Entrevista - Milena Massarani transborda ternura em " Onde devo ir"

Acalanto -  single lançado no último domingo pela cantora e compositora goiana em parceria com o músico Geann Toni traz mensagem de otimismo em meio a dor

Foto:  Alex Malheiros

Se o amor de mãe fosse transformado em uma melodia quantas notas caberiam em uma só escala? Teria pausa? Talvez infinitas notas assim como as estrelas que podemos ver no céu.

Uma única certeza sobre essa composição : seria uma canção repleta de ternura. E é possível sentir todo esse afeto ouvindo " Onde Devo ir", single lançado pela cantora, compositora e musicista  Milena Massarani, em todas as plataformas no dia 7 de abril . 

A música veio "pronta" para ela em um momento de inspiração, onde sentada no sofá recebeu letra e melodia e resolveu com seu ukulele gravar a mensagem que lhe havia sido transmitida. O tempo passou e Milena ao esperar pelo primeiro filho teve a notícia de que sua gravidez era ectópica passando por uma cirurgia e pelo doloroso processo de perda. Foi quando essa canção, como uma mãe querida, a pegou no colo e a acalantou. Então, junto de seu esposo , o músico Geann Toni decidiu honrar a memória do pequeno Matteo e dedicou a ele essa canção, seu segundo single. 

A cantora goiana de 27 anos e de voz doce conversou com o Falando em Sol e lembrou sua trajetória e contou seus futuros projetos na entrevista de hoje.

F.S - Quais suas referências musicais?

Cresci sendo bombardeada por estilos musicais muito diferentes, que passavam

principalmente pelo rock, pop, samba e MPB. Na adolescência ouvia bastante músicas de

bandas alternativas e locais.

Hoje minha maior referência é o cantor Dani Black, com toda a sua naturalidade, sua forma

despretensiosa e única de compor. Tudo que ouço dele parece ter saído do fundo de sua

alma.

F.S Como você começou a cantar e a compor? Pra você a música já existe em outra

dimensão? Você se considera um meio de transmissão das mensagens?

Minha história com a música começou no ventre de minha mãe, que canta em coral junto ao

meu pai há 28 anos. Com certeza eu estava lá absorvendo tudo e aos 5 anos pude entrar

para esse mesmo coral.

A Milena compositora nasceu na infância. Eu compunha muito, a maioria das letras falavam

sobre meu amor pelo planeta, pelas pessoas e sobre nosso dever de sermos bons.(rs)

De uma forma ou de outra fui me envolvendo com a música em todos os momentos da

minha vida.

No início da adolescência cantei na banda da escola. Mais tarde me formei clarinetista no

Instituto Federal de Goiás e estudei canto popular e lírico na Escola do Futuro em Artes

Basileu França. Através dessas duas instituições participei de coros e banda sinfônica.

Me apresentei em vários locais em Goiânia e fiz participações em festivais do cenário

alternativo da cidade. Em um deles fui premiada como uma das ganhadoras do Festival

Canta Cerrado (2019), organizado pelo Teatro SESI.

Desde 2023 sou vocalista da banda RedPocket, grupo musical que cria

releituras com muita personalidade declássicos e hits da música, onde tenho muita liberdade para colocar a minha personalidade musical, cantando as músicas que amo ouvir.

Mas foi em 2019 que comecei a olhar com mais carinho para as minhas composições e em

2023 nasceu meu primeiro single "Pra longe", seguido por "Onde devo ir" (2024).

Não sei dizer se a música existe em outra dimensão, mas que ela tem o poder de nos

transportar para lá, com certeza! E essa é a maior beleza da música!

É inegável que eu acabo me tornando um canal de transmissão, já que todo tipo de arte é

uma comunicação, mas não componho querendo estar num papel onde a minha verdade

seja a de quem está ouvindo.

Eu vejo no canto e na composição além de uma profunda forma de expressão, minha

paixão e busco levar emoção. Gerar identificação. Eu gosto que as pessoas ouçam e

encontrem nas músicas suas próprias realidades, mesmo que os contextos sejam

totalmente diferentes do que pensei em compor.

FS - "Onde devo ir" foi muito importante no seu processo de cura e foi ressignificada,

dedicada ao seu filho. A música para você tem a função de cura?

Sim. Eu considero a música uma das ferramentas mais poderosas para mudança de

frequência dos nossos pensamentos.

Em muitos momentos da minha vida utilizo esse recurso para cura interna de vários

sentimentos. Eu só não esperava que minha própria composição fosse tomar esse lugar no

momento mais difícil pra mim, foi uma surpresa.

FS- Qual mensagem você daria para mães que passaram pelo mesmo que você?

Não existe perda sem dor, mas precisa existir a ressignificação. Quando a gente perde um

filho, independentemente da idade dele, vai junto um pedaço de nós e o vazio parece nos

engolir. Mas o amor permanece e toda a dor precisa ser ressignificada para que a gente

possa seguir em frente por eles, que se foram, e principalmente por nós que ainda estamos

aqui.

FS- Geann Toni, seu esposo participou com você da gravação desse single.

Como é fazer música com seu parceiro de vida? É um encontro de alma?

Nós somos muito parecidos e nosso encontro no mundo, nosso relacionamento, por si só já

é um encontro de almas. Fazer música com ele é sempre incrível pra mim, porque ele me

passa todo conforto e segurança para ser eu mesma. Já tocamos juntos e ele participou do

meu primeiro single, como guitarrista. Mas em "Onde devo ir" foi diferente, porque tudo foi

feito por nós e por uma razão só nossa. Além disso, sinto que estamos eternizando o que

somos e deixando o nosso legado para a nossa família.

F.S-  O que vem de novidade por aí? Algum trabalho em parceria com a Melina? Qual a

importância do apoio dela para você?

Agora daremos início às gravações do clipe de "Onde devo ir", estamos ansiosos e também

já pensando nas próximas músicas a serem gravadas. Eu e Geann ficamos realmente muito

felizes com a leveza do processo, com o resultado e queremos dar continuidade ao nosso

trabalho musical juntos.

Por enquanto não temos nada em mente.

Nós sempre nos apoiamos muito em tudo, como irmãs e como amigas. Ter o apoio dela é

essencial, porque ela me inspira muito em todos os âmbitos da vida.