Mistura - álbum conceitual que misturou samba e eletrônico lançado pela BMG no ano em que a economia do Brasil "bugou"
Foto: Tatiana Valente
O Spotify publicou ontem uma retrospectiva.
Ouvi 28.916 minutos de música. Me assustei. Afinal seriam aproximadamente 20 dias ouvindo música sem parar. Esses minutos foram divididos entre 1.324 artistas. É gente pra caramba...
Mas segundo o aplicativo um não saiu da minha cabeça. E é bem verdade que há 31 anos ele é dono do meu coração. Lulu Santos, Lux, £ux e para mim sempre será meu amor Luiz Maurício (sorry Clebson) . Ele é o "rei do iê iê iê" no meu hit parade.
"Uma febre sem cura, fissura, não tem mais volta" e "não há dodecassílabo que me explique a razão, o porquê".
Daí, com essas canções na ponta da língua e dos dedos resolvi falar hoje na longa saga "Lulu e eu" sobre um álbum lançado em 1989, "Popsambalanço e Outras Levadas".
Era tão apaixonada pela foto da contracapa que imprimi e colei no meu caderno encapado de preto. As meninas tinham a foto do Leo di Caprio, dos Backstreet Boys, do Chorão. Lulu era só meu, e os meninos da minha sala me "alugavam". E eu mandava eles pra...
Óbvio que era inveja de minha devoção afinal, como diz o ditado "quem desdenha quer..."
Mas pra entender o LP é preciso sacar o que rolava no nosso país naquela época. Produzir um álbum fonográfico não é algo fácil. Além de muito trabalho e muitas pessoas envolvidas existe toda uma criação de conceito que não vemos. E "Popsambalanço e Outras Levadas" era assim, cheio de novidades. Uma mistura -no fim da década de 80, marcada pela ascensão do rock nacional- de samba, música pop e eletrônico. Nas onze canções do álbum é possível perceber nos ritmos as misturas deliciosas que Lulu e os músicos que ali tocaram propuseram. Marcelo Costa (bateria); Marcos Amma (percussão); Décio Crispim (baixo); Sacha Amback (teclados e samples) e Milton Guedes (vocais) participaram da criação de um trabalho que antecedeu as propostas de Chico Science e do drum'n'bass que dominou o país nos anos 2000. "Vicino", ainda tinha um "quê" de rock que tem uma guitarra de arrepiar e uma curiosidade : na introdução contou com a participação do Menudo Robby Rosa contando "uno, dos, tres,cuatro".
As composições são todas de Lulu, em "Eu Não" e "Pop Coração" tem parceria de Nelson Motta e "Vicino" de Tavinho Paes. Foi por meio desta obra que conheci "Samba dos Animais", do compositor Jorge Mautner . "Brumário", primeira música do álbum foi a escolhida para tocar nas rádios e é a cara de Jorge Ben. "Os Sobreviventes", dava um indício de que algo não ia bem no mundo e em "Perguntas", o compositor dava voz ao que de fato acontecia no nosso Brasil de 1989. " O que é que há, onde já se viu, miséria igual a que se vive aqui".
Nesse ano a economia do país, como dizem os jovens de hoje, "bugou" e o índice de inflação chegou a quase 2.000% o que foi chamado de hiperinflação. Os preços nos mercados ficaram totalmente descontrolados e as pessoas corriam para garantir suas compras, pois a instabilidade e a incerteza do que aconteceria no país eram constantes. Faltou carne, faltou leite e faltou paz para os brasileiros. E para quem vivia de arte, pior ainda. Aí Lulu foi na TV, deu uma de Tatiana Valente e falou o que pensava. Afinal, o povo não aguentava mais...
O resto da história...já sabem.
E hoje, minha Quinta da Saudade vai dividir com vocês essa canção "pro alto, vibrando alegria" que é Brumário e esse vídeo, dele no Faustão com essa banda maravilhosa, que amo de paixão...
P.S: Lulu estará no Rock in Rio ano que vem, como esteve há quase quarenta anos. Mas essa é uma outra história...
Adorei o texto. Apesar deste ser o álbum dele que eu ouço menos, eu gosto muito da música Brumário e Samba dos animais que ele interpretou perfeitamente 👍😉
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