Lentes- meu recém-chegado óculos de astigmatismo e nas minhas duas versões, míope e com óculos de leitura- a mão no rosto é pra "fazer charme de intelectual "
Fotos: Tati Valente
" Oieee...tenho uma novidade: agora os meninos do Leblon não vão olhar mais pra mim. Estou usando óculos".
Assim comecei meu e-mail para contar para meu "OM" que estava usando óculos. Aos 22 anos, miopia confirmada numa daquelas consultas de vistas dilatadas e o médico perguntando " e agora que letras são aquelas?", seguido de " qual é melhor,este ou este"?
Mas para chegar nesse ponto, vou contar que quando criança achava um charme usar óculos. Não precisava usar, mas sempre tive óculos de sol. De todos os modelos, aviador, quadrado, máscara, espelhado. Na adolescência gamei no estilo hippie-boho e investi nos redondinhos. Tive um com lentes rosas e lentes azuis...amava ver o mundo com outras cores. Eu era uma figura ambulante...
Depois na faculdade percebi que se me sentasse na frente, conseguia copiar melhor o que estava na lousa, e focava mais minha atenção. No colégio sentava no fundo, e quando não estava ouvindo a música do camelô, viajava observando meus colegas e imaginando o que passava na cabeça de cada um deles.
Já estava no segundo ano do curso de Comunicação Social, estudava no período noturno porque dava aulas no contraturno. Meu momento favorito era na volta da aula, quando caminhando observava a lua, linda e gigante. Sempre comentava com alguém sobre o tamanho da lua, e todo mundo estanhava pois não tinha nada de anormal ali, apenas o satélite em seu tamanho normal. Tatiana no maravilhoso mundo de Tatiana.
Um belo dia, estava eu lendo o jornal na sala, quando meu vizinho, que tinha passado para trazer quitutes de Minas me alertou: "você está com o rosto enterrado no jornal, será que não precisa de óculos?"
Ouvi aquilo e resolvi marcar a fatídica consulta. Bingo. A minha lua imensa tinha nome: miopia. Lógico que eu fiz um óculos diferentão, meio agateado, numa armação de metal prata. Me sentia a "Bete, a feia", pois já usava aparelhos fixos nos dentes. Mas a feia mexicana no fundo tinha lá seu "charme de intelectual". Eu, desastrada, nem preciso contar que meus óculos não duraram muito, sentava em cima deles, dormia com eles, uma "trapaiada só". Investi em lentes de contatos. A primeira tentava de colocá-las foi um show à parte. Uma aflição colocar o dedo dentro dos olhos, saí pulando e gritando.
Depois me acostumei, afinal aos vinte e poucos tudo o que eu queria era ser bonita.
Mas, exatos vinte e dois anos passaram, e tudo o que passei a desejar era enxergar. Minhas colegas nos ensaios de dança falavam do meu olhar 43 ao dançar, cerrado, sedutor. Respondia a elas, não é sedução, é miopia. E algo estava estranho mesmo usando as lentes com 3'50 graus . Há alguns dias recebi da oftalmo uma receita, de óculos multifocal, ou a possibilidade de usar um óculos de leitura com as lentes de contato quando fosse necessário. Como boa geminiana, tenho agora duas versões do problema: miopia e astigmatismo.
Passado o susto do preço das lentes multifocais, me restou lembrar da canção que usei para iniciar a mensagem para meu "om" na época que usaria óculos. E acho que ele entendeu que por trás daquelas lentes batia um coração.
Minha quinta da saudade divide com vocês "Óculos", uma composição de Herbert Vianna, que também os usa, lançada pelos Paralamas do Sucesso no ano de 1984, no álbum "O Passo do Lui".
Comentários
Postar um comentário