Reunião para decidir quais músicas cantaríamos na missa da nossa formatura de oitava série do Ensino Fundamental. Outras canções, além daquelas previstas no repertório das celebrações da Igreja Católica. Para facilitar o entendimento dos meus leitores mais novos a oitava série era o nono ano de hoje. Podem já imaginar a animação desta moça ainda na "aborrescência". Eu queria cantar " Como uma onda", mas me tesouraram. "Anunciação" de Alceu foi escolhida em unanimidade, concordei afinal já nutria um grande amor por essa música. Até que a professora de Artes sugeriu que cantássemos "Pra não dizer que não falei das Flores" do Geraldo Vandré. Tivemos ali uma aula de contextualização e a explicação do porquê a música foi considerada o um dos hinos de quem lutava contra a ditadura militar.
Me formei em 1995, então não vivi como meu pai e meus professores os anos da ditadura. Sabia de toda perseguição e censura e das atrocidades cometidas por quem detinha o poder. Para mim era distante, algo visto apenas nos livros e nas letras de canções. E ali, naquela aula entendi de quais flores Vandré falava. Fez a música para o Festival Internacional da Canção em 1968, ano em que foi decretado o AI 5. Para quem não sabe ou gostaria de lembrar o que foi isso, já contei aqui, nesta matéria sobre Dilermando Reis. Com medo de ser preso, por ser considerado "subversivo" se exilou no Chile. Porém ao voltar para o Brasil no ano de 1973 foi preso no Aeroporto do Galeão.
Para minha indignação enquanto aguardava o jogo do Flamengo contra o Fluminense neste domingo - sou corintiana mas acompanho o "Fla" por causa de meu primogênito- vi no Instagram dos Jornalistas Livres algumas senhoras cantando em alto e bom som, acompanhadas por um artista popular a canção de Vandré. Estavam envoltas na bandeira nacional, e trajadas de verde. Tal como um papagaio repetiam os versos e bradavam por uma liberdade relativa.
Assisti várias entrevistas e depoimentos para tentar compreender o motivo pelo qual aqueles patriotas resolveram sair de suas casas e tomar a Avenida Paulista. Nem eles sabem ao certo. Seguem o que lhes é mandado via What's app . Teleguiados, numa cegueira coletiva. E dizem aos que entrevistam: " procurem se informar por fontes de fora, sai da bolha..."
Mais uma vez alerto aqui pelos riscos que a disseminação de fake news podem ofertar à população. Educação e aulas de História, são primordiais, para que a canção de Vandré seja cantada por um coletivo consciente.
Ouçam e reflitam sobre ela na minha Quinta da Saudade de hoje...
Amei o texto, bem claro e esclarecedor ❤️pra mim essa música é um hino, amo❤️
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