Sessenta e um socos. Sessenta e um murros. Sessenta e um.
Cada soco desferido uma dor. Em mim, em cada mulher que estarrecida assistiu ao noticiário ou checou as redes sociais esta semana. Sessenta e uma vezes. Coincidentemente acabava de conferir uma entrevista da jornalista Ana Paula Araújo, " Agressão - a escalada da Violência Doméstica no Brasil", sobre os tipos de violência que as mulheres sofrem, e ouvia a notícia dada por Adriana, também Araújo. Para ser vítima de violência doméstica não precisa não ter determinadas classe social, idade, nem escolha. Sofremos. Muitas vezes, as câmeras não registram as violências que nossos ouvidos ouvem, mas a alma armazena, arquiva, e nos destrói, pouco a pouco. A força das palavras e das atitudes, muitas vezes nos atingem como socos. Sessenta e um já ouvidos. Vocês se reconhecem em algum deles?
1- Com essa roupa você não vai sair.
2- Você não tem amigos, seu amigo sou eu.
3. Tá vendo, ninguém da tua família se importa com você. Só eu gosto, só eu te aguento.
4- Nada do que você faz vai pra frente. Nunca dá certo.
5- Seu carro, aquela "bostinha"?
6- Você nunca vai conseguir um emprego que te pague mais do que eu ganho.
7- Nossa essa casa está fedendo, precisa limpar direito.
8 - Quer trabalhar? Vou colocar você numa kitnet, você vai poder trabalhar.
9- As crianças ficam comigo.
10 - Quer ir no show? Vai, e dá pra quem você quiser.
11- Porque você veio com o carro por outra rua?
12- Vamos vender o seu carro, o meu é melhor que o seu e depois compro outro.
13- O dia que você conseguir pagar, escolhe onde quer morar.
14- O melhor que você faz é esquecer sua profissão, ficar em casa e cuidar dos seus filhos.
15- Você nunca vai conseguir ganhar dinheiro
16- Ninguém nunca vai te querer com dois filhos.
17- Já está velha para...
18- Essa comida está uma bosta.
19- O que você fez com as minhas camisinhas?
20- Nem pra transar você presta mais.
21- Eu devia ter deixado você na casa dos seus pais.
22- Quem mandou ser mãe.
23- Aceita que dói menos.
24- Me dá esse telefone, quero ver com quem você tanto fala.
25- Pra que sair de casa se você pode fazer tudo aqui de dentro?
26- Nem pra isto você presta
27- Vou vender suas coisas para comprarmos X. Mas os bens ficarão no meu nome. O que é meu é seu. Depois reponho.
28- Você é uma inútil.
29- Se insistir em trabalhar eu peço o divórcio.
30- Você está louca.
31- Para de drama.
32- Você está inventando.
33- Lugar de mulher é na cozinha.
34- Uma mulher não deve andar sozinha.
35- Com quem você vai deixar seu filho pra trabalhar.
36- Com essa idade, ainda não casou?
37- Uma velha se achando jovenzinha
38- Gorda que nem você...
39- Seca desse jeito, homem gosta de carne.
40- Parece uma lombriga dançando.
41- Você fala demais.
42- Minha mãe não era assim, ela sim era mulher.
43- O seu dinheiro é meu também.
44- No que você ajudou? Em nada.
45- Mulher não gosta de homem, gosta de dinheiro
46- Hoje em dia tudo é Lei Maria da Penha.
47- Apanhou porque merecia.
48- O marido "largou" dela.
49- Dirigir não é pra mulher
50- Conseguiu o cargo, deve ter dado pro chefe.
51- Largou os filhos e foi trabalhar.
52- Largou os filhos e saiu, que absurdo.
53- Quem vai comer você?
54- Só pode estar de TPM.
55- Vai dar conta de cuidar da casa, dos filhos e do marido?
56- Lugar de mulher é no fogão.
57- A gravidez vai te atrapalhar aqui na empresa.
58- Sem um marido você nunca vai conseguir criar seus filhos.
59- Você deveria se preocupar em salvar seu casamento.
60- Você não vai.
61- A culpa é tua.
Aqui apenas sessenta e um . Fora outras que a gente finge esquecer pra dar conta de levantar todos os dias na esperança de alguma mudança em nosso favor. Ser mulher é um desafio diário. Elza Soares era uma mostra de quantas vezes se levantou. Mesmo amando muito foi vítima de violência doméstica, e tantas outras violências como a psicológica, financeira e patrimonial que muitas fingem não viver diariamente. Afinal de contas, casamento é assim mesmo...
Por isso mesmo minha Quinta da Saudade vai dividir com vocês "Maria da Vila Matilde", composição de Douglas Germana, lançada em 2015 no álbum "A Mulher do Fim do Mundo".
Já sabem :em caso de violência doméstica, façam como Maria, liguem para o 180, número da Central de Atendimento à Mulher.
Sessenta e um socos. Sessenta e um.
P.S: Você homem que conhece uma mulher que sofre qualquer tipo de violência doméstica, não a julgue nem feche os olhos . Estenda a mão. Seja apoio. Seja HOMEM.
Texto necessário... uma absurdo total isso...
ResponderExcluirFalar é necessário. Quanto sofrimento existe por trás do silêncio...
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