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Carta para um músico: a flor mágica e o sonho de uma noite de verão


 Milton e alguns dos álbuns dos quais participou 

                     Foto: Tatiana Valente 


Em 1993 te vi na televisão num show do Lulu Santos. Naquele dia pensei comigo. Conheço esse menino de algum lugar. Foi quando ouvi seu saxofone e me lembrei de onde era: da fita VHS do Oswaldo Montenegro. Corri para os LPs e seu nome estava lá em todos. Estava confirmado de onde te conhecia : era do Taxímetro, de Bruna a Enviada e de Lua e Flor.

Me lembro como se fosse ontem no espetáculo há 25 anos na turnê de Anticiclone Tropical o anúncio de seu CD, com a música "Sonho de uma noite de verão". Eu- já conhecedora da obra de Willian Shakespeare -me perguntei será que tem algo a ver?

Mas não, a tua música era inspirada em outra, em "Jackie Tequila" do Skank. Mas você tinha um quê de Puck, elfo travesso da história do escritor inglês: chegava no palco de skate, sorrindo e entusiasmando o público com o som de sua gaita, do sax, da flauta, do assobio ou quando dividia os vocais com o mestre. No livro o elfo era responsável por entregar uma flor mágica que fazia com que as pessoas se apaixonassem. E tua presença de palco era mágica como a flor, apaixonante.

Alguns meses depois em um sábado meu pai chegou em casa com uma sacola de CDs. Eu "aborrescente" estava estudando em meu quarto quando fui chamada para um desafio. Se adivinhasse quem era o intérprete ganharia o álbum de presente. Foi quando uma voz harmoniosa, cantando uma música de Carlinhos Brown me disse " se tropeçar meus pés cansados nos mares de ti..."

No mesmo momento reconheci : é o Milton. Era meu o CD que trazia esta e outras lindíssimas canções de compositores que já admirava como "Te Respirar"; "Não pra Prometer"; "Fala"; "Satélite do amor" ou "Melô do Amor"; " Esse Inverno"; Rush (melô dos geminianos); a divertidíssima "Mulheres" e suas parcerias com Mongol "Outra Pessoa" e " Não morre tão cedo". Além de  "Sonho de uma noite de verão" que consegui tirar de ouvido no violão  numa época em que cifras só eram encontradas em revistas. Tocava em uma novela, mas esta é uma outra história.

Foi assim que comecei a acompanhar de fato sua carreira e  meus ouvidos se acostumaram a reconhecer quando é você quem está tocando. Consigo dizer com precisão, pois tua assinatura é marcante. Faria uma lista imensa aqui de quais músicas e álbuns dos quais você participou e que estão entre minhas canções favoritas.

Mas te confesso uma coisa. Fiquei extremamente preocupada quando na pandemia vi um desabafo teu dizendo estar desanimado e pensando em dar um tempo no saxofone. Venho aqui te pedir : não pare.

Foi você, com tua flor mágica quem despertou numa menina de 10 anos recém-completados a sensibilidade de ouvir e compreender a alma de um instrumento musical.

Esse ano fui presenteada com a música "Bem no Último Instante " do seu EP "Baladas de Amores Abalados" inspirado nos encontros e desencontros que aconteceram durante o isolamento da pandemia. E no teu dia Milton Guedes, o "Puck " da minha história só tenho algo a dizer: obrigada por fazer a trilha sonora da minha vida.








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