" Tatiana. Você precisa dar um jeito no seu filho. Ele fica assistindo esses caras de stand up comedy e rindo destas besteiras..."
Acho incrível a expressão "seu filho".
Nas conquistas, nos progressos, na hora boa, ninguém atribui à mãe. Mas, imediatamente devolvi: " e você adolescente não via bobeira, né? Só a Santa Missa em Nosso Lar..."
Conversando com uma prima, nos lembramos das bobeiras que víamos na adolescência: "Beavis e Butt- Head", " South Park", os besteiróis americanos, e ela me lembrou: na festa do batizado do teu irmão botamos Raimundos com o " selim da bicicleta" e "Na boquinha da garrafa" pra tocar. Rimos muito. As besteiras que meu filho assiste são tão inocentes...
Daí foi impossível não voltar no tempo.
Dos treze aos dezessete anos tive uma turma fixa no meu curso de inglês. Íamos separados, afinal cada um tinha uma atividade, mas para a nossa segurança (num tempo em que roubavam tênis dos adolescentes), voltávamos em grupo, afinal morávamos no mesmo bairro, e o único que morava distante- nos dias do curso- dormia na casa dos avós no centro de Mogi.
Eu era a única menina entre três meninos. Me deram vários apelidos, e o mais carinhoso era "Tcho Tcho". Com eles não tinha bullying porque se eu não gostava da brincadeira mandava ir tomar lá naquele lugar, e eles me chamavam de mal educada gargalhadas, e estava tudo bem. Quando começavam a falar bobeiras, ou de meninas, eu exigia respeito e aumentava os passos. Ouvia o trio gritando : isso, fica longe da gente mesmo, se mexerem com você, não queremos nem saber, e me faziam esperar, eu com o dedo médio levantado. Eu era muito moleca. Comprávamos batatas fritas do Estrela -lanchonete famosa na cidade- para comer no percurso, pedíamos pizza na aula de inglês, fazia as vezes de cupido de um deles, contávamos nossas histórias com minhas quedas no ônibus, e a farra era tão boa que um dia nossa teacher deixou o carro em casa para saber o que tanto aprontávamos.
Um belo dia, no caminho até o ponto de ônibus, eles começaram a cantar com voz feminina, imitando uma portuguesa: "ó Manuel olha como eu estou, tu não imagina como eu estou sofrendo. Ah, essa é a melhor banda, bateu os Raimundos", disse um deles.
"Vocês estão loucos? Que música é essa, nunca ouvi", disse indignada.
" Tcho tchos :você só ouve esse Lulu Santos e música de véio. Precisa ouvir Jovem Pan", disse o outro.
Nem precisei ouvir a rádio. Os " Mamonas Assassinas" chegaram em forma de CD na minha casa. Realmente, meus colegas tinham razão, os caras eram divertidíssimos, misturavam ritmos e músicas já conhecidas do grande público ganhavam suas versões cheias de humor e lá no fundo uma critica social. Conquistaram jovens, adultos e crianças. Faziam torcer o nariz daqueles que hipocritamente achavam um absurdo cantar suruba, cabelos do saco, e as baixarias do mundo animal a bordo de uma Brasília amarela (meu pai tinha uma bege). As catorze faixas eram divertidíssimas e, o álbum produzido por Rick Bonadio, foi recorde de vendas num período em que o recém-chegado CD ainda lutava por um lugar no mercado musical.
Todas as festas tocavam Mamonas: de aniversário de criança à bailes de formatura. No meu de oitava série balancei meu vestidão branco rodado ao som do Vira- vira (só o Roberto Leal que não gostou muito da versão dos meninos). No meu colégio, os meninos da banda Farol de Milha faziam covers dos Mamonas, e criavam canções com o mesmo tipo de humor. E uma curiosidade sobre a banda de Guarulhos: começaram carreira com o nome Utopia, faziam músicas inspiradas no rock de Brasília, na Legião Urbana, com sérias críticas sociais, mas não conseguiram sucesso nas vendas do único LP gravado. Foi no humor, com fantasias ou apenas usando cuecas e sungas que Dinho, Julio, Sérgio, Samuel e Bento conquistaram um país. Fizeram inúmeros shows em Mogi, algumas vezes três no mesmo dia. Não fui, era muito difícil conseguir comprar o ingresso, que esgotavam imediatamente no anúncio do espetáculo.
Há quase 29 anos, no retorno de um show, um acidente aéreo levou os meninos deste plano, Cumpriram a missão de fazer a minha geração se divertir em uma das melhores fases da vida. Um dos meus colegas, o mais bem humorado, também não está mais aqui. Com certeza, deve estar lá com eles falando bobeira e rindo da "Tcho Tcho", que cheia de lágrimas nos olhos conta para vocês esta história.
Para quem quiser saber mais dos Mamonas Assassinas recomendo a série " Mamonas pra Sempre", disponível na Netflix. Não tem como não se emocionar.
Hoje minha saudade vai para 1995, lembrar de uma festa que Maria foi no lugar de Manuel, que ainda não comeu ninguém ...rs.
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