Sempre gostei de um baile.
Fosse de Carnaval, de formatura, festa de quinze anos. Me lembro que quando criança fui em algumas festinhas com bailinhos: quem não tinha par dançava com a vassoura e era super divertido. Eu nunca tive sorte com meus pares nas danças na escola, eles sempre faltavam e me deixavam na mão. Daí por diante entendi que por muitas vezes na minha vida teria de dançar sozinha. Ou poderia ter muitas companhias que me divertiriam muito mais do que um colega fujão.
Na adolescência eu não perdia um baile de formatura. Amava o ritual de pegar o trem, ir para São Paulo, visitar as lojas e escolher um vestido. Sim, sempre comprei pois sou muito desastrada e o aluguel para mim não era uma possibilidade . Destes vestidos tenho um que já usei várias vezes e que vi ontem em meu armário pois não tive coragem de doar : um preto longo, de tecido leve com poucas pedras de miçangas bordadas na parte superior.
Com ele fui ao baile de formatura de Ensino Médio da minha prima em Taubaté. Já tinha usado no baile de minha irmã, no qual dancei até a banda tocar a última música e o sol anunciar sua chegada. Lá estava eu, de novo, vestida, toda pomposa, maquiada e penteada, para bailar a noite toda. Me empolguei com a banda e um de meus tios vendo minha animação me acompanhou, caindo comigo na dança.
Muitas pessoas apontam a bebida alcóolica como culpada de seus vexames em público. Eu tenho o dom de causar sem bebida mesmo, e nessa noite estava a base de coca-cola e guaraná - e não era o "axé" (rs). Lá pelas tantas, a banda começou a tocar Garçom, de Reginaldo Rossi. Música que alguns meses antes tinha sido motivo de rusgas entre meu pai e eu. Me achava a mais profunda conhecedora de MPB e Rock e reclamava todas as vezes em que ele colocava Reginaldo Rossi pra tocar. De propósito ele programava no "replay" e a canção composta em 1986 que só virou hit em 1999 tocava em todos os cômodos da casa.
"Ai pai, de novo essa música cafona, ninguém merece", dizia eu que era uma adolescente chata, insuportável.
Mas naquele dia, eu "tava" na pista e tinha de dançar. Meu tio me tomou pelos braços e demos um show no melhor estilo "cheek to cheek"- cantando e rindo, claro. Quando o crooner finalizou " se eu pegar no sono, me deite no chão", ele me inclinou e me largou como uma sombrinha aberta, arreganhada. O fitei com um olhar fulminante e num reflexo puxei sua gravata vermelha. Deitados lado a lado no chão do Clube Associação de Taubaté caímos na gargalhada. Me lembro de um menino que estava super bêbado com um copo de whisky na mão que me olhou e disse :
" Ih a mina tá maior louca", balançando a cabeça.
E pra matar a saudade divido com vocês a música que fez com que Reginaldo Rossi conquistasse um espaço na trilha sonora de minha vida. Lançada em 1987 já embalou muitas dores de cotovelo. Quem nunca chorou um desamor numa mesa de bar?
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