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Quinta da Saudade : " A tua saudade corta como aço de navaia"



Cuitelinho - canção presente no LP Cio da Terra, gravada por Pena Branca & Xavantinho no ano de 1987
Foto: Reprodução LP



Hoje é dia de saudade. 
Troço besta esse tal de #tbt né?
Quando a gente vê está ali, revirando um baú de fotos, revivendo momentos, histórias e quando se vê o "zóio" está cheinho de água. Pra esse sentimento que chega a cortar de tão doído se dá o nome de "saudade". 
E eu tenho muitas. Tenho mais de um baú repleto de saudades. Como se um batalhão de facas cortantes e afiadas estivessem a espreita pra toda quinta- feira me cortar a alma. Mas uma saudade em especial tenho do tempo em que era ainda uma criança. 
As crianças não se preocupam em agradar ninguém muito menos em ser quem não são. Agem por impulso, e algumas, falantes como eu soltam o que lhes vem na telha. Elas sim, são desprovidas da hipocrisia imposta pelos adultos. A criança não se preocupa se o verbo está em concordância com o sujeito ou com o predicado. Ela só quer comunicar. Tampouco se preocupa com a grafia ou a dicção perfeita da palavra: reproduz exatamente o que ouve e as pessoas do interior ,que crescem ouvindo esse jeito ingênuo de se expressar, assim o reproduzem vida afora.
O adulto da cidade  é tão chato que deu a esse "jeitinho de falar" o nome de  "variação linguística". Alguns chamam de "modo caipira" de falar. 
Trago em minha saudade, meus "erres" carregados, minha essência, coisa de quem nasceu na cidade mas viveu grande parte de sua vida no interior do Vale do Paraíba, ouvindo o que chamam de "variação linguística" como forma natural de se falar. "Ãssim", "ontionte", a "paia", o "mío" e todos os "erres" na "poirta", na "cairne" e no "coirte da saudade".
Como já contei aqui por inúmeras vezes, a dupla Pena Branca e Xavantinho faz parte da trilha sonora da minha infância. E eu, com minha voz de taquara rachada ainda criança me sentia muito a vontade cantando " a tua saudade coiRta como aço de navaia",  verso de Cuitelinho, gravada por eles em 1987 no álbum Cio da Terra. Talvez todo esse conforto sentido vinha por uma identificação com o modo simples e sincero de cantar. Ser o que é, sem fingimentos.
A canção de três estrofes  é  parte do folclore popular, recolhido no Rio Paraná por Antônio Carlos Xandó, amigo de Paulo Vanzolini, que escreveu a outra parte da cantiga, já gravada por Nara Leão, Milton Nascimento, Diana Pequeno, Mônica Salmaso e Renato Teixeira. Por falar em Renato, ele acaba de estrear um programa belíssimo na TV Culura, "Balaio" na companhia de seu filho Chico, um jeitinho bom de matar a saudade de Boldrin.
Mas hoje vou dividir aqui com vocês " Cuitelinho", num #tbt em que me senti muito a vontade de resgatar a Tatiana criança, que cantava com seus "erres" e sem vergonha de ser quem realmente era: feliz.
Curiosidade Cultural : Cuitelinho é o nome que se dá ao beija-flor no Pantanal, de onde veio essa canção.










 

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