Impossível não se indignar. Nosso querido Roberto Frejat foi retirado do palco enquanto apresentava a sua última música na abertura do norte-americano Lenny Kravitz, neste último sábado no Allianz Park. Tal fato deixou irritados os fãs do cantor e compositor, integrante da banda de rock Barão Vermelho. Leoni, seu parceiro de composições fez um post indagando - " Uma dúvida : Lenny Kravitz já pediu desculpas ao Frejat e aos brasileiros pela grosseria no Allianz Park?".
Não resisti e comentei: " Sempre fui mais Frejat". Ganhei o apoio de inúmeras fãs do nosso roqueiro querido, e sim de fato sempre fui mais ele. E isso desde o ano de 1998, quando Kravitz acabava de lançar o álbum " Fly Away", com a canção título, que se não me falha a memória -menopausa a caminho, gente- foi tema de um comercial. Ouvia e pensava: "que música chata, 'It ain't over 'Till it's over' era tão maneira, tão gostosa", e o pensamento voltava, "música chata", toda vez que as dez mais da rádio tocavam a canção.
Estava no terceiro ano do Ensino Médio, estudava para tirar nota no colégio, e para o tal vestibular, que na época foi para o curso de Letras. Já imaginam que vivia na companhia de escritores como Machado de Assis, João Cabral de Melo Netto, Jorge Amado, Clarice Lispector e dos portugueses, Pessoa, Camões e Saramago. Embora leitora assídua de jornais, era ainda uma menina e gostava do que os adolescentes gostavam: festinhas nas casas dos amigos com muita música. Tinha acabado de pintar meu cabelo de cobre, uma tinta ingrata que desbotou e deixou meu cabelo manchado. Num chat - forma que encontrávamos de conversar no fim da década de 90- uma colega com um perfil fake criticou meu cabelo, e fui defendida por outro menino da escola, que também tinha pintado de cobre seu cabelo, mas era um dos galãzinhos de plantão. Virou meu amigo, com direito a troca de poesias feitas por ele e por mim, e me dedicou os gols que fez em seu treino de futebol. Fora o desastre capilar, vivia com as unhas pintadas de vermelho, algo que faço até hoje. Se pinto de outra cor, me sinto estranha, como se as unhas claras destoassem de minha personalidade.
Num fim de tarde, assistindo ao Disk MTV acompanhei a estreia do videoclipe de uma música que passou a ser "minha música". "Puro êxtase", lançada no mesmo ano que a "chatona do Kravitz", falava de uma menina que toda quarta-feira saia sem pressa para voltar. Tinha tinta no cabelo, esmalte vermelho e vontade de dançar até o amanhecer. Tirando o fato de que eu tinha hora para voltar, essa menina era eu escrita. Tá, não era assim do tipo que a todos atordoava, era um "trenzinho esquisito", mas a permissão poética me deixava pensar que sim.
Até que um dia, ao entrar no carro da mãe de uma colega, ouvi a canção do Frejat no rádio. E animada pedi : "tiaaa aumenta o som, é minha música". Ela, que curtia carregar as meninas em seu carro amou a música. Era fã do Barão da década de 80. Alguns dias depois, minha amiga me chamou num canto:
" Vou te proibir de andar no carro da minha mãe. Ela não só comprou o cd, como coloca a música no replay, não aguento mais", com aquela cara de tédio - com T bem grande - que só os adolescentes têm.
Naquele sábado fomos a um churrasco da turma. Tia parada me aguardando pra carona na porta de casa. Volume no máximo e nós duas o trajeto inteiro cantando "Puro Êxtase", com o charme da voz do Frejat. Minha amiga com os dedos no ouvido, e cara de quem não aguentava uma, imaginem só duas. Virou "minha música", tocada enquanto me arrumo para qualquer ocasião. Frejat canta com seu vozeirão e a animação pra dançar até o amanhecer vem na hora.
É... Sempre fui mais Frejat. Mais ainda porque ele é o tipo do cara que canta " e eu vou tratá-la bem pra que ela não tenha medo", ao invés de "fly away ", ou ficar se lamentando que "chorou muitas lágrimas, mas, que o amor não acabou até que esteja no fim", como diria Rita Lee: "chato pacas".
Mas hoje, na minha Quinta da Saudade, quero dividir com vocês um outro momento em que Roberto Frejat me conquistou. Agora e para sempre. Foi com minha xodó " A Chave da Porta da Frente!, composição dele e de Leoni, do ano de 2004.
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