No fim da década de 1970, fruto de um "amor de índio" nascia um menino e um disco. O pai, músico mineiro que fazia parte do movimento Clube da Esquina, pediu para um dos letristas do grupo que fizesse um poema para a melodia que havia composto para filho de nome Gabriel. A música com a doce sonoridade de uma canção de ninar ganhou um vocalize especialíssimo, presente do padrinho de batismo do pequeno, o cantor e compositor Milton Nascimento. Assim, Xexéu - como era chamado por todos- cresceu cercado por instrumentos musicais e rodeado por músicos que foram responsáveis pelo álbum eleito pela revista norte- americana Paste o nono melhor de todos os tempos. Na primeira infância recebeu o chamado da música brincando com "cuatro venezuelano" de cedro do pai, daí para se tornar o multi-instrumentista que é hoje contou com o toque mágico do destino e da música que o abraçou de maneira natural.
Em 2003 entrou no estúdio pela primeira vez e gravou com a participação dos padrinhos Milton Nascimento, Wagner Tiso, do amigo Yamandú Costa e do pai Beto Guedes os choros feitos pelo avô o também músico e artista plástico Godofredo Guedes. Em 2012 lançou o álbum "Gabriel Guedes", onde já pai, gravou músicas homenageando suas filhas, como foi em sua chegada neste mundo.
E depois de aproximadamente quinze anos o músico Gabriel Guedes retorna à Mogi das Cruzes. Nesta sexta-feira, 8 de novembro se apresentará no bar e casa de cultura Maria Fumaça, em Sabaúna. O músico e compositor retornará à cidade com um repertório autoral, canções do Clube da Esquina, músicas instrumentais como tema de cinema tocadas em seu bandolim, Beatles e músicas instrumentais, mostrando aos mogianos toda sua versatilidade.
Direto de sua casa no bairro de Santa Tereza em Belo Horizonte, Gabriel deu uma entrevista ao Falando em Sol, lembrando sua história, e falando sobre a geração atual de músicos, e ainda citou acompanhar novos talentos como a mogiana Gaby Novais.
(Tatiana Valente)
F.S- Você vem de uma família de músicos que começou na Bahia com seu bisavô acordeonista e se tornou um multi-instrumentista. Se lembra do primeiro instrumento que tocou? E o bandolim como nasceu essa paixão?
Nossa. Eu lembro que lá em casa tinha muitos instrumentos. Lembro muito remotamente de fuçar, meu pai tinha um cuatro venezuelano -"uma guitarrinha" pequenininha- ela tinha um cheiro de cedro delicioso, cedro venezuelano e lembro que comecei a brincar. Tenho até uma foto muito antiga, eu criança com uns dois, três anos, brincando com esse "instrumentinho". A paixão pelo bandolim nasceu assim: meu avô - o músico Godofredo Guedes- tinha uma pasta com vários choros, meu pai sempre teve bandolim em casa e eu aprendi a tocar aquela música "Bandolim" dele e então fui fuçando. Depois meu irmão pegou o bandolim do meu pai e começou a tirar um chorinho, aí pensei que massa vou tentar também aí foi assim que comecei.
F.S - Esse ano o choro foi declarado Patrimônio Cultural. Você lançou em 2003 um álbum com os choros de Godofredo, teu bisavô. Como foi realizar este trabalho?
Ter realizado esse trabalho com os choros do meu avô foi uma experiência muito legal, foi meu primeiro álbum, e quando você entra no estúdio pela primeira vez, está "cru", mas foi uma experiência tão legal, com vários amigos participando. Tem o Bituca meu padrinho, o Wagner (Tiso) meu outro padrinho, e muitos amigos queridos. Antes de gravar este disco comecei a tirar as músicas do meu avô, montei um trio e comecei a tocar na noite aqui em Belo Horizonte. Toquei durante um ano. Depois que amadureci um pouco a gente entrou pro estúdio
F.S - Como é o processo de composição pra você?
O processo de composição pra mim sempre foi uma coisa assim: às vezes vinha fácil, mas sempre tive dificuldades com a melodia. Aí sempre ficava repetindo as coisas que vinham na cabeça, então eu memorizava e depois colocava as melodias. Nunca foi muito fácil. Ainda tenho que fazer muita música e virar compositor mesmo sabe.
F.S- Você nasceu dentro de um movimento que marcou a MPB. Já nasceu com música em tua homenagem. Qual a influência do Clube da Esquina na tua obra?
O Clube da Esquina me influenciou demais, Nossa Senhora (sic). Porque desde muito pequeno eu escuto as músicas dentro de casa, quando o pessoal lançava os álbuns, então chegavam novinhos. Meu pai, minha mãe sempre colocavam, eu sempre ouvia, ouvia no rádio e achava tudo lindo e sempre me identifiquei muito com a voz do Bituca, os arranjos do Wagner, principalmente os arranjos dele que acho um primor. Bebi muito da fonte do Clube da Esquina, acho uma referência maravilhosa.
F.S- Você já dividiu o palco com pais, irmão e com as filhas. Estando na geração que faz um elo entre o passado e o futuro como vê as produções musicais da nova geração?
No geral eu vejo a produção ( composição) da nova geração muito escassas, muito repetitivas. Muito pobres, superficiais, sempre quatro acordes que repetem. Sem falar esses novos gêneros tipo funk carioca, sertanejo, arroxa acho muito pobre, tenho uma pena dessa geração. Acho ela um pouco presunçosa, não conhece o que foi feito atrás e acham que o que fazem é o máximo, eu olho com tristeza e lástima, acho tudo fraco. Quero frisar que digo em relação às composições, porque vejo muita gente nova que toca lindo, canta lindo. Tem uma menina que sigo no Instagram de Mogi que se chama Gabi Novais que toca lindamente, canta lindamente e outras pessoas novas que têm talento maravilhoso.
F.S- Nesta sexta você apresenta na Maria Fumaça, bar e casa de cultura. Teve o Godofredo em BH e em Trancoso. Qual a importância de espaços como estes para a divulgação do trabalho autoral?
Os espaços musicais são muito importantes porque viram uma vitrine. é um lugar onde o músico pode se apresentar, e ter alguém que possa gostar e queira produzir e é muito importante ter esses espaços. Tive um bar aqui em Belo Horizonte, o Godofredo, depois tive um no Rio e em Trancoso. Em ambos os bares o prato principal era a música e principalmente o Godofredo aqui em Belo Horizonte impulsionou muita gente legal que hoje em dia está com carreira consolidada e foi uma experiência muito bacana. Era um lugar verdadeiro, um reduto da música aqui em Belo Horizonte, foi uma época encantadora.
Serviço
Gabriel Guedes
Onde : Bar Maria Fumaça - Rua Capitão Francisco de Melo e Souza, nº 7 Sabaúna
Quando : 08 de novembro (sexta-feira) às 19h30
Ingressos : convites limitados no What's app 11 99378-2239
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