Val Becker : empreendedorismo feminino nas ondas da Rádio Graviola

Nas Ondas  - Jornalista abre espaço para artistas independentes em sua webrádio que conta com três prêmios nacionais e é ouvida no mundo todo

Fotos: Divulgação

No ar- em ação no Festival Santa Música em 2012 e  na discotecagem, outra paixão da também cantora, compositora e empreendedora

Fotos: arquivo Val Becker/ Tata Barreto

         

Na década de 70 a pequena gaúcha na cidade de  Porto Alegre observava atentamente a magia acontecer: o prefixo PX ou PY era um indicativo de que por meio de ondas o pai como um deus da mitologia ganharia asas e por meio de ondas sonoras viajaria por todo o mundo. Nessa época não poderia imaginar que estava em seu sangue e em seu destino o dom  da comunicação. O poder de dar asas a artistas independentes para que suas músicas- seus maiores sonhos- voassem rumo ao grande público. 

Assim começou a história de Valéria Becker, jornalista formada pela PUC Rio e responsável pela Rádio Graviola, uma webrádio criada com o intuito de dar visibilidade e apoio para artistas, produtores de conteúdo e projetos independentes que geralmente não encontram espaço nos grandes meios de comunicação.

" A Rádio Graviola foi criada em 2008 por mim, quando ainda não existia nem o streaming. Ela nasceu toda em podcast e de lá para cá nesses quase dezesseis anos - completa mês que vem- a gente tem várias histórias para contar. Em 1996 quando a Internet ainda engatinhava no Brasil  trabalhei com divulgação de discos em rádio, e eu atendia a uma gravadora, um selo independente e não conseguia colocar as músicas destes artistas pra tocar em rádio. Mas olhando um pouquinho mais para trás eu tenho uma ligação com rádio bastante grande: meu pai era radio amador na década de 70, sempre gostei dessa comunicação via rádio, ele já se comunicava com o mundo inteiro antes da Internet de uso pessoal", lembra Valéria, conhecida no meio como Val.

Mas para chegar até a criação da web rádio a jornalista passou por outros trabalhos: foi editora  de conteúdo para a web de uma empresa e ali, com as ferramentas que tinha criou o blog "Inconsciência Plena", que lhe serviu de laboratório e foi o impulso para aprender sobre edição e criação de podcasts. No ano de  2008 decidiu misturar o blog com a tecnologia de podcasts e passou a colocar no ar o conteúdo que gostaria de inserir nas rádios mas não encontrava espaço.

" Em 2010 e 2011 comecei as transmissões em live streaming, porque já tinha o streaming e passei a fazer transmissões ao vivo, quando ninguém fazia. Fiz transmissões de grande porte, até a Secretaria Estadual de Cultura do  Rio Janeiro me convidou para fazer a transmissão ao vivo do Dia Nacional do Choro em 2012 e a história da rádio foi essa: sempre cobrindo eventos e divulgando artistas brasileiros para o mundo, não só o artista independente  como o produtor de conteúdo independente : a pessoa que produz o seu programa e não tem onde exibir. A gente virou uma grande plataforma, janela de exibição de conteúdo independente", conta.

De sua criação para cá a rádio foi conquistando público e sendo reconhecida por sua relevância e pelos serviços prestados à cultura. Nos anos de 2016, 2017 e 2018 foi reconhecida como a melhor webrádio do Brasil pelo Prêmio Profissionais da Música, promovido pela GRV Produções em parceria com a Associação Brasileira de Música Independente (ABMI). Em outubro de 2016 foi indicada ao Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte de São Paulo (APCA-SP) por lançar em formato físico uma coletânea composta exclusivamente por artistas independentes que "surfaram" nas ondas da Graviola.

" A gente lançou uma coletânea com trinta artistas independentes do Brasil. Fizemos uma grande chamada pública e aí cerca de quinhentos artistas se inscreveram. Trinta passaram numa curadoria e prensamos um CD, coletânea Rádio Graviola volume 1 e  esse trabalho foi indicado ao APCA em São Paulo. Temos essa visibilidade e reconhecimento de nosso trabalho em algumas instâncias. Hoje em dia- a gente já tem o CNPJ desde 2011- também é uma empresa, tem a parte de veiculação, a rádio em si mas, tem uma empresa que faz a  gestão dessa rádio que é a Rádio Graviola e Produção Limitada . A empresa também é uma produtora de podcasts,  dá assessoria e consultoria para montar webrádios, promove oficinas de webrádios em diversos projetos, projetos culturais, sociais, eventos. Faço parte do corpo docente da Escola Música & Negócios, já dei aula por ali, hoje em dia eles estão focando na música como negócio e canais diversos, mas continuo como parte do quadro. Então a Rádio Graviola também tem esse viés de dar esse treinamento para quem quer produzir seu próprio conteúdo. Fora isso a gente também produz conteúdo para projetos diversos com foco em quem não tem condições de pagar grandes valores em grandes empresas de produção de podcasts, como projetos sociais, acadêmicos, com menos verbas envolvidas", lembra a empreendedora que se recorda  dos passos dados ao longo dos anos  para conseguir ter o  reconhecimento do público e cita ainda planos futuros.

" Agora a gente está preparando mais uma expansão do projeto da rádio, mais uma, porque ao longo do tempo a gente vem expandindo frentes. Em 2012 foi a grande expansão de visibilidade da rádio. Eu andava não só pelo Rio de Janeiro onde a rádio é domiciliada mas pelo Brasil com uma mochila nas costas, divulgando a rádio, fazendo transmissões ao vivo e tocando como DJ, levando o repertório de artista independente para eventos e festas. Depois em 2016 a expansão em reconhecimento, pelos prêmios e projetos desenvolvidos. Agora a gente está preparando uma equipe para trabalhar na expansão financeira da rádio, fazendo projetos para crescer além do que já tem crescido, temos de ir para frente e se tornar mais forte", vislumbra.

Sororidade 

Uma das missões da Graviola é prezar pela igualdade e diversidade de gêneros, pelo livre pensamento e expressão de ideias e pela inclusão social. A rádio se alinhou ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS nº 5) da ONU, com o objetivo de visar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres por meio da criação e ampliação de espaços destinados  a conteúdos produzidos por ELAS. Além dos programas que assina, Becker conta com um time de DJS, músicos, pesquisadores e jornalistas que compartilham o amor pela música e pela rádio, como a radialista Sarah Mascarenhas idealizadora  do programa  "Hora do Sabbat".

" Eu escolhi a rádio Graviola para ser uma das casas do Hora do Sabbat. Como radialista independente tenho muita dificuldade na distribuição  dos conteúdos, inclusive hoje no universo da 'podosfera' tõ frutífero e tão diverso é cada vez mais difícil a gente se fazer ser visto dentro deste contexto. A Rádio Graviola surgiu no meu caminho por meio de uma pesquisa de webrádios e ela foi uma das que me saltou aos olhos. Me lembro que cheguei a entrar em contato com a Val pela página do Facebook em 2018 mas na época ela estava em um tratamento de saúde e não me respondeu. Nos conhecemos pessoalmente no Prêmio Profissionais da Música em 2019 e lá tive a oportunidade de conhecê-la pessoalmente e dizer :' eu quero estar na sua rádio, meu programa só fala de  mulheres'. A Val adorou a ideia do programa e dialoga com os princípios que a Hora do Sabbat propaga. A Rádio Graviola é uma das rádios que tem esse viés que a gente gosta. De falar da diversidade, de fortalecer os espaços para artistas independentes. Amo essa parceria que começou em 2019, a Val sabe de muita coisa, é muito autodidata e me ensina muito, meu trabalho cresceu estando conectada à Rádio Graviola. A Val é uma enciclopédia, um poço de sabedoria, adoro a rádio como ouvinte, espectadora e como casa da Hora do Sabbath fico muitíssimo satisfeita e espero que cada vez mais a gente possa se fortalecer", celebra Sarah.

Valéria Becker que além de comunicadora e empreendedora atua como DJ, tem na música uma outra paixão: a de compor e cantar. Jornalista independente, e embaixadora do Women's Music Event  foi  indicada como melhor radialista no ano de 2021, e conta  ainda sobre os desafios enfrentados por uma profissional da comunicação não vinculada a grandes meios midiáticos.

" Quando criei a Rádio Graviola o maior desafio era alguém entender o que era uma webrádio e um podcast, porque em 2008 pouquíssimas pessoas falavam sobre isso, aqui no Rio mesmo não me lembro. O desafio inicial era ser reconhecido, quer dizer, até hoje mesmo tem gente que não reconhece como rádio, não sei porque, muitas rádios dial que vão para a Internet por causa do alcance mundial. O desafio  maior é a pessoa conseguir viver do seu ofício de ser uma jornalista independente, que não está vinculada a um veículo maior, que não tem um salário fixo para isso, não é paga por matéria que seja de um veículo tradicional. Para ser independente tem de batalhar muito para conseguir se remunerar a partir de seu trabalho, do que mais gosta de fazer", conclui.

Para conhecer mais sobre a Rádio Graviola e se tornar um ouvinte basta acessar o link https://radiograviola.com/ .