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Entrevista - As infinitas cores da paleta musical de Julia Guedes


Multifacetada- A artista mineira Julia Guedes prepara álbum com canções autorais e traz em sua alma a essência livre de quem transita por todas as artes
Foto: Rodrigo Bressane

Preparar um texto abre de uma entrevista aproxima o jornalista de um pintor. É essa introdução a responsável por apresentar ao leitor quais as características ou o perfil do entrevistado. De uma forma comparativa palavras são como as tinhas e pincéis nas mãos de quem escreve. Para poder "pintar" Julia Guedes, pedi ajuda para a deusa Música, assim como faço frequentemente e  busquei nela informações vindas das fontes de inspiração da escolha de seu nome : musas de nome Julia.

 A primeira veio de John Lennon, do ano de 1968, dedicada para a sua mãe e nela cada trecho da canção parecia desenhar minha entrevistada com uma caneta de ponta fina cheia de nanquim e traços precisos :" Julia, olhos de concha, sorriso de céu ventoso, cabelos de céu flutuantes" . Pra completar o quadro recorro à Dona Julia, canção instrumental de seu avô Beto Guedes em parceria com o primo Luiz coincidentemente em homenagem a sua mãe . Recebo uma paleta diversa de cores musicais, com uma melodia capitaneada por  saxofones e uma explosão harmônica com ares de Minas Gerais. Uma mistura sensorial dando origem a um quadro único. Corro os olhos na ficha técnica do álbum " Contos da Lua Vaga" lançado no ano de 1981. É dedicado ao Beatle John.

E Julia, minha entrevistada é assim: uma miscelânea artística multicolorida. Artista visual, designer, musicista, professora de piano, cantora e compositora baila como um pincel em uma paleta pelas artes. Em constante transformação busca por meio das manifestações artísticas entender qual sua missão nesse mundo, além de levar adiante toda árvore genealógica repleta de artistas conhecida no país. Bisneta, neta e filha de músicos, musicistas, artistas plásticos, poetisa e professora , a menina de vinte e dois anos procura por meio da composição traçar seu próprio caminho, numa busca por uma verdade que exige dela dedicação de corpo e alma. Nascida em Belo Horizonte, atualmente morando no Rio de Janeiro prepara com muito entusiasmo seu primeiro álbum e adianta que o trabalho tem uma mistura de música dos anos 70 com o que há de contemporâneo.  Nessa sexta, 26 de abril, o público da capital mineira poderá sentir um gostinho de suas composições no show "Salve a Compositora", no Sesc Palladium.

" O público pode esperar frescor e espontaneidade e desejo de estar no palco, pode esperar uma menina muito ávida para mostrar o que esta fazendo", adianta a artista, que contou sua história em entrevista ao Falando em Sol.

(Tatiana Valente)


F.S - Como foi crescer em um lar musical? Quais suas primeiras lembranças relacionadas à música?

Foi muito natural, é uma pergunta que quando me fazem nem sei falar se foi muito bom ou ruim porque é a forma que foi, não tenho outras referências. Eu lembro que  música sempre foi uma forma de se comunicar, comum tanto comigo como com meu pai, minha mão, esse núcleo familiar menor quanto com as outras pessoas da família. Tenho família de artistas pelos dois lados, a família da minha mãe também tem músicos incríveis, artistas plásticos, professores, então sempre era tudo regado a música. Todos os encontros tinham gente cantando, dançando, tocando. Acho que minhas primeiras lembranças relacionadas a música são justamente  na casa da minha avó Silvana que meu pai chamava o quarteto de cordas e fazia um churrasco, a galera ia e fazia uma roda de choro ou na minha família  materna, minha avó sempre teve bar e meus tios discotecavam, colocavam vinil, tocavam saxofone. Minhas primeiras lembranças  sempre são em ambiente de família com muita gente tocando e colorindo.

F.S - Em 2022 você se apresentou com seu pai, tio e irmã no show "Quatro Estações". Como é cantar em família?

Em 2022 nós fizemos o "Família Guedes", era um espetáculo tocando o repertório da minha família, meu bisavô Godofredo, meu avô Beto, meu pai Gabriel, meu tio Ian e acho uma ou duas músicas minhas também.  E aí foi difícil vou ser bem sincera, no momento do palco todas as tensões se esvaem e acho que o que a gente fez teve um propósito bonito, teve essa intenção de homenagear minha família e mostrar que existem compositores atuais nela, que a coisa não acaba com meu avô, muito pelo contrário, ela passa por ele. Mas minha família Guedes é muito intensa, todo mundo tem uma própria linguagem musical e não foi fácil a gente se entender para conseguir fazer o show mas a gente passou por cima e achou uma forma de lidar com as nossas diferenças em prol do que vibra em todo mundo que é a música.

F.S - Você ainda é uma menina. Qual a responsabilidade de levar adiante o legado dos Guedes?

Nossa... isso já passou por tantas fases. Já foi algo que eu não tinha a menor pretensão até uma enorme pressão, pressão que ainda existe de vários lados internos e externos mas, que estou construindo uma maturidade para entender e não deixar que isso afete meu trabalho. Acho que a grande virada de chave da minha vida foi entender que o que é meu é meu. Não é da minha família, não é do público o que eu faço dialoga com o que eu sinto, está um pouco além desses julgamentos e comparações, que não é julgável, existe para ser sentido da forma que é. Então atualmente é uma honra, me sinto muito honrada, privilegiada de nascer perto de uma música tão bonita, tão genuína.

F.S- De Julia você herdou o nome. De Godofredo os dons da música e das artes plásticas. Como você se vê como artista?

Verdade, por causa da minha bisavó Júlia, por causa de uma tia que tive, que morreu de câncer, Julia também e pasmem, por causa da música dos Beatles, "Julia", (canta). Todo mundo é doido pelos Beatles lá em casa né? De Godofredo e também de Tio Grilo, por parte de mamãe. Eu me vejo como... artista ( risos). Acho que mais que achar categorias, porque sou musicista, sou artista visual, sou designer e cada um desses ares tem ramificações. Do designer vou pro audiovisual, da música vou para a composição, vou para a interpretação mas acho que a forma como me vejo é a forma que junta todas essas formas de existir, como ser artista. Sinto que o que eu faço na música está conectado com o que eu pinto, que está conectado com o designer então essa sinergia que eu proponho, vem de forma muito natural me faz crer que tudo é uma coisa só.


F.S- Em matéria publicada aqui no Falando em Sol em 5/12/2022 você afirmou que "viu que ser artista é uma escolha, não uma necessidade". De que é essa necessidade?

Eu não sei. Eu realmente não sei de que é essa necessidade, só sei que é grande, toma conta de mim e me leva a passar horas, horas e horas fazendo uma mesma "coisa" e aí dias sem interagir com essa "coisa",  em outra área mas acho que vejo um movimento, talvez de me entender, de entender o mundo, acho que estou numa idade muito nessa busca desses entendimentos. Não sei se isso vai passar um dia, se é só da minha natureza, sempre foi assim, mas sinto que conecto com alguma coisa (risos), nem que seja comigo mesma. 

F.S- Como surgiu a Julia compositora?

A Julia compositora existe desde que sou criança, comecei a tocar piano não me lembro quando, acho que talvez com meus quatro anos, essa coisa do meu pai ser pianista, sempre me colocava para tocar uma coisinha ou outra, aí com meus oito anos de idade comecei a querer compor , via meu pai compondo e falava, vou fazer minhas músicas. Não sei se só por isso, porque sempre gostei de brincar no piano, sentar nele e tocar nada em específico, só brincar. E sempre foi natural para mim compor. Durante a adolescência também compunha músicas muito adolescentes de amor e de não saber meu lugar no mundo, que não é muito diferente do que faço agora (risos),mas é. Teve um período que eu fiquei sem compor, estudava para  medicina e tive um relacionamento que me travou um pouco, me trouxe alguns bloqueios e aí depois disso foi que virou a chave realmente, tipo: peraí, deixa eu voltar para mim, deixa eu entender o que é minha coisa. A composição é minha coisa, sempre soube que era compositora, sempre soube que era arranjadora então 2022 foi o ano em que me assumi como compositora mesmo.

F.S- Vem lançamento por aí? 

Vem lançamentos por aí, sim senhora (canta melodiosamente). Poxa, estou muito, muito empolgada porque está sendo um processo. O primeiro lançamento é um parto, porque é uma mistura de perfeccionismo, de querer que a coisa saia logo, e aí tem o tempo das pessoas que estão envolvidas que não geralmente não é o seu tempo, no caso, meu tempo é acelerado. Então, desde quando comecei a gravar essas primeiras músicas  pra cá, já tem uns oito meses ou mais, eu já amadureci, já tive várias crises de achar : preciso lançar logo. Agora estou de boa, tentando tomar as rédeas para não ficar livre demais. Mas estou muito empolgada pra por no mundo minhas músicas. Estou gravando no estúdio do     Kassin (Kamal) com o Lucca Noacco nós dois estamos produzindo, tem músicos incríveis participando das músicas, estou tocando as teclas na primeira canção, Lucca na guitarra, Estevan Barbosa na bateria, tem o Tomás Improta, pianista do Caetano, meu amigo maravilhoso tocando na segunda música, vai ter arranjo de sopros do Jorge Continentino,  a Tori fazendo  coros comigo, vai ser uma festa das confluências. Para mim a minha música dialoga coma  década de 70 e dialoga com o que é muito contemporâneo, as músicas autorais que eu adoro ouvir.



Comentários

  1. A Júlia é muito talentosa e tem um caminho longo e prazeroso a percorrer no mundo da música! A ela, todo o sucesso na vida! A Família Guedes está no coração de todos nós!

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    1. Sim...amamos a Família Guedes... no nosso coração e na nossa trilha ❤️🌹🙏

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  2. Parabéns para a Júlia Guedes que se reconectou com seu universo musical e está prestes a nos brindar com pérolas musicais.
    Siga em Frente Júlia.
    Parabéns para Tatiana Valente por Falando em Sol

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    Respostas
    1. Viva Julia!!!! Muito obrigada pela leitura ❤️🌹🙏🥰

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