Na Estrada - A saxofonista Suka Figueiredo celebra 1 ano do álbum AfroLatina e se apresenta no próximo dia 13 de agosto no segundo Marabá Jazz Festival, no Pará
Foto: Evandro Macedo
Muitas vezes não é o músico quem escolhe o instrumento que irá tocar. Numa inversão, quase que surreal, o instrumento toma vida e por meio de notas musicais seduz e conduz o ouvinte para seu mundo. O saxofone, instrumento inventado pelo belga Antoine Joseph Sax -daí o nome- no ano de 1841, tem esse dom. O astro David Bowie declarou há anos que ainda criança foi "seduzido" pelo som feito no instrumento por Little Richard, e nesse momento decidiu aprender a tocar saxofone.
Com a saxofonista, compositora e produtora musical Suka Figueiredo não foi diferente. A ex-banqueira carioca, que desde a infância convivia com a música em sua casa ouvindo Tim Maia, Raul Seixas, Chico Buarque e Zé Ramalho, conheceu no ano de 2016 um projeto chamado "Jazz na Kombi", que tem como mote levar o jazz para as ruas de São Paulo. Ali, Suka se apaixonou pelo som que vinha do saxofone do músico Vinícius Chagas e naquele momento foi "escolhida" pelo instrumento. Imediatamente, assim como Bowie, procurou aulas particulares até passar pela Escola de Música de São Paulo, cidade que escolheu para viver.
Na pandemia, a saxofonista deciciu apostar totalmente em sua carreira autoral, se dedicou às composições e lançou no dia 25 de julho- quando é comemorado o dia da Mulher Negra- Latino Americana e Caribenha- o álbum AfroLatina. Seu primeiro EP representa a conquista de uma mulher negra dentro da música instrumental brasileira – um espaço dominado por homens brancos – marcando a história e servindo de referência para as jovens instrumentistas que estão surgindo. Sororidade para a musicista é levada a sério. Ainda no ano passado lançou o projeto Suka Collective que reúne mulheres instrumentistas para promover a união e evidenciar a representatividade de mulheres que fazem música instrumental no Brasil, meio predominantemente masculino.
Semana que vem, a instrumentista levará sua música para o segundo Marabá Jazz Festival no Pará, e segundo ela, que já prepara o próximo disco, será um momento muito importante em sua carreira: primeira vez que se apresenta fora do estado de São Paulo. Primeira de muitas, tamanha musicalidade da musicista carioca.
Suka conversou com o Falando em Sol e contou sobre sua carreira, sobre representatividade, a importância do parceiro - de música e vida- Rafael Acerbi e projetos futuros.
F.S - Como nasceu seu interesse pela música?
A música sempre esteve no meu cotidiano, principalmente em casa. O ano era 2016 quando eu conheci o Jazz na Kombi e vi pela primeira vez ao vivo um saxofonista chamado Vinicius Chagas e foi um grande encontro. Saí dali e logo fui buscar aulas particulares de saxofone, me aprofundei quando passei pela Escola Municipal de Música De São Paulo e hoje considero que estou trilhando um caminho que eu jamais imaginei que aconteceria. a Música salvou minha vida!
F.S- O saxofone foi o primeiro instrumento que você aprendeu? O som do sax foi paixão à primeira ouvida?
Sim! Logo depois me aventurei no sax barítono, sax alto e flauta transversal, mas a minha grande paixão é o saxofone tenor.
F.S -Da bancária carioca à saxofonista radicada em São Paulo. Como foi esse percurso?
Foi e está sendo um percurso bem intenso, de muitas surpresas e eu sou apaixonada pelo que eu faço então considero que tudo é um grande aprendizado e que faz parte do caminho.
Tenho aprendido muitas coisas importantes e é tudo muito precioso. Obviamente há obstáculos pelo caminho mas eu acredito muito no trabalho que estou desenvolvendo e acredito também que estou inspirando as próximas mulheres donas de seus trabalhos que é possível!
F.S - AfroLatina completou 1 ano. Como foi o processo de criação do álbum?
AfroLatina é um álbum pandêmico que nasceu nessa loucura que vivemos nos últimos anos. Foi e está sendo um processo de cura pra mim, onde eu estou encontrando minha identidade sonora, conhecendo pessoas incríveis que tem me acompanhado nos palcos e projetos.
É um álbum muito importante pra mim porque nele resgato as minhas memórias e vivências. AfroLatina tem sido muito generoso comigo me possibilitando estar em lugares que eu não imaginei estar agora. Sou muito feliz pela construção de tudo que é o AfroLatina.
F.S -Mulher, musicista da área dos metais, na grande maioria masculina. Você já passou por alguma situação de preconceito? Como foi a formação do Suka Collective?
Suka Collective nasceu da necessidade de representatividade na música instrumental brasileira, um projeto que nasceu em janeiro de 2021 e se concretizou em 2022. Formado exclusivamente por instrumentistas mulheres, com o collective eu tive a oportunidade de reencontrar amigas queridas, conectar instrumentistas que não se conheciam e que hoje compartilham de projetos musicais autorais, gerar visibilidade e inserir mulheres nesse circuito tão carente de representatividade que é a Música Instrumental no Brasil.
Enquanto nossa realidade for uma sociedade machista e patriarcal o preconceito estará presente...então a minha luta é para que cada vez mais mulheres se sintam empoderadas para fazerem o que amam e que tomem posse dos seus trabalhos autorais e realizem-os.
F.S - Há um ano você se apresentou - com o Suka Collective- para um grupo de 300 adolescentes no extremo leste de São Paulo, um lugar no qual dificilmente jovens dificilmente teriam acesso à música instrumental. Como foi a experiência? Pra você qual a importância de se levar música para as comunidades?
Foi de fato o show mais emocionante até hoje. Tocar para 300 adolescentes na periferia foi tão tão importante. É fundamental que a música instrumental esteja em todos os lugares. Também considero urgente que o estilo seja deselitizado e que as pessoas tenham cada vez mais acesso as maravilhas da música instrumental. A representatividade também é fundamental, pois estou segura de que muitas dessas crianças nunca viram mulheres tocando instrumentos de sopro, por exemplo. Tenho certeza que aquele dia mudou a percepção de muitas crianças que estavam ali. Foi muito emocionante!
F.S- Você tem -na vida e na arte- uma parceria com o músico e compositor Rafael Acerbi, dotado de grande sensibilidade. Qual a importância do apoio dele para tua carreira?
O Rafa tem um papel inestimável no meu processo, tanto de composição quanto de produção musical. Ele é um cara muito sensível e muito atencioso. É fácil e leve trabalhar com ele. Ele acreditou primeiro que eu, veja só! É uma pessoa muito especial na minha vida!
F.S -Qual a expectativa para o show de dia 13 no Pará?
Ansiedade! Imagine uma pessoa ansiosa pra encontrar esse estado mágico que é o Pará. Além disso, é a primeira vez que AfroLatina vai se apresentar fora do estado de São Paulo! Estou muito animada e orgulhosa de estar em um festival de jazz no Norte do País com o meu primeiro disco!
F.S - O que vem por aí? Quais os próximos projetos?
Foco total no próximo disco que está no forno e chega ano que vem! Estou trabalhando em composições novas e estou ansiosa pra compartilhar tudo isso com vocês!
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