"Ô Balancê, balancê..."
Eu aguardava ansiosamente por essa época do ano. Neta do Totó, um amante de carnaval só podia gostar da folia. E eu, primeira filha, primeira neta,era mimada ao extremo. Fantasiada de melindrosa ia acompanhada dos meus pais e tias para o União Futebol Clube, curtir todos os dias de matinê. Depois, à noite tinha pique para acompanhar meu pai na transmissão das escolas de samba e blocos pela extinta Rádio Diário AM.
Tinha o luxo de ser colega de sala da neta do rei momo e ali no camarote vizinho ao da imprensa tinha acesso à corte e me sentia parte dela com o cabelo cheio de glitter, confetes e o rosto devidamente enfeitado por estrelinhas.
Em Mogi todo mundo se conhece. E na "avenida do samba"- era assim que se falava- todos eram iguais, sambando no mesmo ritmo. Eu aguardava ansiosamente a São João passar com sua bateria avassaladora. Embora fosse moradora do bairro do Mogilar era a verde e rosa mogiana que me encantava. Talvez um encantamento pela agremiação de Xangô. Parecia um sonho, que se acabou na minha juventude.
Aos 18 anos fui com minha irmã para o desfile das escolas. Antes de sair ouvi o pedido insistente de minha mãe para que não fosse, um pressentimento. Mas fui.
Fiquei no camarote da rádio, meu pai já não transmitia mais. Mas ali estavam meus amigos e nos ofereceram uma carona após os desfiles. Fomos tomar um refrigerante numa barraca para celebrar a noite de transmissão.Um tiroteio começou em nossa frente. Minha reação foi a de entrar na barraca e me deitar sobre o corpo de minha irmã no chão. Se atirassem, seria em mim. Minha amiga, repórter do jornal, assustada com o braço engessado - estava se recuperando de um acidente- se preocupava com o noivo fotógrafo que foi atrás dos tiros para registrar a confusão. Quando voltou e nos viu deitadas no chão imediatamente clicou, rindo para mostrar na redação do jornal. O fato foi notícia no país todo. https://www1.folha.uol.com.br/fol/geral/ult07032000032.htm
O susto passou, mas o medo não. Não fui mais para a avenida depois desse episódio. Uma festa linda, destruída pela violência e por uma arma.
Mas amo o Carnaval. Como na música dos Novos Baianos, minha carne e meu coração são feitos dele.
E hoje, quero dividir com vocês a música que me lembra dos carnavais de minha infância. Balancê de Alberto Ribeiro e João de Barro, na voz de cristal de Gal Costa...
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