino da comunidade em maestro que atualmente mora na Espanha. Anos mais tarde numa visita ao Recife contou sobre o sonho de realizar um projeto tal qual aquele que transformou sua vida : queria promover o ensino de música para as crianças de sua terra. Encontrou na Primeira Igreja Batista de Bultrins em Olinda o parceiro ideal para o projeto: Paulo César Pereira, que abraçou s ideia e recebeu inicialmente 25 alunos. Hoje atende 63 crianças e adolescentes entre 07 e 18 anos que aprendem música e cidadania.
" Entendo que toda igreja deve ter uma responsabilidade social. Deve ser inserida na vida dos moradores onde ela está situada. Não se pode anunciar um reino no céu se não se trabalha para se dar uma vida mais digna às pessoas que estão ao seu redor. Entendo que Deus deseja um mundo justo e igual para todos os homens e mulheres, independentemente de sua fé, crença, sexo, gênero ou raça. O projeto é um instrumento de resgate da dignidade por vezes perdida e também um meio de se promover a autonomia de cada pessoa em particular. Teologicamente entendo que o Reino de Deus começa aqui e que nossas escolhas devem começar pelos excluídos e mais fragilizados", afirma Paulo.
O projeto social "Orquestra de Câmara do Alto da Mina" teve seu início em 2015 numa pequena casa no bairro do Butrins em Olinda. No início contavam com apenas um violino, instrumento que pertencia ao Maestro Israel de França, que ganhou a companhia de violas, cellos e baixos acústicos que chegaram pelas campanhas realizadas para a arrecadação de novos instrumentos. Os ensaios acontecem todos os dias no período da tarde e uma cozinha foi preparada para oferecer um lanche consistente para os jovens músicos. Aos poucos professores voluntários se juntaram ao grupo para dar aulas dos diferentes naipes por duas vezes na semana.
O maestro Israel de França seguiu como coordenador artístico da orquestra e visita Olinda de duas a três vezes ao ano para interagir com os jovens e da Espanha acompanha e lidera a equipe de professores por meio de videoconferências. O projeto sonhado por ele e acolhido pela Igreja Batista sob a coordenação geral de Paulo César Pereira teve um grande impacto na comunidade de Alto da Mina - como a grande maioria das comunidades periféricas é marcado pela violência e pela falta de assistência do estado.
"O Alto da Mina ainda não é um bairro com autonomia, então os moradores na sua grande maioria ficam quase que completamente desamparados nos seus direitos como cidadãos. Na comunidade não há um posto médico, escola ou outros serviços oferecidos pelo poder público. O primeiro impacto positivo da orquestra é o sentimento de pertença. A comunidade passou a ter orgulho de si em virtude dos benefícios advindos de um projeto que nasceu na própria comunidade e que os alunos e alunas em suas grande maioria são nascidos no próprio bairro", conta Pereira.
Os benefícios nas vidas das crianças e adolescentes assistidos pelo projeto são inúmeros : o afastamento do consumo de drogas ilícitas; melhor rendimento escolar e acesso à diferentes profissionais que passaram a visitar o projeto como professores, psicólogos, advogados, juízes e desembargadores voluntários que passaram a dialogar com os moradores e dividir novas experiências. E ainda uma evolução nos cuidados com a higiene pessoal: o projeto fornece mensalmente kits de higiene e para as meninas absorventes femininos. Uma parceria com a clínica Odonto Clin possibilita assistência odontológica para os alunos e outra com o TRT - 6ª região que os alunos atuem como menores aprendizes num contrato mediado pela Escola Dom Bosco. Ao fim do contrato os alunos adquirem um certificado de auxiliar administrativo.
Para Grasiela Darlley, 18 anos a orquestra é uma forma de poder conquistar tudo o que sonha. Há 6 anos no grupo conta que sua vida foi transformada pelo projeto.
" Estou na orquestra desde o começo. Uma das coisas que mais me lembro de quando entrei foram as primeiras aulas, do desafio de aprender a tocar um instrumento que eu sequer conhecia. Gosto de participar da orquestra por causa das oportunidades que eu tenho de viajar, aprender, conhecer coisas novas. Sem esse projeto minha vida seria pior, pois ajudou na minha formação e também a ter um emprego. Isso me ajuda não só financeiramente, mas também no meu lado afetivo. Hoje já aprendi a me comunicar melhor com as pessoas," comemora a jovem.
Já para João Vitor de 18 anos a vivência com a orquestra possibilitou com que aprendesse além de um instrumento musical a ter responsabilidade e a ganhar a admiração do pai.
" A orquestra mudou minha vida completamente porque está dando oportunidade muito boa para jovens como nós que nem sonhávamos que iríamos tocar um instrumento musical. Eu pretendo continuar com a música pois é o que amo e nunca vou deixar de amar. O projeto me livrou de possíveis erros que poderia ter cometido na rua com o tempo livre que eu tinha. Fiquei mais atento no colégio e hoje meu pai me olha de um jeito diferente, uma pessoa responsável. Só tenho a agradecer a esse projeto lindo que mudou não só a minha vida como a de muitas outras crianças e adolescentes como eu", celebra o jovem músico.
Os pais dos jovens assistidos participam trimestralmente de reuniões e são realizadas oficinas, palestras e audições. Fora isso a Orquestra de Câmara do Alto da Mina já se apresentou nos teatros Beberibe, Tabocas, Guararapes e Santa Isabel. Além de Maceió/AL; Fernando de Noronha/PE e Salvador/ BA e conta com convites para apresentações em Portugal e na Espanha. Para que o projeto tenha continuidade é necessário que sejam feitas doações sejam em dinheiro, materiais ou em trabalho voluntário.
"Periodicamente fazemos campanhas para a arrecadação de fundos. São campanhas que se identificam como a adoção de alunos do projeto. Nesse caso a pessoa se compromete a doar algum valor por um certo período e assim podemos nos organizar. Já as doações materiais podem ser entregues na Igreja Batista ou na sede do projeto, que funciona no período da tarde", adianta Paulo.
Segundo o coordenador do projeto além da formação musical é de extrema importância para garantir a autonomia dos alunos como cidadãos e cidadãs.
" Temos entendido que a sociedade civil organizada é capaz de propor e decidir os seus próprios caminhos. Também temos a compreensão que pequenas iniciativas como essa são importantes como instrumentos de libertação de inúmeras pessoas de um sistema que as mantém oprimidas e marginalizadas em benefício de uma minoria privilegiada", finaliza Paulo.
Para ser um colaborador da Orquestra de Câmara do Alto da Mina basta entrar em contato pelo What'sapp (081) 98894-0904 OU (081)99544-7757
Conheçam também as redes sociais :@orquestradoaltodamina
E hoje divido com vocês a Orquestra de Câmara do Alto da Mina com um clássico de Luiz Gonzaga: Asa Branca.
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