Brasilidade - músico gaúcho traz em álbum, inspirado no deus da música dos povos originários uma mistura de jazz americano com ritmos fronteiriços
Foto: Cassiano Vargas
Conta a lenda que Anhum, neto de Tupã veio passear na Terra, e viu uma tribo que festejava em um silêncio estarrecedor. Muito triste, resolveu tocar um instrumento criado pelos deuses chamado de "sacro taré", com um som nunca ouvido antes pelos seres humanos. Encantados pelas notas produzidas pelo instrumento, os índios daquela tribo pediram a Anhum que os ensinasse a tocar, e Tupã, orgulhoso da belíssima melodia feita pelo neto, o batizou como deus da música. Esta foi a inspiração do músico gaúcho Ghadyego Carraro para o álbum " Anhum", lançado em novembro deste ano, trazendo para o jazz todas as marcas da cultura do pampa, e da sonoridade da música produzida pelos povos originários, resultando num trabalho riquíssimo de muita pesquisa, e com uma brasilidade que remete ao legado deixado por músicos modernistas como Guiomar Novais e Ernani Braga.
"Anhum significa Deus da Música segundo a mitologia tupi-guarani, e como eu tenho me dedicado nos últimos anos já é uma pesquisa inclusive de doutorado, onde pesquisei bastante sobre as sonoridades de fronteira, que envolve todo esse ambiente sul- americano do pampa que adentra não só o Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina, fui trabalhar um pouco com as matrizes sonoras que estão nesse ambiente, ali tem muito da ambiência da cultura/sonoridade indígena, africana e europeia, uma mistura . E a cultura indígena muitas vezes é negligenciada, se fala muito da cultura africana, da contribuição europeia, mas a importância da cultura indígena, muitas vezes é deixada de lado e a partir disso me surgiu uma vontade grande de poder fazer esse disco, trazer essa conexão com a cultura indígena e poder homenagear todos os povos originários com esse trabalho", conta Ghadyego que ainda falou sobre a importância da música como porta-voz destes povos.
" Acho que os povos originários são constantemente negligenciados, não só na sua cultura, no seu território, na livre manifestação daquilo que eles representam, não só para o Brasil mas como para toda a América, eu acho que o homem de uma maneira geral vai adentrando e cada vez mais sufocando os povos indígenas sem entender um pouco sobre a cultura destes povos e toda contribuição que eles trouxeram pra nossa vida, para a sociedade como um todo. A gente vê como as políticas públicas muitas vezes negligenciam eles. São os grandes protetores da floresta, o que mantem um pouco ainda a biodiversidade, o clima só não está completamente destruído no Brasil por causa desta resistência dos povos originários. Eles são a própria resistência, a defesa daqueles que não podem se defender, como é o caso dos animais, da natureza, das florestas, acho que a gente precisa olhar mais para importância que têm os povos originários. Eles não estão aqui para atrapalhar, estão para de certa forma ajudar a preservar", afirma.
"Anhum" traz sete faixas que contaram com a participação dos músicos Diones Correntino; Ricardo de Pina; Cristian Sperandis; João Barradas; Foka e Gian Becker. A direção e produção musical são de Ghadyego Carraro, contrabaixista, compositor, educador, produtor e pesquisador natural de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. É artista membro da The Latin Recording Academy, com atuação voltada a música brasileira, música sul-americana e jazz. Tem se apresentado no exterior constantemente com destaque para o trabalho musical que une esses elementos. Foi indicado na oitava edição do Prêmio Profissionais da Música nas categorias " Artista Instrumental - Região Sul"; " Autor Instrumental -Região Sul"; " Instrumentista Popular Masculino - Região Sul" e " Grupos de jazz- Região Sul/ Sudeste".
" Recebi as indicações com bastante alegria, porque sei da importância deste Prêmio. É a primeira vez que eu concorro e ser escolhido já para várias categorias, foi muito importante. A gente que vem trabalhando duro há muitos anos, e construindo uma carreira não só no Brasil como no exterior, eu tenho feito muitos trabalhos em países europeus e colaborando, gravando com muitos artistas e acho que estava faltando poder participar de uma premiação dentro que valorize e ser mais conhecido dentro do Brasil. Hoje um dos meus objetivos é esse, o de poder fazer com que as pessoas conheçam as músicas que estou fazendo, as minha pesquisas, que envolvem não só o jazz, a música brasileira, essa peculiaridade da música ao sul da América onde tem um pouco destes ritmos, gêneros musicais fronteiriços que a gente chama, a milonga, a chacarera, o chamamé, o candombe, esses outros ritmos que a gente vai incorporando a nossa linguagem de fazer música e tentando conectar isso com outras estéticas do mundo afora, do jazz contemporâneo, então para mim é uma alegria. Espero poder estar na final e que as pessoas conheçam mais do meu trabalho e eu possa viajar mais pelo país para mostrar o que estou fazendo, que é uma estrada longa de trabalho", comemora.
Para votar no Prêmio Profissionais da Música, basta clicar no link ppm.art.br , fazer o cadastro e votar nos artistas e profissionais favoritos. A votação vai até o dia 23 de dezembro.
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