Em 19 de novembro de 2020, em plena pandemia do Coronavírus um crime chocou o país. Um homem negro chamado João Alberto Silveira Freitas foi espancado até a morte dentro de um supermercado de Porto Alegre, sem a menor possibilidade de se defender. O ato de extrema violência correu o mundo pelas redes sociais e foi a primeira notícia que viu Lucyara Sousa, assim que abriu seu Instagram naquele dia. Em choque e aos prantos telefonou para sua amiga.
" Fiquei desesperada. Liguei para minha amiga chorando e disse para ela que precisávamos fazer alguma coisa. Estão matando os nossos, chorei, com muito medo", lembra.
Dessa conversa, nascia em 20 de novembro de 2020 - dia em que é celebrado Zumbi dos Palmares e dia da Consciência Negra - em Lorena, cidade do fundo do Vale do Paraíba, o coletivo "Quilombo Vale Reexiste". Por causa do isolamento social as primeiras reuniões aconteceram de modo online e foram agregando pessoas que se propõem a lutar contra o racismo em comunidade, informando sobre os direitos, sobre tomadas de posturas e adoção de práticas antiracistas, promovendo o conhecimento sobre ancestralidade, palestras sobre saúde da mulher e outros temas importantes e apoiando o microempreendedor negro.
O movimento, que conta com aproximadamente 60 pessoas também organiza palestras educativas, saraus culturais em escolas, batalhas de rap e eventos como o Festival Cultura, Cantos e Lutas - já na segunda edição- que aconteceu neste sábado (19 de novembro) na praça Arnolfo de Azevedo no centro da cidade. O festival reuniu na praça culinária, estética, moda, afro empreendedores, artesãos, pintura, poetas, DJs, Rappers e grupos como a Congada São Benedito e Capoeira Guanabara.
" Estamos aqui para conscientizar as pessoas sobre a nossa luta. Por meio da arte, da música podemos mostrar a nossa identidade, fazer nossos relatos: numa letra de um rap ou de um samba que viraliza. É um modo de fazer com que sejamos ouvidos", afirma Lucyara, uma das coordenadoras do coletivo.
Fazer com que os jovens se aproximem do movimento e usem a arte como forma de expressão também é o intuito do coletivo. Responsável por organizar as batalhas de Rap na cidade de Lorena o artista Victu SL lembrou que cinquenta por cento da cultura de rua veio do sofrimento dos antepassados e o coletivo "Quilombo Vale Reexiste" é uma forma de demonstrar resistência.
" É importante que os artistas se reconheçam e o Quilombo faz isso promovendo os saraus e as batalhas fazem a junção de todos os elementos, que evidencia a nossa essência. As batalhas de rap buscam sempre passar uma mensagem, é uma forma de ataque por meio da palavra, a luta contra o sistema. Também é uma forma de soltar os sentimentos quando falamos sobre comunidade, sobre família. Já as batalhas de conhecimento forçam o jovem a estudar, um tema é escolhido: política, história e o rapper tem de defender com argumentos sua opinião. Quem se sair melhor é o vencedor. Uma forma por meio de rimas de mostrar nossa poesia e nossa arte para o povo", conta o jovem que lembra ainda que na cidade de Lorena 30 rappers participam dos eventos organizados pelo coletivo.
Promover a "equidade" racial, social e de gênero também é lema do coletivo, para que homens, mulheres, brancos e negros convivam em igualdade e em paz.
" O meu meu grande sonho é o da equidade, o da paz mundial. Em poder viver num mundo onde não matem os meus", concluiu emocionada Lucyara.
Divido com vocês hoje um trecho da apresentação da Congada de São Benedito do Parque Industrial da Cidade de Lorena-SP.
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