Pular para o conteúdo principal

" Notas pro Apocalipse" : as profecias musicais de Heloísa Marshall


Profecias- Cantora e compositora gaúcha traz mensagens para reflexão e mudanças em seu álbum de estreia
Foto: Dionata Mosley


    "Você colhe  oque planta, então não reclama do que tu semeou..."
    Com estes versos, Heloísa Marshall inicia " O Nosso Tempo Acabou", canção lançada em  novembro deste ano, uma das faixas do EP " Notas pro Apocalipse". O álbum teve como inspiração a tragédia ocorrida em maio deste ano em Porto Alegre, com as enchentes avassaladoras em decorrência do colapso climático.
" Eu me senti muito impactada pela enchente que teve aqui, foi um momento surreal que a gente viveu. Parecia que a gente estava vivendo num filme e não sabia como agir ou reagir no momento. A sociedade civil quem tomou quase todas as atitudes e ações frente ao que estava acontecendo e foi muito difícil ficar parado, o melhor que pude fazer na minha posição foi racionar água, fazer fotos, fazer uma música e voluntariar naquele momento. Mas, foi muito impactante. Foi difícil. Teve um dia que fui voluntariar num abrigo de pets e passei mal, porque era muito difícil estar ali, não consegui completar o turno, então me senti muito atravessada, sensibilizada, fragilizada pelo que estava acontecendo," lembra Heloísa.
    E como se narrasse uma tragédia anunciada cada música do álbum  oferece uma perspectiva única criando um mosaico sonoro que borda desde a autocrítica até questões sobre a sustentabilidade. Gravado e produzido inteiramente em seu home studio, Heloísa Marshall imprime autenticidade e suas emoções mais  profundas em cada faixa do EP. A colaboração com Iago Schaeffer em três canções enriquece cada faixa com violões e guitarras que amplificam a densidade sonora do projeto. O álbum transita por gêneros como pop, MPB, Trap, Eletrônica e Rock, um reflexo da versatilidade e inovação da artista.
Com 10 músicas já lançadas nas plataformas, a artista gaúcha, que iniciou suas composições aos dez anos de idade, foi finalista do Prêmio Açorianos e pré-indicada ao Grammy Latino, e busca com suas músicas impactar e sensibilizar o público.
" O maior impacto que uma pessoa pode fazer como artista é que a gente acaba pode 'abrir conversas'. Uso a  minha arte, gosto que a minha arte seja trabalho como um meio de abrir e promover discussões. Fazer a gente falar sobre os assuntos, porque se a gente não fala sobre as coisas na arte, quando é que vai falar sobre elas?", indaga a artista que reitera a importância de se promover reflexões.
" Será que a gente está falando sobre as coisas se não aparece que a gente está falando sobre elas na arte? Então, foi uma esperança que eu tive de trazer várias discussões através das minhas letras, através da música, eu queria que elas trouxessem esse tipo de conversa, de discussão sobre o que a gente está vivendo, sobre o nosso momento como sociedade, mundo, pra fazer essa mudança. Então acho que a arte tem esse papel e foi o que tentei fazer. É um posicionamento e espero que as pessoas se posicionem. Quando mais pessoas se posicionam, mudam a realidade", conclui.
 


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Djavan e Eles

Pétala - dia de celebrar o cantor e compositor muso deste blog e de muitos outros poetas e escritores Foto: Tati Valente Dia de Djavanear o que há de bom. Os leitores do Falando em Sol já estão cansados de saber o apreço que tenho pela obra do alagoano Djavan Caetano Vianna, e que todo ano, esta data aqui é celebrada em forma de palavras. O que posso fazer, se Djavan "invade e fim"? Para comemorar seu 76º aniversário, selecionei cinco momentos em que ele dividiu cena com outros nomes da música popular brasileira. O resultado: um oceano de beleza. Tudo começou aqui. Este foi o meu primeiro contato com Djavan e tenho a certeza que de toda uma geração que nasceu nos anos 1980. Ele é Superfantástico! Edgard Poças...obrigada por isso... Azul é linda, amo ouvir e cantar até cansar...  Com Gal e Djavan então...o céu não perde o azul nunca... Esse vídeo foi em um Som Brasil, no ano de 1994. Desculpem, posso até parecer monotemática, mas Amor de Índio é linda. Mais linda ainda com est...

Quinta da Saudade : Barracão de Zinco

Véspera de Natal e dia da famosa quinta da saudade. E a data esse ano pede (deveria pedir sempre) reflexões sobre nossas atitudes e o que podemos fazer para melhorar, evoluir. Especialmente num ano de tantas perdas, em que muitas vezes tivemos de abrir mão de estar com quem amamos para preservá-los.  E Natal para mim, desde a infância teve uma atmosfera mágica : desde o decorar a casa, até acreditar no Papai Noel e esperar pela meia-noite sempre foi muito aguardado, e ainda é. Mas o papo aqui é música, e vou contar a história de uma serenata que me lembro ter participado ainda criança (década de 80)  lá no bairro do Embaú, em Cachoeira Paulista, no Vale do Paraíba. Todos os anos nos reuníamos entre familiares e amigos e o samba era o ritmo que fazia a trilha sonora das festas. Ali tocavam Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Originais do Samba, Beth Carvalho, Clara Nunes, Almir Guineto, Martinho da Vila e assim a noite corria. Uma tia avó, chamada Cândida (Vó Dolinha para nós), g...

Bituca é Nosso!

Cara Academia do Grammy. Fica aqui nossa indignação pela forma como nosso Milton Nascimento foi recebido no evento de ontem. Sem mais, Tatiana Valente, editora responsável pelo Falando Em Sol.