Pular para o conteúdo principal

Cinthia Jardim canta afetos e sonhos em espetáculo 23



          Show Autoral - artista sensibiliza e empolga com narrativa musical sobre questões familiares e voltas por cima

                  Foto: Malu Freire

        Amanhã às 20 horas o Cine Teatro Benedito Alves no centro de São José dos Campos receberá o  show definitivo do projeto "Espetáculo 23", que celebra os vinte e três anos de carreira da cantautora Cinthia Jardim. No  teatro acolhedor, coberto, e com recursos de acessibilidade a pessoas com deficiência, o público será convidado a embarcar com ela na inédita jornada musical de uma mulher em busca dos sonhos. Com uma narrativa inspiradora de 1h30 dividida em três atos, a artista confidencia vivências de superação e força com canções autorais que amadurecem das baladas de rock à bossa nova. A menina que cresceu ouvindo Marisa Monte, iniciou sua carreira musical tendo como  primeira grande referência  Megh Stock. Mais tarde, fui me apaixonando por outras compositoras  como Adriana Calcanhotto e Vanessa da Mata. Mais madura, descobri Sueli Costa, Dolores Duran, Dona Ivone Lara e Joyce Moreno.  Cinthia iniciou sua obra autoral também aos vinte e três anos de idade.

"Dois fatos foram decisivos para que eu me tornasse compositora: primeiro, a saudade que sentia dos palcos quando meu primeiro filho nasceu e precisei pausar os shows. Na época, pressionada pela minha família, eu tive de voltar para a indústria farmacêutica (era propagandista). Eu não tinha com quem deixar meu filho para poder cantar à noite. Voltar a ser CLT e abandonar a música foi muito doloroso. Até que minha amiga Megh Stock foi me fazer uma visita, pegou o violão e me mostrou uma composição que ela tinha acabado de fazer, a música "Imperecível"... Pensei: "Eu também quero fazer isso". Me lembrei de que na adolescência eu escrevia muitos poemas. Mas eu não tocava nenhum instrumento. De alguma forma que não sei explicar, as melodias começaram a surgir na minha cabeça. Era como se eu "recebesse" as músicas de forma espiritual, mesmo", lembra.

No show de amanhã Cinthia promete um espetáculo para  aquecer corações com a paixão pela arte que evidencia nos tons vermelhos de figurinos e cenário e na emoção devotada à voz para revisitar uma vida transformada na adversidade –desde a juventude desafiadora, com questões de afeto, maternidade e vocação latentes, até alcançar a potência feminina resiliente em seus ideais. A artista ressalta ainda a importância da sororidade para que as mulheres possam passar por momentos delicados de suas vidas.

"Não se calem, não passem sozinhas pelas dores! Às vezes é difícil a gente enxergar soluções quando estamos no meio do olho do furacão. Eu precisei de tempo e distanciamento para entender que me fortaleci pelas dores que passei. Muitas delas enfrentei sozinha, sem compartilhar nada nem pedir ajuda. Hoje, entendo que o momento em que comecei a dividir questões, a pedir ajuda e a me permitir a receber apoio foi fundamental para que eu pudesse sair do ciclo da dor. A terapia também é um ponto de apoio muito importante pra mim", conta.

Com dez instrumentos musicais em cena, um compilado de treze canções escritas e interpretadas por Cinthia com arranjos arrebatadores assinados por Marcelo Mariano, sob direção musical de Fernando Pontes, é apresentado pelo trio e pelo músico Lucas Andrade em momentos de tirar o fôlego –como quando a artista assume castanholas na flamenca “Cometa”. “Aprendi a tocar em quatro ensaios; só depois soube que a bisavó de quem herdei traços também as tocava. Fiquei emocionada! Compus esta música pensando nas raízes espanholas da família”, conta Cinthia. 

Das exceções já gravadas do projeto, “Cometa” está no Spotify e foi incluída no repertório a pedido de João, caçula da cantora. A outra exceção é a aconchegante “Fruta Doce” (com videoclipe no YouTube), também por escolha afetiva: o pedido do primogênito, Pedro. É desta faixa, inclusive, a inspiração da hortelã na identidade visual do projeto, criada por ele.

Entre temas que permeiam dores, como culpas e silenciamentos ligados ao universo feminino, o enredo caminha para o alívio do amor tranquilo e da liberdade criativa a partir de uma virada de chave. “Eram composições guardadas, de fases da minha vida; há muito de mim nelas, mas também muito de outras mulheres, que podem se identificar e valorizar potenciais, transmutar.”  

Ponto alto do espetáculo, “Gigante 23” é canção que encoraja à projeção de novos caminhos e já ganha coro com ajuda de uma corrente: com o lançamento do songbook do show, material digital com letras, cifras e partituras do repertório, muitos já interpretam a música em vídeos que chegam à compositora e geram comoção, inclusive em Cinthia, que recebeu com muita alegria o fruto de um trabalho de vinte e três anos.

"É emocionante demais! Quando a gente faz uma música, a gente quer que ela voe, né? Acho que esse é o desejo de todo o mundo que compõe: ouvir suas músicas interpretadas por pessoas diversas. Essa corrente linda das pessoas tocando "Gigante 23" começou a partir de um vídeo que recebi da minha assessora de imprensa, Isa Rosemback, tocando. Assisti chorando! E nem podia imaginar o que estava por vir. Agradeço a cada um que separou um tempinho da sua vida pra ouvir a canção para aprendê-la, me tocou profundamente", celebra.

Pouco após a apresentação do show, ainda, uma versão online de “Espetáculo 23” gravada em estúdio será disponibilizada, às 23h, no YouTube para que a obra alce novos voos além deste momento de criação –realizado com fomento do Fundo Municipal de Cultura de São José dos Campos (edital 003/P/2024), em projeto que contemplou outros três shows gratuitos na cidade (no Ponto de Cultura Espaço Balaioo, na Casa do Idoso Centro e no CET), entre maio e junho, e duas oficinas de gestão de carreira artística ministradas pela artista. Tanto o show online quanto a apresentação ao vivo deste sábado contam com tradução simultânea em Libras e audiodescrição (no caso do audiovisual, serão lançadas duas versões diferentes, cada uma contemplando um dos dois recursos de acessibilidade). No local, ainda, haverá cartaz em braille, rampa de acesso, elevador, banheiros adaptados, poltronas para pessoas obesas e espaços reservados a cadeirantes. A direção artística é de Adriana Marques.


SERVIÇO 

“Espetáculo 23”

Quando : 28/06 Sábado,  às 20h. 

Onde : Cine Teatro Benedito Alves na Rua Rui Dória, 935, Centro de São José dos Campos

 Entrada franca, 12 anos. 

Com tradução em libras, audiodescrição, cartaz em braille, rampa de acesso, assentos para obesos e espaço para cadeirantes, elevador e banheiros adaptados

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Centenário Inezita Barroso

  Centenário - pesquisadora de nossa cultura popular, Inezita reunia gerações em seu programa exibido todos os domingos pela TV Cultura Foto: Reprodução Itaú Cultural Ontem, dia 4 de março, foi celebrado o centenário de uma mulher, que enquanto esteve aqui, neste plano, viveu por e para a música brasileira: Inezita Barroso. Conhecida como  a "D ama da Música Caipira", por trinta anos  abriu as portas de seu programa Viola, Minha Viola, exibido pela TV Cultura, para receber artistas da velha e nova geração.  Nascida Ignez Madalena Aranha de Lima no ano de 1925 na cidade de São Paulo adotou o sobrenome Barroso do marido. Foi atriz, bibliotecária, cantora, folclorista, apresentadora de rádio e TV.  Segundo a neta, Paula Maia publicou em seu Instagram, foi uma das primeiras mulheres a tirar carteira de habilitação e viajou por todo país para registrar músicas do folclore brasileiro.  Recebeu da Universidade de Lisboa o título de honoris causa em folclore e art...

Bituca é Nosso!

Cara Academia do Grammy. Fica aqui nossa indignação pela forma como nosso Milton Nascimento foi recebido no evento de ontem. Sem mais, Tatiana Valente, editora responsável pelo Falando Em Sol.  

Djavan e Eles

Pétala - dia de celebrar o cantor e compositor muso deste blog e de muitos outros poetas e escritores Foto: Tati Valente Dia de Djavanear o que há de bom. Os leitores do Falando em Sol já estão cansados de saber o apreço que tenho pela obra do alagoano Djavan Caetano Vianna, e que todo ano, esta data aqui é celebrada em forma de palavras. O que posso fazer, se Djavan "invade e fim"? Para comemorar seu 76º aniversário, selecionei cinco momentos em que ele dividiu cena com outros nomes da música popular brasileira. O resultado: um oceano de beleza. Tudo começou aqui. Este foi o meu primeiro contato com Djavan e tenho a certeza que de toda uma geração que nasceu nos anos 1980. Ele é Superfantástico! Edgard Poças...obrigada por isso... Azul é linda, amo ouvir e cantar até cansar...  Com Gal e Djavan então...o céu não perde o azul nunca... Esse vídeo foi em um Som Brasil, no ano de 1994. Desculpem, posso até parecer monotemática, mas Amor de Índio é linda. Mais linda ainda com est...