Com Vida - álbum lançado em 1995 que unia Clara Nunes a outras vozes da MPB me apresentou o encanto do Ijexá
Foto : Tatiana Valente
Quando Clara Nunes faleceu eu era muito pequena, não tenho em minha memória registro algum dela. Porém como já contei aqui, nas festas de Natal na minha família paterna era comum participar de rodas de samba. Minha tia avó, a mesma que amava Barracão, gostava também de Lama, composição de Mauro Duarte e sucesso na voz de Clara e assim, por herança, aprendi a cantar. Mas na minha vida a claridade entrou de vez na adolescência quando chegou em casa o álbum " Clara Nunes- Com Vida", um compilado lançado pela EMI no ano de 1995. Neste CD a tecnologia permitia unir a voz de Clara em clássicos como "Morena de Angola", " Na Linha do Mar", " Nação", " Peixe com Coco" , "Viola de Penedo" com intérpretes como Milton Nascimento, Chico Buarque, Elba Ramalho, João Bosco, Nana Caymmi, Martinho da Vila, Roberto Ribeiro, João Nogueira, Paulinho da Viola, Emílio Santiago , Alcione e Marisa Gata Mansa.
Eu, que gostava de cantar e pensava qual seria o repertório que gostaria de ter se acaso um dia cantasse de vera viajava nas canções e nos arranjos. Era esse talvez o caminho, uma vez que Nunes, assim como eu, era uma apaixonada pela nossa cultura e se dedicava ao estudo da origem das músicas e da cultura afro-brasileira. Nossa música brasileira é permeada pelos ritmos africanos, e minha paixão por Ijexá, composição de Edil Pacheco, interpretada por Clara e Gilberto Gil foi imediata. De ouví-la e ter os olhos cheios de lágrimas, sem sequer entender o motivo de tanta comoção.
Mas o que seria um Ijexá?
É um ritmo africano que teve sua origem na cidade de Ilexá, na Nigéria e trazido para o nosso país por iorubás escravizados que em grande número chegaram na Bahia no fim do século XVII. O ritmo é o toque característico afoxé - grupo de cortejo de rua- Filhos de Gandhy, que conta como responsável o nosso imortal da Academia de Letras e pai do "Tempo Rei", Gilberto Gil. No âmbito religioso, é um canto dedicado à Xangô, conhecido como o orixá da justiça.
E hoje, minha quinta da saudade vai dividir com vocês essa canção que tanto amo.
Ijexá- Filhos de Gandhi por esta que vos escreve.
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