Despedida - deixo a jornalista de lado para me despedir da Padroeira da Liberdade como uma fã sincera, como redigiu em sua profecia sobre o dia de seu retorno à galáxia de onde fugiu
Livro: Rita Lee, uma autobiografia
Fotos CD e Livro: Tatiana Valente
Mutantes em Guararema em 1972: Reprodução
As estrelas nascem das nebulosas.
Muitas podem ter nascido há milhões ou até mesmo bilhões de anos. Uma estrela rebelde caiu aqui, no Planeta Terra, no último dia de dezembro do ano de 1947, no bairro da Vila Mariana, na cidade de São Paulo. Filha caçula de uma família na qual o único homem era o pai, o canceriano, filho de norte-americanos Charles Fenley Jones e da geminiana, filha de italianos Romilda Padula, a pequena estrela Rita só sossegava com mamadeira e o rádio ligado com doses de leite, Carmen Miranda, Emilinha Borba, Nelson Gonçalves, Doris Day, Fred Astaire e Mario Lanza. Isso ela mesma contou no livro "Rita Lee uma autobiografia", publicado pela Globo Livros.
Não vim aqui hoje para relatar numa linha do tempo como foi a vida da compositora, cantora, multi-instrumentista, atriz, apresentadora, escritora e ativista. As melhores fontes para poder conhecer a história de Rita Lee Jones de Carvalho são os livros deixados por ela. E os jornais, revistas e sites exploraram ao máximo nos últimos dias detalhes de sua vida. Alguns de maneira antiética e desrespeitosa, infelizmente.
Hoje quero lembrar da menina, que se juntou a dois irmãos e resolveu "cair na estrada", como contou o jornalista Guilherme Gorgulho para o jornal Mogi News indo parar em Guararema, cidade vizinha a minha Mogi das Cruzes. Em meio a "mamãe natureza", cercada pelo Rio Paraíba e vestida de noiva resolveu fazer daquele lugar a sede de um "Woodstock Brasileiro". Naquele mesmo ano foi convidada a se retirar do grupo, pois ouviu dos "minos" que "não tinha calibre como instrumentista".
E ali, da loira cheia de sardas, testada por um mundo machista, nasceu a ruiva roqueira. Mostrando que o rock, espaço que muitos pensavam ser só dos homens - coisa que Sister Rosetta já tinha provado com sua guitarra nas décadas de 30 e 40 para os americanos que não - podia ser também das mulheres brasileiras.
Em tempos de ditatura militar, foi Cilibrina e peitou o sistema compondo rock psicodélico. Depois com o parceiro de vida Roberto de Carvalho cantou as faces de Eva, representando com perfeição e coragem o universo feminino, falando de amor, de drogas, de sexo. Tinha a palavra como sua aliada e influenciou muitas gerações de meninas como a minha, que viu nela uma referência. Uma mulher com um violão. E cantando e compondo rock. Eu não era a única magrela branquela com sardas, um violão e um tanto "maluquete".
E ela que nos colocou tantas letras na cabeça, na ponta da língua e do coração, nesta terça-feira conseguiu me deixar muda. Não conseguia raciocinar ao certo o que escrever, o que falar. Colaborei como fonte de colegas de profissão do jeito que consegui. Eu, que tantos obituários fiz, tive um apagão. Fiquei analfabeta . A jornalista fraquejou e o coração da Valente ficou pequenininho.
A estrela caída voltou para sua galáxia, onde será tratada e em algum tempo brilhará ao lado de Elis, Hebe, Gal, Nara, Fernanda Young e nos iluminará lá de cima. Fico imaginando essa mulherada toda reunida, será uma revolução estelar.
Hoje, a "Brina" aqui vai usar a Quinta da Saudade para cumprir a profecia feita por Rita a respeito de sua morte. Mas não como a repórter que já tinha material sobre sua trajetória preparado para publicar em sua mídia. Mas a sincera, a despedida da fã que empunhou a capa de um disco e entoou Ovelha Negra...
Padroeira da Liberdade, olhai por nós...
Nota : hoje seria publicada a continuação do post sobre Lulu Santos. Mas tenho certeza que ele, e seus fãs compreenderão perfeitamente.
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