Por mais que estivesse rodeada pelos meninos, no fundo, no íntimo me sentia solitária. Na minha cabeça um vídeo que tinha visto em uma página do Instagram: um trecho do filme "A Hora da Estrela", do livro de Clarice Lispector.
Era a parte na qual Macabéa (Marcélia Cartaxo), entregava uma ficha telefônica para seu namorado Olímpico (José Dumont) e pedia para que ele ligasse para ela, afinal apenas a belíssima colega Glória recebia telefonemas. Ele, num ato de extrema grosseria respondia : "para quê? escutar suas bobagens?"
A pobre fazia aquela carinha de tristeza. Como na foto que escolhi para ilustrar este texto.
Nesse ponto vocês já podem imaginar que eu estava aos prantos.
Assim como chorei na primeira vez em que li o livro, e de novo quando assisti ao filme, na época em que cursava Letras no ano 2000 . Ainda jovem me revoltava como alguém podia tratar aquela menina tão inocente e doce daquele jeito.
Que vontade tinha de pegar a personagem pelas mãos e dizer a ela se ame, se cuide. Seja sua própria estrela. Ninguém nesta vida merece o descaso de alguém, ou pedir por um pouco de carinho e ter uma resposta como a de Olímpico.
Quantas vezes na vida somos como Macabéa. Deixamos nossos sonhos na cama e vestimos a roupa de viver. Quantas vezes passamos a "gostar de parafusos e pregos" pra ter um mínimo de atenção ou nos moldarmos da forma que o outro quer que sejamos. Deixamos de lado nossas próprias vontades e anseios por que o outro acha ser bobagem. Sempre o outro. Só pra não ser sozinha.
E se a gente não acorda e se vê como uma Macabéa, corre o risco de passar uma vida toda recebendo migalhas de amor, quando na verdade merece um banquete. E essa fartura toda está dentro da gente . O amor próprio, que muitas vezes está adormecido, sonhando com o amor romântico . Aquela velha história do amor incondicional que tudo aceita, tudo tolera é egoísta. Amor não pode ser via de mão única.
Ah menina do livro da Clarice...
Como queria ter tomado as cartas da cartomante ou a máquina de escrever da escritora e ter te dado outro destino. Seu momento de estrela foi ali, atropelada, falecendo na guia da calçada. Mas como não posso mudar o rumo de seu destino, te dedico uma música na minha Quinta da Saudade. Estrela, Estrela, de Vitor Ramil, gravada por Maria Rita em 2003.
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