Conectando - Konecta Sonorização leva música e arte para áreas públicas de Brasília, sob o comando da produtora cultural Angélica Rodrigues
Fotos: divulgação
Não é "A Voz do Brasil". A partir deste horário vigora na capital do país, também conhecida como a capital do rock, a Lei Distrital nº 4.092, de janeiro de 2008 a Lei do Silêncio, que determina limites de barulho entre as 22 e 7 horas da manhã durante a semana, nos domingos e feriados das 22 às 8 horas da manhã . Estabelecimentos comerciais que descumprirem o que determina esta lei podem ser embargados, interditados e até mesmo ter cassada a licença de funcionamento.
É rotineiro na noite brasiliense ter o lazer interrompido pelos garçons que anunciam para os notívagos sobre o encerramento das atividades para que se cumpra o que dita a lei. Muitas vezes os clientes- ainda com comidas e bebidas nas mãos- têm de deixar os bares e restaurantes que guardam as cadeiras e baixam suas portas. Para as bandas e músicos que contavam com os estabelecimentos para suas apresentações este silêncio forçado ocasionou um prejuízo imenso, tanto na parte financeira quanto na produção cultural do Distrito Federal.
Pensando em uma alternativa como fonte de renda e incentivada por amigos que tinham "food trucks", a produtora cultural, roadie, técnica de som e técnica cinematográfica Angélica Rodrigues criou com um sócio a "Kombiando", hoje com o nome de "Konecta Sonorização". Uma kombi que se transforma num palco itinerante e tem como proposta a ocupação e revitalização de espaços públicos que fecharam suas portas por causa da lei do silêncio e de certa forma, prejudicaram os artistas e o público local . O projeto tem ainda como missão movimentar a cultura de uma forma intimista e criativa.
" O projeto nasceu em 2015, bem na época da Lei do Silêncio, quando bares e casas de shows começaram a ter problemas por causa do barulho. Também nessa época aconteciam muitos eventos de rua com food trucks e os primos do meu sócio nos falavam para montarmos algo de música, com som. No começo a gente queria trabalhar com bandas autorais, que estavam começando nos eventos de food truck. A gente começou a fazer eventos nas praças, nas ruas, e as bandas começaram a pedir para tocar nos locais para onde a gente ia, e acabou tendo demanda não só de produzir nossos eventos como também começar a alugar o equipamento de sonorização para festas. O pessoal achou legal a ideia de ter a kombi como cenário do palco, na época troquei meu carro - tinha um carrinho- por uma kombi e a transformamos no palco 'Kombiando'. Aos poucos fomos comprando equipamentos, foram passos de formiguinhas. Primeiro as caixas, depois mesa de som, enfim, de acordo com as necessidades que surgiam", lembra Angélica.
Pelos eventos produzidos pela Konecta, passaram inúmeras bandas autorais, tributos, poetas, bandas de blues, rock, jazz, instrumental, underground, DJs, fazendo com que o projeto de levar arte para o público nas ruas se tornasse uma porta para que muitas pessoas pudessem mostrar seus trabalhos.
" Sempre foi muito marcante. Ás vezes a agente fazia eventos onde menos esperaria, como no Setor Comercial Sul, durante o tempo de revitalização do espaço. A gente chegou a fazer eventos durante o dia e muitas vezes parava por ali quem estava trabalhando, parava, comia algo, assistia, pessoas de todos os tipos, de todos os lugares, muitas em condição de rua que curtiam o evento. Todo mundo tinha o direito de curtir aquilo ali, um evento aberto para todo mundo, isso foi muito marcante. Ter a possibilidade de levar arte para uma pessoa que estava trabalhando, no stress do dia a dia e passava ali pela praça, via uma banda tocando durante do horário de almoço ou de lanche. Sempre gostei dessa troca do público que não espera com o que já aguardava o evento", se emociona a produtora.
A mudança de nome de"Kombiando" para "Konecta" foi para proporcionar um melhor entendimento para o público sobre os serviços prestados por Angélica, mas o palco continua sendo o "Kombiando", querido e conhecido pelos brasilienses. A multifacetada produtora encontra inúmeros desafios por atuar na área técnica, predominantemente masculina e ainda divide os afazeres do trabalho com a maternidade, e os cuidados com uma bebê de um aninho.
"É completamente desafiador ser da área técnica, ainda mais mulher. É uma área, eu digo, 'denominada' por homens, dominada não tem nada porque a gente já está aí há muito tempo, tem várias mulheres que mexem com a parte técnica. Hoje em Brasília muitas mulheres são técnicas de som, roadies, carregadoras, já não somos mais minoria. No começo demorei muito para trabalhar com mulheres, não encontrava meninas que faziam o mesmo trabalho que o meu. É desafiador porque todas as pessoas duvidam que você seja capaz de fazer a montagem de equipamentos, são equipamentos pesados, mas é possível, é pesado para homem também. É uma 'área denominada, não dominada', a gente já está aí. Infelizmente muitas pessoas duvidam da nossa capacidade. Temos de provar para nós mesmos que conseguimos e assim provamos para as pessoas que somos capazes. Me tornei mãe bem no fim da pandemia, está sendo difícil porque infelizmente não estou nas ruas, não estão me vendo e isso deu uma queda grande no meu trabalho, mas estou aqui, não desisti, mesmo grávida cheguei a operar o sistema, até os 8 meses cheguei a operar som, quando ficou pesado me afastei, mas continuei trabalhando com uma equipe e fazendo a direção técnica. Foi, está sendo difícil, mas estou aqui na ativa, trabalhando e dando meus pulos como mãe, porque a gente não para. Carregando criança e carregando equipamento também", conta a idealizadora do Konecta.
Para conhecer o trabalho de Angélica basta acessar as redes sociais do Konecta Sonorização. O Instagram é https://www.instagram.com/konectasonorizaca
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