Essa turma sempre esteve em casa. Nos LPs, fitas cassete - temos Sol de Primavera, Geraes e entre outras preciosidades guardadas em uma gaveta na sala de estar. Portanto entraram na minha vida e na minha trilha sonora de maneira natural.
Os mineiros Beto Guedes, Milton Nascimento, os irmãos Borges além dos outros que integravam o grupo Som Imaginário embalaram minha infância. Eu cantava as músicas com meu pai no violão. Em julho quando viajávamos para Minas- Passa Quatro ou São Lourenço terra do Parque das águas - ia vendo as belíssimas paisagens das serras embalada pelas canções destes músicos. Era o que minimizava o gosto amargo da água ferruginosa que descia goela abaixo pois eu era muito magrinha e "precisava" tomar. Era bom "pro sangue", diziam. Os mineiros eram bons "pros ouvidos".
Mas aos 13 anos, já fã de Lulu e conhecedora dos lindos versos de Ronaldo Bastos parei de frente para o recém-chegado aparelho três em um. Era uma grande novidade o tal do CD. Pequeno, poderia ser carregado para todos os cantos, o máximo. Um dos primeiros álbuns comprados foi o duplo Clube da Esquina. Começava ali uma história de amor.
Ouvia praticamente todos os dias. E fui amando cada canção e suas particularidades. Elas estão espalhadas por este blog nas histórias que conto. Hoje sei que a musa de "Um girassol da cor de seu cabelo" se chama Duca e não era loira como eu imaginava. Tinha de fato um vestido azul.
E que Lô Borges quando se uniu ao grupo era um menino recém-saído da adolescência, chamado de "comunistinha" pelo capitão encarregado do alistamento no exército (ainda bem que ele não entrou).
Sei também que as músicas foram feitas numa casa de frente para o mar. Explica-se então a fonte de toda criação: assim como eles sou apaixonada pelo mar.
E ainda que a proposta de Ronaldo Bastos de fazer um disco conceitual deu tão certo que este ano o duplo completa 50 anos. Não conheço quem não tenha grande apreço por esta obra. Que traz a musicalidade brasileira com pitadas de jazz, um quê de Beatles e um gosto de Minas com mar.
Surreal. Minas com mar...
Mas Clube da Esquina para mim é surreal. Toda vez que ouço a música "Clube da Esquina n° 2 " é como se um portal se abrisse e eu voltasse para meus 14 anos. Me sentava em uma almofada no chão e com o instrumental no último volume cantava que os sonhos não envelheciam.
Milton, Lô, Márcio, Ronaldo, Beto e todos os envolvidos neste projeto são para mim gênios. E eu os amo de todo coração. Seria uma grande injustiça eleger a minha música favorita deste álbum.
Mas a beleza e sensibilidade de Bituca é tão imensa que convidou uma mulher, diria uma GRANDE mulher para deixar a obra perfeita : Alaíde Costa que com ele gravou " Me deixa em paz", um clássico do samba, composição de Monsueto e Ayrton Amorim da década de 1950 .
E é esta música que me arrepia que minha saudade vai buscar hoje.
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