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Dia do Fã - Lulu e Eu parte 9 : " Isto é, se for, aquilo que chamam amor..."




Recuerdos - algumas recordações da fã, como o e-mail respondido, o álbum que promoveu essa alegria e um postal enviado pelo fã-clube Minha Vida com Lulu e PC, responsável pelo solo de sax em "Fogo de Palha" e "Aquilo"
Fotos: Tatiana Valente




Além de ser dia de Elis Regina, na efeméride, dezessete de março consta como o dia do fã. Mas o que seria o tal do fã?

Segundo o dicionário, um substantivo de dois gêneros (dicionários determinam dois), que pode ser um indivíduo que tem  ou manifesta admiração por uma pessoa pública,ou por alguém/algo. Sim, podemos ser fãs de nossos amigos, namorados, familiares e amores. Acho que pro amor existir, temos de admirar quem está ao nosso lado. Quando a admiração acaba, o tal do amor vai pelo ralo. E não existe coisa pior do que ser obrigada a conviver com uma pessoa que não admiramos mais. É degradante.

Mas, se o admirar está relacionado ao amor, podemos dizer que o fã é aquele que ama. Vocês podem me lembrar do assassino de John Lennon, que se dizia fã. Tenho a convicção que o ser fã tem um limite: o do respeito. No caso de Mark David Chapman, não era admiração, e sim algo criminoso o que hoje a lei chama de stalker. Deve existir um limite entre a admiração e o espaço do ídolo, sua vida pessoal e íntima. É uma linha que não devemos ultrapassar.

Sou fã de muitas pessoas, de meus amigos, e em especial dos artistas dos quais escrevo aqui. Não tenho vergonha alguma de afirmar : sou sua fã. Acho que os artistas não imaginam como é maravilhoso quando esse amor é correspondido: receber o carinho deles é de fato a confirmação de que todo esforço do fã para ver um show, comprar o álbum - gente sou desta época, please ! - e colocá-lo no hit parade não foi em vão.

Não é segredo nenhum que o número um no meu "paradão" ao longo destes anos é Lulu Santos. No fim do ano passado, acompanhei por mensagens no grupo de fãs, quando atendeu alguns deles nos últimos shows da turnê Barítono- aqueles que citei na matéria publicada aqui- foi uma comoção coletiva. E, pasmem, Lulu sabe o nome de alguns deles. Nome e sobrenome. Isso é o ápice do respeito de quem reconhece a importância de seus admiradores. Afinal não são poucos que dizem para os fãs: "você fica aí achando ele o máximo, e ele nem sabe que você existe".

Ouvi muito isso na adolescência, de amigos, familiares...

Até que num fevereiro de 2000, Lulu foi ao programa Ensaio, na TV Cultura, para divulgar seu álbum Calendário. O programa apresentado pelo jornalista e produtor musical Fernando Faro - falecido em 2016- trazia artistas que contavam sobre suas vidas e cantavam seus maiores sucessos, e alguns mostravam seus últimos lançamentos.

O cantor e compositor contou passagens de sua vida, lembrou que começou a tocar guitarra por causa do blues, e apresentou o álbum, produzido por Liminha - onipresente neste trabalho com guitarras, piano, órgão, baixo, percussão, clavinete, programação de bateria- e que contava com músicos como Alex de Souza, Willian Magalhães, Fábio Fonseca, Cesar Farias e o recém-chegado saxofonista PC. Era, ao menos para mim, uma forma de retomar as baladas dos anos 80, feitas por ele em LPs também produzidos por Liminha, com uma nova roupagem, algo moderno com a cara dos anos 2000. 

O cd trazia composições de Lulu como "Fogo de Palha"; "Aquilo"; " Navegadora" (uma linda homenagem para Scarlet Moon); "Paraíso Perdido"; "Brasil Legal"; a instrumental " Shani", uma versão diferentona de " Sábado à Noite" e outra mais ainda de " Eu Não"  parceria dele com Nelson Motta. Amo a capacidade de Lulu criar novos arranjos pra hits que aprendemos a amar desde suas criações.Ele se reinventa, se recria.

A uma certa altura do programa falou sobre seu nome, seu sobrenome e a origem de sua família. Deixou no ar a pergunta: " Tô louco pra saber o que é Pragana... eu não sei, se alguém souber adoraria a informação..."

Vi ali o pretexto pra mostrar pra ele que eu existia, e não era uma histérica, daquelas que ficam berrando lindo na beira do palco - gente, eu me emociono nos shows dele, mas fico estática, efeito da guitarra hipnotizante- e sim, uma admiradora séria. Era estudante de Letras, fazia especialização em tradução, e colecionava livros que traziam significados das palavras. Naquele ano tinha ganhado dois livros que traduziam palavras  árabes e,  fiz então, uma pesquisa pra saber a origem de Pragana, e um resumo do que o nome todo significaria. Luiz, combatente glorioso. Maurício, mouro, de pele morena. Pragana, aquela "barba do milho" e dos Santos, do bom e velho "portuga" de todos os santos. Mandei o e-mail, com tudo o que eu sabia a respeito de seu nome. Numa segunda, ao abrir meu e-mail para enviar para minhas colegas uma análise sobre trecho de Lusíadas, me deparei com um e-mail, Lulu Santos : "pong". Gelei. Era assim que ele respondia seus e-mails, numa alusão ao ping-pong.  A "hiperconectividade" tinha rolado. Todo gentleman, me agradeceu a informação e ainda disse que em breve seu site estaria pronto.

De gelada na cadeira, imediatamente, comecei a chorar...gritava pela casa : "estão satisfeitos, ele sabe que eu existo!!!! ele sabe que eu existo!!!!!"

Imprimi e guardei como prova de que sim, Lulu sabia de minha existência. E que isso era o suficiente para quem desde os 12 anos acompanhava sua arte, celebrava e dançava e dizia aos quatro ventos ser sua fã. E ainda diz. E se " isso não é, se for aquilo que se chama amor", não sei de mais nada.

Para celebrar o dia do fã, divido com vocês "Aquilo", do álbum Calendário, com capa do genial Gringo Cardia.

P.S : Lulu, meu caro. Não aguento mais receber solicitações de fakes seus nas redes sociais. Alguns me fazem declarações de amor, citam amar os textos que escrevo aqui. Outros batem boca comigo porque realmente acreditam que são você, mas quando peço pra cantarem me bloqueiam. Já perdi as contas de quantos fakes de Lulu no Instagram me procuraram. O que não sei se me deixa feliz ou triste : são leitores, fãs ou stalkers? Um beijo desta fã. Que seja assim enquanto é.

P.S 2: toca um blues, qualquer dia desses? Clebson, please, filma pra gente?





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