Homenagem- cantora, compositora e ativista lança seu segundo single no dia do aniversário de Renato Russo e do rock feito na capital do país
Foto: Fred Brasiliense
Em mil novecentos e noventa e cinco Renato Russo lançou o álbum "Equilíbrio Distante" que trazia em uma de suas faixas a música "La Forza Della Vitta", com uma interpretação emocionante para a canção de Paolo Valessi e Beppe Datti. A letra fala sobre a força que tem a vida mesmo diante toda falta de esperança, e poderia perfeitamente descrever a garra da compositora e cantora brasiliense Anna Carolina Rocha, que hoje, no dia do aniversário de Russo lança seu segundo single " Welcome to the Real World".
A música, disponível em todas as plataformas tem como público alvo os amantes do bom e velho rock and roll e a data de lançamento foi escolhida também por ser comemorado o Dia do Rock Brasiliense.
" Eu tive contato com a obra de Renato Russo, na verdade com toda obra do rock dos anos 80 ainda muito cedo, nasci nessa década e tenho um irmão seis anos mais velho que eu, então recebi muita influência do que ele ouvia, e basicamente ele ouvia rock dos anos 80/70 nacional e internacional. Isso fez com que eu ouvisse todo esse movimento efervescente dessa década do Brasil e foi muito importante para minha formação musical, o rock é gênero favorito, embora seja uma pessoa muito eclética. Sendo música de qualidade com melodia de qualidade está valendo", conta a artista.
Anna, nascida numa família onde a música era constante em sua casa, redigiu seu primeiro poema aos quatro anos e nos anos seguintes produziu outros textos, mas os considerava muito infantis. Aproximadamente aos dez anos de idade decidiu que iria parar de escrever porque não conseguia compor músicas como aquelas que ouvia, justamente as composições do rock nacional. Só tornou a escrever na adolescência, quando passou a criar canções tanto em inglês como em português. Foi aí então que a menina deu voz à ativista em Doenças Raras, da portadora de Epidermólise Bolhosa que por meio de suas letras e de sua arte narra sobre a "dor e a delícia de ser o que é". Fala sobre os "altos e baixos", preconceitos e a experiência da invisibilidade, aumentada com a evolução de seu quadro pessoa com mobilidade reduzida para a condição de cadeirante.
" A música para mim sempre foi uma forma de desabafo. De poder colocar para fora meus sentimentos que infelizmente a maioria das pessoas não irá compreender por não saber da realidade de uma pessoa com doença rara e com deficiência. Elas não vivem isso na própria pele, conseguem no máximo imaginar o que está se passando. Foi sempre esse intuito, ter um meio de poder colocar tudo isso para fora e, embora na minha temática não fale diretamente sobre preconceito nas minhas letras, é uma forma também de combater essa invisibilidade. Até porque nós, pessoas com deficiência, doenças raras queremos ser vistos como pessoas, não é que só possamos falar sobre esse assunto, queremos ser vistos como pessoas que falam sobre qualquer assunto. Por isso hoje não se usa mais termos como portador de deficiência ou portador de doença rara. O termo adequado é pessoa com deficiência, pessoa com doença rara. Em primeiro lugar somos pessoas como quaisquer outras e que por acaso temos essa condição diferenciada no nosso corpo e conseguir mostrar para todos que podemos fazer muito do que a maioria julga 'normal' é muito importante. Porque mostra para a sociedade que ok, temos nossas limitações, talvez mais visíveis mas é uma forma de combate ao preconceito a partir do momento em que estamos inseridos nela e fazendo coisas que todos estão fazendo , esta é uma forma da gente sair da invisibilidade e tentar diminuir o preconceito no nosso país", afirma Anna.
Em fevereiro deste ano a artista lançou " Antimatéria Ambulante", que faz um jogo com palavras de sua rotina, criando um poema com um quê de Arnaldo Antunes em ritmo de rock. Desta vez em " Welcome to the Real World", Anna canta a solidão de quem vive em um mundo de sombras, na qual mostra uma mulher que tem na musica, algo fundamental na sua vida, um alimento de sua alma.
" Meu mundo real é um mundo bem diferenciado do da maioria das outras pessoas. Conquistei muitas coisas por meio do meu trabalho, por meio da minha dedicação aos estudos, então hoje consigo ter um padrão de vida bom, que atende minhas necessidades. Mas ao mesmo tempo tem a outra parte deste mundo que não é boa, o de conviver com todas as questões de saúde que eu convivo. Não é uma rotina fácil, tanto a rotina diária, algumas restrições que tenho, como as alimentares, o fato de eu não conseguir sair sozinha de casa, hoje em dia por ter me tornado uma pessoa cadeirante recentemente, toda rotina de consultas, de exames que semanalmente ou alguma coisa nesse sentido estou fazendo. Minha própria rotina pessoal em casa é demorada , é trabalhosa, mas mesmo com tudo isso busco seguir com um sorriso no rosto e transmitir o melhor para as pessoas. Boa parte dos meus problemas não são da conta de ninguém, as pessoas não compreenderiam, eu deixo para desabafar na música, desabafar com os profissionais adequados, os amigos com quem posso desabafar, busco levar para as pessoas essa mensagem que apesar de tudo que eu passo, sigo a minha vida e tento fazer dela o mais leve, a mais gostosa e divertida possível. Antigamente eu ficava tentando viver dentro da normalidade ,tentando ter uma vida comum, mas já entendo que tenho uma vida extraordinária," disse a compositora que contou ainda sobre o mundo com o qual sonha cantar.
" Eu sonho com um mundo em que as pessoas sejam respeitadas pelo que elas são e que sejam vistas como pessoas dignas de viver em sociedade e capazes de fazer tudo o que desejam fazer, que não sejam subjugadas pelos aspectos que são visíveis de suas aparências. Quem tem uma deficiência visível sofre diariamente episódios de preconceito, então basta sair de casa e ir para algum lugar diferente do que você está acostumada a ir que provavelmente algum episódio de preconceito irá acontecer. Infelizmente depois que me tornei cadeirante esse preconceito aumentou muito. Quando era uma pessoa só com mobilidade reduzida o preconceito era menor e o fato de eu estar em uma cadeira de rodas faz com que muitas pessoas acreditem que eu não raciocino, que não posso responder por mim mesma, fazem perguntas para a pessoa que está me acompanhando, não para mim, não sou tratada coma devida dignidade. Isso se expande para outras deficiências, para deficiências invisíveis, muitas vezes as pessoas são julgadas por terem uma aparência saudável mas não sabem as complicações que têm ali dentro, se expandem para outros grupos como as pessoas pretas, LGBTQIA+, as pessoas que estão lutando para diminuir a gordofobia, então somos grupos, todos irmãos, que sofremos diariamente preconceito por sermos quem somos, simplesmente por existirmos e porque nos atrevemos a viver em uma sociedade, ao sairmos dos nossos guetos, de nossas casas e irmos para as ruas viver uma vida como qualquer outra pessoa. Então o que sonho para esse mundo é isso: não ter de aguentar preconceitos, julgamentos do que somos capazes ou não de fazer", conclui.
Para conhecer " Welcome to the Real World basta acessar o link. A música está disponível em todas as plataformas.
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