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Entrevista - A Doce Ópera do Chef Contratenor Hiago Rosas



Contratenor - Hiago Rosas, o jovem de Guaratinguetá que se divide entre a música e o Cake Design
Fotos: Arquivo Pessoal Hiago



Espátulas, colheres de pau e batedeira dão o ritmo da cozinha. O jovem chef com muita delicadeza e esmero prepara os bolos temáticos, dando a eles vida própria. Enquanto prepara os designs dos confeitos, em sua mente notas musicais de tons altíssimos desenham o cantar do tenor que de tão doce viver e estudar já consegue alcançar  tons que somente vozes femininas como as de Maria Callas ou Monteserrat Caballé conseguiriam imprimir nas canções. Volta para os bolos e reproduz claves de sol, pianos, flores, instrumentos musicais. Se divide entre a cozinha e a música e tem um grande sonho: do adolescente que um dia cantou o tema de O Fantasma da Ópera no chuveiro se transformar num cantor de palcos pelo mundo afora. 
Essa história poderia muito bem ser o enredo de alguma ópera ou quem sabe de um musical da Broadway, ou mesmo da Disney.  Mas é a história de Hiago Rosas, 27 anos natural de Guaratinguetá, no Vale do Paraíba. Proprietário da Rei Doce (https://instagram.com/reidoce.bolos) se divide entre a confeitaria e o canto, e tem em sua mãe, Luciene, sua grande fã e apoiadora. O jovem ainda ministra aulas de confeitaria desde 2018 e já participou de programas de tevê mostrando sua didática e experiência pelas tevês Aparecida e Thati (SBT). 
Hiago contou sua história com a música para o Falando em Sol, e é o entrevistado de hoje.


F.SComo surgiu seu interesse pela música?

 A música se fez presente na minha vida com maior intensidade a partir de 2007... Comecei como um adolescente gótico (risos) que amava bandas de metal sinfônico, como Evanescence, Within Temptation e Nightwish... Desde essa época, já amava o instrumental clássico e as vozes líricas, com aquele vibrato inconfundível. Depois daí, me interessei por rock japonês e algumas óperas (como as famosas árias da rainha da noite, da ópera flauta mágica, de Mozart), mas até então era somente ouvir. Era impensável cantar daquela forma.

Então, um dia, eu comprei um DVD da versão mais atual de O fantasma da ópera (com Gerard Buttler) e fiquei simplesmente fascinado. Depois de assistir ao filme, fui tomar um banho, e durante o banho eu pensei “será que eu conseguiria cantar aquelas músicas? ”, e então, instintivamente, cantei oq achava que sabia e, curiosamente, não ficou tão ruim quanto eu esperava (já considerando nos cálculos que a acústica do banheiro é maravilhosa e que muitos de nós já fizeram turnês mundiais em banhos (risos)). Depois desse episódio, minha mãe (minha maior e mais maravilhosa tiete) entrou no banheiro, correndo, e disse “nossa, Hiago, que voz é essa? É Pavarotti?

Claro, eu fiquei me achando, mas aquilo me estimulou e eu resolvi procurar uma aula de canto lírico, e me iniciei em uma escola de música daqui de Guará, onde tive as primeiras noções.



F.S-  Quais cantoras ou cantores te inspiraram? Quem foram suas referências?

Como eu adoro tanto ópera quando metal sinfônico, cada referência contribuiu muito para pontos específicos... Já que, no metal sinfônico, você tem o vibrato lírico, mas mesclado com um drive ou com belting, então, cantores como Dianne van Giersbergen (Xandria), Tarja Turunen (Nightwish) e Lori Lewis (Therion) me ajudaram muito nisso. São cantoras incríveis.

No campo da ópera, como eu sempre tive um amor incondicional por agudos, coloraturas extremamente rápidas e muito vibrato, cantoras como Cecilia Bartoli, Natalie Dessay, Luciana Serra e Diana Damrau, que são de coloratura, sempre foram ícones para mim. Até mesmo William Matteuzzi, Juan Diego Florez e Luciano Pavarotti, que possuem, também, agilidade e uma pleníssima extensão aguda.

Como contratenor, que é meu timbre atual, sou apaixonado por Philippe Jarrousky e Andreas Scholl.

Por conseguinte, minha voz de tenor (sim, sou tenor de nascimento, o Hiago contratenor foi enxertado (risos) é bastante aguda, ágil e bem versátil, então, essas referências só incentivaram e consolidaram algo para o que já tinha inclinação, e estiveram e continuarão presentes em todos os meus estudos, em nível técnico, interpretativo, etc.



F.S-  Como a ópera entrou de vez na tua vida?

Conforme eu havia dito na minha pergunta, foi algo proveniente de paixão + instinto, e quando vi, estava estudando canto lírico e não pretendo cessar até o fim da vida. A ópera é um grande amor da minha vida (inclusive, sinto muito que muitas pessoas, ainda, tenham tanto preconceito e má interpretação para com ela)

Minha verdadeira vivência no canto lírico começou em 2015 quando residi em Campo Grande MS, onde a maravilhosa Edineide Dias me ensinou a verdadeira essência do canto lírico e me escalava para concertos (eu quase infartava de nervoso, mas a crença dela em mim me motivava). Depois dessa base, quando voltei ao vale do paraíba, fui ensinado por Patrícia Teixeira e Mere Oliveira, ambas divas maravilhosas, com quem aprendo até hoje .Minha primeira apresentação como solista foi no teatro Aracy Balabanian, em Campo Grande (eu estava tão nervoso, que me agarrei ao piano durante o ato (risos)), depois no teatro Glauce Rocha e no CRAS dessa mesma cidade. Quando retornei ao vale, ingressei no Ópera Studio Vale, sob regência da soprano Juliana Christmann e direção da Mere Oliveira... Estar nesse grupo me agregou muito experiência em diversos lugares, como o hotel Toriba e o teatro Cláudio Santoro (campos do Jordão), teatro Metrópole (Taubaté). Além disso, já cantei no Museu Frei Galvão, no antigo Vivarte (Guaratinguetá), no Teresa D’Ávila e em alguns outros lugares em São José e São Paulo Capital.



F.S- Como é conciliar a carreira de Cake Designer com a de artista da música?

Depende muito da época. Por exemplo, agora no fim do ano, é uma dinâmica insana, pois ambas as áreas são muito requisitadas, então (não tem outra forma de dizer) eu fico completamente louco, já que minhas duas agendas ficam repletas. A forma que encontro para dar conta de tudo, já que eu realmente não recuso trabalho, é fazer um planejamento e estudo adiantado (no caso da música, de repertório para oferecer; e na confeitaria, um cardápio bem montado e divulgado com o máximo de antecedência), para que eu consiga atender a tudo.

Tenho uma personalidade propensa ao vício por trabalho, então, esse excesso só me incomoda se eu não planejar bem.

Durante o restante do ano, a parte musical é mais esporádica (por vezes, tem um leve pico próximo do meio do ano), o que facilita para os picos na área de confeitaria, como na Páscoa, por exemplo.

F.S - A música te inspira na criação dos bolos?

Diretamente, não, exceto quando quero criar algum instrumento comestível (como o bolo de piano). Porém, quando fico horas e horas trabalhando na cozinha, poucas coisas me estimulam mais do que uma boa missa réquiem, ópera ou concerto (sim, por muitas vezes eu canto enquanto confeito)



F.S- Qual teu grande sonho?

Dentro da área da música, eu sonho em construir uma carreira sólida dentro da ópera. Nada equivale àquele momento em que vc vive a música e a sente fluir por cada poro e fibra do seu corpo... Os instantes mágicos onde só existe você e o arco íris de instrumentos. Eu sonho em viver isso, alcançando o auge do aprimoramento técnico (que é vital, claro). 

Também, lecionar é algo que amo demais e está intrínseco em mim, tanto na música quanto na confeitaria. Portanto, é um sonho complementar.


Comentários

  1. Parabéns! que Deus abençoe sempre!!❤

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  2. Lindo, vc sempre um espetáculo. Parabéns

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  3. Esse rapaz é um grande exemplo de persistência, sem falar em um cantor que tem um futuro enorme pra frente, parabéns, continue evoluindo ❤️

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  4. Parabéns Hiago! Que vc alcance cada vez mais voos mais altos!! Sua voz é maravilhosa, e seus bolos são divinos!!! Amo ver e ouvir vc cantar ave Maria!!! Bjs e sucesso, Ana Paula Maximiano !

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