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Quinta da Saudade : " Cuidaremos das nossas vidas até a beira da nossa morte"

 


Resiliência -  amanhã, 12 de janeiro, em todo país acontecerá  o encontro ciclístico #JulietaPresente, um ato pela liberdade


Jujuba- a veterinária e artista Venezuelana Julieta Hernández, que levou alegria por todo Brasil


"Estamos sãs, irmãs, Estamos fortes 

Cuidaremos das nossas vidas

Até a beira da nossa morte!"

   ( Ana Costa/ Zélia Duncan)

Nos primeiros dias do ano terminei a leitura do livro " Com amor, Mata Hari", da escritora  Yannick Murphy. A dançarina de origem holandesa chama minha atenção há anos: todo mundo fala da espiã, daquela que tinha vários amantes, da artista que hipnotizava a todos com sua dança exótica e sensual, da femme fatale. Mas o que não se conta é que antes de Margaretha se tornar Mata Hari, ou o olho do dia, era uma mulher que viveu um relacionamento abusivo, teve um filho assassinado e a guarda da filha tomada pelo marido militar. Foi difamada a ponto de não conseguir mais emprego em lugar algum, e foi a arte que deu a ela a esperança de um dia ter novamente a filha nos braços. Foi acusada de trair a França e fuzilada. Em 1910, uma mulher livre era considerada ofensa para a sociedade patriarcal.
Precisaram calar sua voz. Sabia demais. E ali com a história na cabeça, indignada, comecei a observar as manchetes dos jornais na Internet.
"Mulher é assassinada a tiros pelo ex-marido na frente da filha". " Miss Trans é deixada em porta-malas após sofrer abusos". " Vídeo mostra garota de programa sendo arrastada em mala após ser morta". " Homem é acusado de manter mulher em cativeiro por mais de 4 anos". "Homem fica furioso com jogo do 'Tigrinho' e agride a mulher com chutes e mordidas". 
"Artista venezuelana desaparece ao pedalar pelo interior do Amazonas".
De todas essas manchetes a última me deu ao menos uma esperança: algo poderia ter acontecido e a mulher da matéria, a cicloviajante Julieta Hernández Martinez de 38 anos ainda seria encontrada com vida. Talvez vestida como a palhaça  Jujuba, personagem que levava alegria por onde passava. Seu destino final seria a cidade de Puerto Ordaz, na Venezuela onde encontraria sua mãe. Pensei aqui: "uma mulher livre. Livre para levar sua arte para onde quiser. Que esteja bem e salva."
Alguns dias depois minha esperança desta história, ao menos, ter um desfecho diferente das outras que li, veio abaixo.
" Venezuelana foi roubada, agredida e abusada antes de ser morta no AM", dizia a manchete do site Metrópoles. O corpo de Julieta foi encontrado, segundo informações da Polícia  abusada sexualmente antes de ser morta por um casal que morava numa casa que servia de "ponto de apoio" para pessoas que viajam pela rodovia BR-174. As matérias contavam ainda que o homem teria cometido o abuso e a esposa com ciúmes a assassinou. 
As redes sociais estamparam imagens de Julieta, formada em medicina veterinária, que veio para nosso país em 2015 para estudar teatro. Se transformou numa palhaça e levava sua arte por todos os cantos de nosso país. A arte a libertou. E uma mulher livre ainda ofende a sociedade patriarcal.
Só existe um caminho para mudanças das manchetes dos jornais: a conscientização do poder de nossa união. Uma pela outra. Não uma contra a outra. Uma libertando a outra. Atentas. Resilientes. Como flores que nascem nos asfaltos.
Como sugere a  música de Ana Costa e Zélia Duncan que coloquei ali no início desse texto: " Estamos sãs, estamos fortes. cuidaremos de nossas vidas até a beira da nossa morte".
Amanhã, 12 de janeiro, em várias cidades do país acontecerá a manifestação "#JulietaPresente, um ato pela liberdade". É possível conferir horários e pontos de encontro na https://www.instagram.com/uniaodeciclistas/.
Para a minha Quinta da Saudade de hoje vou deixar "Não é Não", canção escrita por Ana Costa e Zélia Duncan no ano de 2019, do álbum "Eu Sou Mulher, Eu Sou Feliz". 








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