Era fim de 2001.
Já tinha me decidido: terminaria o curso de Letras, pegaria minha Licenciatura e trancaria o curso de tradução. Tinha feito novamente o "vestibular" e desta vez, não passei em terceiro lugar, mas em décimo quarto, fato que me dava certa alegria pois há anos não estudava outra coisa que não Língua Portuguesa, Literaturas, Língua Inglesa e matérias educacionais. Quando não estava lendo, estava ministrando aulas, ou enfiada no meu quarto com o violão, estudando as músicas que apresentaria com o Coral da Universidade de Mogi das Cruzes. Até que um dia meu pai chegou para o almoço com um CD- caseiro mesmo- e me entregou, me dizendo para escutar. Eram artistas de minha cidade que tinham gravado músicas do Henrique Abib, seu colega de trabalho de tantos anos, que para a nossa surpresa escrevia canções. Já o conhecia por frequentar nossa casa e sempre nos acompanhar no violão, mas não conhecia seu dom de compor.
Naquela tarde ouvi Henrique e músicos de Mogi como Waldir Vera, Rui Ponciano, Juliana Kosma e conheci um compositor que aos quarenta anos decidiu mostrar sua bela arte em um álbum chamado "Seu Nome". Me encantei pelas músicas, como " A Palavra" na qual ele fala sobre como o uso da palavra pode ser tão importante, mas que não" se rende à paixão". Ou numa parceria com Vera, uma canção linda, de nome "Madrugada", sobre amor e sonho. Assim como me encantei pela delicadeza de "Flores" que me lembrava muito a melodia encantadora do mineiro Beto Guedes.
Peguei um caderno da faculdade e escrevi minhas impressões sobre o que tinha acabado de ouvir. No outro dia, num horário vago na escola na qual dava aulas corri para a sala de informática e digitei um texto-crítica, e enviei para um amigo músico pedindo para que me informasse se ali tinha alguma besteira. Ele me "disse corre, manda publicar". Fui caminhando para o prédio do Jornal O Diário de Mogi, e entreguei em um disquete meu texto para a jornalista Eliane José, responsável pela matéria que sairia na capa do Caderno A, falando sobre o Cd de Henrique com os músicos mogianos. Ela prontamente leu, e abriu generosamente uma "retranca" com meu texto e minhas impressões.
Tive um retorno carinhoso de Henrique, que assim que lançou "O que Minh'Alma Velha Guarda", um álbum de sambas, em 2009, me enviou carinhosamente um exemplar com uma doce dedicatória. Eu, que sempre admirei os poetas dos livros descobria que ali na minha cidade tinha muitos. E dos melhores. E entendia- por meio das palavras de Abib- que o compositor podia ser sim um lapidador de canções. Talvez como um cartógrafo. É ele, unindo letras e melodias, que desenha para o intérprete os mapas com os caminhos que levam as músicas para os corações das pessoas.
Hoje na minha Quinta da Saudade, quero lembrar da música de Henrique Abib que tocou meu coração e que amo cantar. Aqui, na doce voz da cantora mogiana Juliana Kosma. "Que se dane", é a minha favorita deste grande compositor.
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