No domingo, 9 de novembro, o cantor e compositor Ivan Lins foi homenageado pela Academia que compõe o Grammy Latino, recebendo o Prêmio à Excelência Musical pela importância de sua obra. Ivan, para nós, brasileiros, sua obra ultrapassa premiações. Pensei nisso enquanto ouvia suas músicas e refletia sobre qual escrever aqui, para deixar registrado este momento no Falando em Sol.
Quais artistas interpretaram suas músicas?
Somente os grandes: Elis, Simone, Gal, Zizi, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Diana Krall e Barbra Streisand. Certificado melhor que esse? Garanto que não há.
Mas aqui, para mim, bateu uma dúvida imensa sobre qual canção falar. Até que olhei para o alto do meu computador, enquanto pesquisava, e me deparei, na parede da minha copa, com esta pequena imagem do Divino Espírito Santo, e pensei: já sei para onde minha saudade vai me levar.
Parte desta história contei aqui, quando falei sobre as congadas da Festa do Divino Espírito Santo, que me aceleram as batidas cardíacas e me fazem chorar toda vez que as ouço. Outra parte, sobre aprender com a folkcomunicação — corrente da comunicação responsável por estudar as manifestações populares como forma de comunicar e resistir —, que meu preconceito não me permitiria falar sobre cultura, contei neste texto.
Logo após apresentar minha pesquisa, que fazia um estudo da festa folclórica e religiosa mais tradicional de Mogi das Cruzes, recebi um certificado de menção honrosa e um convite de minha orientadora, para, no ano seguinte, apresentar o trabalho na Folkcom, um congresso que reúne estudiosos de cultura popular do país todo. Era uma menina de 21 anos, e estar junto de mestres, doutores, me assustava. Mas eu tinha uma bandeira e teria que defendê-la.
Esta bandeira era muito mais que um tecido vermelho com a imagem de uma pomba que irradia raios de luz em cores branco e prata. Ali havia toda uma tradição, a história de um povo, a fé, o sincretismo religioso que a Festa promove e que não segrega ninguém. Une classes sociais em procissões, alvoradas, quermesses. Adentra as moradas que se abrem e recebem as bandeiras com a mensagem de que será dada água a quem tem sede, pão a quem tem fome. E que é do povo que o Rei nascerá.
Foi ela, retratada na música de Ivan Lins, que me guiou para que conseguisse forças para, diante de um público, explicar que, sim, mesmo aqueles que faziam funk poderiam participar daquela comemoração. Afinal, a fé é tamanha, o homem é tão livre, que a cultura é uma só. O Divino não exclui ninguém. A festa folclórica é de todos.
Ivan Lins teve a oportunidade de vivenciar o significado desta canção para os mogianos no ano passado, quando todos, em uníssono, o acompanharam em “Bandeira do Divino”, sua composição com Vitor Martins — um hino de esperança, amor e fé. É para esta saudade que minha quinta irá...

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