Hoje, por decisão de Rita Lee, seria dia de seu aniversário.
Sim, nossa padroeira não gostava de celebrar idade nova no reveillon, e escolheu o dia de Santa Rita de Cássia como data de seu aniversário. Aproveito para indicar aqui, o documentário "Mania de Você"- ainda não vi "Ritas- com algumas ressalvas: amo e respeito toda história da artista, porém, como leitora de seus livros, e conhecedora de sua história, senti muita falta do começo. Sim, não se pode desprezar o começo de uma linda trajetória. Rita já era uma mina porreta quando o que se esperava das mulheres era recato e submissão.
Mas, hoje vim dividir com vocês, uma mulher tão porreta quanto Rita, que apareceu na música brasileira bem antes dela. Enquanto pesquisava sobre o compositor Sinhô, decidi ouvir em meu aplicativo, as gravações de suas músicas por diferentes cantores e cantoras. Gal, Betânia, Zeca Pagodinho, Ceumar, apareceram na lista, até que me deparei com esta foto acima que ilustra este texto. Nome da cantora : Aracy Cortes.
Foi um choque...
Primeiro porque amei a foto, muito ousada, apenas com um violão na frente -fiquem tranquilos, leitores do Falando em Sol, não irei reproduzir, afinal sou muito grande e um violão não daria conta de me cobrir, talvez um violoncelo- segundo porque fiquei abismada: porque uma mulher se colocar despida, apenas com um violão na fente, na época em que a foto foi produzida era uma afronta para a sociedade. Estou falando da década de 1920, quando a cantora gravou Jura, um samba de Sinhô, e usou essa foto para ilustrar seu trabalho.
Aracy era de fato uma afronta. Carioca, com o nome de batismo Zilda, nascida em 1904, foi criada por uma madrinha muito rígida, até que foi morar no Catumbi, onde teve como vizinho um músico chamado Pixinguinha (básico, né?).
Com sua afinadíssima voz de soprano e um jeitinho especial de cantar, passou a se apresentar nos teatros do Rio de Janeiro, levando ao público canções de compositores como Ary Barroso e Assis Valente, se tornando destaque num cenário exclusivamente masculino, e inaugurando o samba-canção, antecessor da bossa-nova. Para vocês terem uma ideia da importância da intérprete, a primeira audição do samba- exaltação "Aquarela do Brasil"- sucesso que levou a nossa música para os americanos- foi feita por ela.
Nos deixou em 1985, e infelizmente não pode nos contar o que enfrentou em sua vida para se destacar num meio em que mulheres são julgadas por se mostrarem como são. Mas, hoje a minha " Quinta da Saudade" será dedicada a esta musa.
"Ai Ioiô/ Linda Flor", composição de Henrique Vogeler, Candido Costa e Marques Porto foi gravada por Aracy Cortes no ano de 1929...
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