Um dia ela colocou o violão nas costas e saiu em busca de seus sonhos. Tendo a liberdade como bússola, a jovem de dezenove anos viajou nove mil quilômetros, passando por doze estados brasileiros, convivendo com diferentes pessoas e vivenciando histórias que um dia seriam contadas em forma de canções. Entre litorais e sertões teve um contato mais íntimo com nossa cultura, buscando as raízes sonoras da música brasileira . Ali estava confirmado que sua missão nesse mundo seria levar arte para todos os cantos, defendendo suas convicções ligadas à Mãe Terra e ao meio ambiente.
Essa é parte da história da cantora e compositora Manu Saggioro, natural de Jaú, que desde a infância percebeu que seu caminho teria letras e melodias como guias . Graduada em Música pela Universidade do Sagrado Coração (atual UNISAGRADO) em Bauru, onde também cursou dois anos de Letras, Manu traz para sua arte toda uma fala em favor da vida. Praticante de Kriya Yoga e vegetariana compreende a arte como ferramenta de transformação e a música como trabalho, diante da premissa de que a vida é uma grande obra a ser realizada em seu máximo potencial. Com mais de vinte anos de estrada, além da carreira solo, atualmente é integrante do Quarteto Caipira Paulista -um grupo de música regional- com foco no resgate da música de raiz caipira, e do Dama Gaia, um projeto voltado para a música xamânica, trabalhada como elemento de cura e conexão com a natureza. Manu é ainda guitarrista da Inlakesh, uma banda de rock clássico formada apenas por mulheres.
No final de maio deste ano, a artista lançou em todas as plataformas o seu segundo trabalho solo, o álbum "AMA", que contou com o apoio da Lei Paulo Gustavo por meio da Secretaria Municipal de Cultura de Bauru, do Governo Federal e Ministério da Cultura. Com composições suas, exceto da canção "Ouve o Silêncio", que é uma parceria com o professor, escritor e antropólogo Carlos Rodrigues Brandão, Manu traz um trabalho sensível e reflexivo, numa busca por sua verdadeira essência.
"Me sinto mais madura. O álbum é todo autoral, o que reforça a relação com minhas composições e tudo que acredito. É bem sensível, contemplativo. E traz ainda mais consciência da minha voz, dos meus valores, da minha essência mesmo", afirma a artista, entrevistada do Falando em Sol de hoje.
Tatiana Valente
F.S -Ama é seu segundo álbum. Como ele nasceu?
AMA nasceu da minha conexão profunda com a natureza e com minhas reflexões existenciais.
F.S - As suas composições têm como temas o meio ambiente, a natureza, os povos indígenas. O que te inspira? Você acredita que a música é uma forma de se posicionar no mundo?
Sim, eu falo e canto essas coisas desde sempre e sempre que posso. Acho que a única maneira de sobrevivermos é nos reconectando com a natureza e isso tem muitos desdobramentos: quando eu realmente me sinto parte de “Gaia”, esse organismo vivo e sagrado a que chamamos terra, todas as minhas ações passam pela reflexão a respeito do amor, do cuidado, do autocuidado, do respeito por todas as formas de vida. Dentro dessa consciência, um dos nossos deveres é honrar e apoiar os povos indígenas, por isso estou sempre falando isso.
F.S - Quais as suas referências? Se lembra da primeira vez em que pensou em ser cantora?
Tenho muitas referências. Na infância escutei muita música brasileira, rock anos 70 e música caipira. Na adolescência mergulhei mais profundamente no rock clássico e na psicodelia, pirei nos movimentos da contracultura no Brasil e fora dele. Na mesma época comecei a escutar kiirtans, mantras em sânscrito e outras músicas étnicas, ultimamente tenho me interessado bastante por música de terreiro, as encantarias de um Brasil mais profundo. Ainda criança eu desejei viver de música, não sabia se cantaria ou se seria instrumentista, mas a música apareceu com força entre meus 10 e 13 anos.
F.S - Nesses dezenove anos de carreira qual balanço você faz?
Experimentei muito, adoro ousar e criar projetos, mesmo que aparentemente eles não “conversem”. Eu sei onde eles se encontram em mim, isso basta por enquanto (risos). Tive por longos anos banda de rock, duo de MPB, hoje tenho o Quarteto Caipira Paulista onde trabalho com música de raiz, o DAMA GAIA que é o projeto mais ligado ao sagrado e a espiritualidade, tocamos em rituais xamânicos e meditações , e tem o meu projeto pessoal que é minha vida, minha carreira solo, (sempre cheia de lindas parcerias) é onde assumo minha voz, meu violão, minhas composições, minhas reflexões mais profundas.
F.S - Li na internet (não sei se é verdade) que em 2001 você colocou o violão nas costas e viajou por diversas cidades. Como foi a experiência? Tem alguma história que te marcou?
Sim, essa foi minha primeira grande viagem e a mais aventureira. Por 4 meses viajei com barraca e violão nas costas. Dormi em proa de barco, praça pública, areia de praia, camping, casa de gente, etc. Rodei nove mil quilômetros de carona pelo Brasil, foram doze estados. É muita história, difícil escolher uma. Mas o que me marcou é o que se acendeu em mim a partir daí: Uma confiança imensa na vida, nos encontros, na sincronicidade e uma vontade imensa de cantar e tocar pro resto da vida.
F.S- Voltando ao AMA, quais músicos participaram do álbum?
Rogério Plaza nos pianos e acordeom, Emílio Santos nos violões e Antonio Loureiro nas percussões.
F.S - Como você se define como artista?
Compreendo a arte como uma ferramenta de transformação, utilizo a música como trabalho sob a premissa de que a vida em si é a grande obra a ser realizada em seu máximo potencial. Acho que na minha caminhada vou encontrando cada vez mais minha trilha, meu caminho, minha alma.
F.S- O que vem por aí esse ano?
Acabei de lançar um disco novo, parece fácil mas é um baita processo. Esse álbum está carregado de sentimento, de verdade. Conseguimos chegar num lugar muito bom com os instrumentos e arranjos. Pretendo trabalhar muito levando esse disco Brasil afora.
Ouça "AMA" na sua plataforma favorita :
https://tratore.ffm.to/manuama
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