Ela é pura luz e energia . Também pudera, traz o sol na voz e no nome. Falo de Sol Leles, a segunda entrevistada do Especial Mulheres no Rock.
Nascida Solange Leles, a goiana de Luziânia é moradora de Brasília- DF e leva para o seu público com seu canto toda a força do heavy metal. Belíssima, a cantora de 47 anos mostra em suas apresentações que o estilo não está só na voz, mas nas roupas e na postura de estrela. Lidera uma banda formada por homens e se divide entre os palcos e a bem sucedida carreira de Engenheira de Dados. Mãe das jovens Giulia e Isabela gosta ainda de cozinhar, bordar, desenhar e está em constante aprendizado. Mostra que uma mulher pode desempenhar diversas funções e muito bem. Basta amar o que faz. E ela ama. Mulher em constante transformação considera já ter realizado seu objetivo de ter uma carreira na música. Mas ainda sonha em cantar no Rock in Rio. E com todo o potencial que tem com certeza chegará lá.
Confiram logo após a entrevista uma apresentação da cantora interpretando "Crazy Train" do "pai do heavy metal" Ozzy Osbourne.
(Tatiana Valente)
F.S- Como começou sua carreira?
Comecei a minha carreira aos 14/15 anos cantando na igreja, na missa. Tinha um grupo jovem que comecei a frequentar chamado grupo Renascer e comecei a cantar lá, foi quando descobri que tinha um timbre de voz e me vi afinada. Aos 16 anos eu já tinha uma banda de rock e a gente participou de um festival, o FICO do Objetivo na época. Eu cantava Madonna, Donna Summer. Depois fiz muitos bailes, muitas festas de casamento, formaturas.
F.S - Quais suas referências musicais?
Minha influência maior era Janis Joplin e eu não achava que seria capaz de cantar, eu era muito nova e cantava o que era mais fácil para mim. Aos 16 anos comecei minhas primeiras aulas de canto com o Adriano Faquini e a perceber a extensão vocal que eu tinha, eles nem classificavam muito como contralto porque tenho notas muito baixas e notas muito altas. Hoje com a idade perdi um pouco, eu tinha mais facilidade, mas cantava errado. Daí comecei a estudar, tive grandes professores em Brasília. Era difícil ter grana para fazer os cursos, eu era muito nova, mas quando dava eu fazia uma aula.
F.S- Como o rock te inspira? E como foi a decisão de cantar o heavy metal?
O rock foi uma inspiração da adolescência, eu andava com uma galerinha alternativa, tinha um lado mais rebelde. Eu morava em Taguatinga ( cidade satélite de Brasília) e minha turminha era a da bagunça da escola, o rock naquela época, anos de 80 era uma válvula de escape. Era uma arma também porque era Legião Urbana, tinha muita militância e dizia muita coisa para a gente. A gente traz essa emoção para a sociedade e é uma revolta nessa militância. Quando jovem é tudo muito confuso, não se tem a real de si mesma e o cantar me trouxe essa liberdade, e foi muito difícil me tornar cantora. Eu não tinha muita maturidade vocal, eu tinha timbre e nem tanta responsabilidade do que era uma banda. Mas não parei de cantar. Tive filhas muito nova e fui aos pouquinhos até que me descobri como profissional e resolvi cantar o que gosto, que sempre foi o rock. Eu gostava muito de blues, eu tenho timbre para o blues e comecei indo devagar. Só que cantar rock sendo mulher é uma barreira muito grande e aí comecei a fazer barzinhos, cantando coisas mais leves. Mas sempre fui galera 109, na adolescência frequentava Zona Z, galera bem alternativa de Brasília que curtia rock. Minha influência era o que eu queria fazer. Passou um certo tempo fui morar em Luziânia, casei novamente quando voltei para Brasília estava mais madura, mais profissional, já tinha cantado muito em barzinhos e resolvi : "agora vou fazer o que gosto". Eu estava muito forte. Acho que um divórcio ajuda muito a gente a se fortalecer e a querer ser você mesma. Resolvi ser eu mesma e montei minha primeira banda de heavy metal cantando o que eu gostava: Led Zeppelin, AC/DC, Iron Maiden. Eu falei "cara uma mulher cantando isso. Se tenho timbre, voz pra isso vou fazer". E deu muito certo. Minha primeira banda teve alguns atritos e decidi não juntar pessoas para fazer uma banda. Resolvi ter a minha banda: se chama Sol Leles e Banda porque se tiver algum problema entre os integrantes chamo outros e resolvo.
F.S- O que é o palco para você?
Eu gosto muito do que eu faço. Acho que os dois trabalhos me complementam : a música e meu lado muito focado nos desafios (eu e a máquina ). Gosto muito de estar no palco com o público e depois voltar para o meu mundinho. Quando a gente está de corpo e alma no que está fazendo, essa entrega no palco, o que me ajudou muito foi o teatro. Fiz algumas produções, fiz o "Rent" ( um musical muito forte); fiz "Across the Universe" (um musical dos Beatles), em 2018 a gente viajou pelo Brasil, foi muito forte para mim. Me trouxe outra Sol Leles. Principalmente para o palco. Depois fiz a Ópera do Malandro do Chico Buarque e o teatro realmente me trouxe muita colaboração no palco, essa vivência visceral, de viver o rock, de sentir o público, sentir a música, a presença.
F.S- Já enfrentou preconceito por ser mulher no rock?
Já foi uma área muito masculinizada e sempre lutei em mostrar o meu melhor. É possível uma mulher cantar e convencer o público do que está fazendo. É quando a gente está de corpo e alma no que está fazendo, essa entrega no palco. No lado da TI também, foi um lado bem complexo tive de mostrar muito trabalho no início, hoje já tenho mais de 15 anos de carreira, todos conhecem aqui em Brasília meu trabalho como engenheira mas foi uma batalha porque mulher na TI e mulher cantando heavy metal são dois grandes desafios. Mas nunca tive medo, sempre acreditei muito no meu potencial depois de um certo tempo. Falo para minhas filhas: tudo é possível, não tenho medo de nada. Faço milhões de coisas ao mesmo tempo, gosto de aprender, gosto de desenhar, cozinhar, bordados. tenho várias habilidades femininas. Sempre fui muito curiosa e muito atenta.
F.S - Como a Sol Leles se define como cantora?
Me definir é muito complexo. Não consigo me definir porque sou constante, estou em extrema mudança, estou em busca de consciência há muitos anos. E cada ano, cada lunação sou uma pessoa diferente e isso reflete muito no meu modo de cantar. Sou uma cantora de alma, canto só o que eu gosto, o que realmente traz algum significado para mim, o que vou passar para o público. Eu tento cantar outros estilos porque me desafio mas se vejo que não é isso mudo para outra coisa. Enquanto não for realmente visceral eu não faço. Hoje consigo dizer não sem culpa.
F.S- Com quem sonha cantar?
Eu acho que não tenho esse sonho. Já vivo muito o que eu queria viver. Sou muito bem resolvida com isso. Queria ter uma carreira como cantora principalmente aqui em Brasília e já tem uns anos. Sou muito aberta a oportunidades então vão chegando pessoas que a gente nem imagina e quando vê já está ali tocando, já vive um sonho real sem ter a perspectiva de ter sonhado aquilo. Já cantei em grandes palcos aqui em Brasília e isso para mim já foi arrebatador, sou muito feliz do que já vivi, do que a música já me proporcionou. Mas sonhar com alguém específico... Tocar no Rock in Rio aí eu zerei a vida (risos). Acho bacana um evento assim que vou sentir a emoção de milhares de pessoas.
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