Na pré-adolescência chegou em minhas mãos o LP da banda Gipsy Kings. O álbum era Allegria, relançado pela Globo/ Columbia que trazia músicas como "Alegritta", "Sueño", "Papa no Pega la Mama", "La Duenã" e o destaque da capa, "Djobi, Djoba", uma rumba flamenca que me fazia dançar, sem saber dançar, era algo mágico. A emissora se aproveitava do sucesso dos personagens ciganos da novela "Pedra sobre Pedra" e eu apaixonada por aquele grupo que tinha magia, histórias de amor e muita música me encantava pela cultura "gitana" até no modo de me vestir, com saias longas e ombros a mostra .
Anos mais tarde, já estudante de jornalismo, ao devorar um exemplar do "The New York Times" vi o anúncio de um show do "Gipsy Kings" em uma casa de shows. Falei para uma colega, descendente de espanhóis do quanto a música deles me emocionava e ela rindo me disse "tem uma cigana aí dentro...".
Não sei se tinha mas, já conhecia a lenda de uma cigana chamada Rosita, que assim como os músicos do conjunto criado em 1979, viveu na região da França. Muito bela, de longos cabelos e olhos esverdeados era nascida na Índia mas cresceu- entre uma viagem e outra- no Marrocos, na Espanha e na França e com sua mãe aprendeu as danças típicas e a manusear, como ninguém, as castanholas, instrumentos de origem fenícia.
Rosita trazia sempre uma flor no cabelo e uma rosa no lenço que tinha amarrado em sua cintura. Era extremamente vaidosa com seus anéis de quartzo rosa e pulseira com estrelas, lua e sol e hipnotizava a todos com sua dança e pela forma como tocava suas castanholas. Por ser extremamente sedutora, foi proibida por sua família de dançar em público. Quando queria expressar sua arte ia até a beira do mar, onde livre, podia bailar e tocar o quanto quisesse.
Até que um dia um "gadjo"- forma como os ciganos se referem aos que não são de suas etnias- viu a bela dançar e decidiu voltar todas as noites para admirá-la. Tomado de paixão se aproximou da jovem, que fugiu, mas dias depois se rendeu ao beijo do admirador. Foi algo imediatamente correspondido, sem explicação. Amor de alma. Resolveram se afastar devido as diferenças culturais, mas o destino- coisa que os ciganos adoram jogar na roda- os atraia e o amor pulsava em suas veias. Mas ela era prometida e tinha um noivo que quando tomou conhecimento do romance assassinou o pobre rapaz. Muito triste, a cigana se casou com o noivo, mas antes do enlace afirmou:
" Me terás como esposa, serei sua prisioneira, mas meu amor nunca terás. Amor, só tive por aquele rapaz. Eu o amei porque me deixava ser livre".
Diz a lenda que Rosita teve filhos, e uma vida satisfatória materialmente provida pelo marido, mas muito deprimida viveu para as crianças, sua dança e sua arte. Morreu de tristeza e pela falta do amor e da liberdade que o casamento lhe tirou.
E hoje, na quinta da saudade vou compartilhar com vocês uma canção que também fala de amor e tristeza. Lançada em 1987, "Djobi, Djoba" de Gipsy Kings.
Comentários
Postar um comentário