Dois anos se passaram desde a partida da Padroeira da Liberdade. Muitos dias após minha despedida como fã em texto publicado neste Falando em Sol. Neste fim de abril, me vesti de jornalista e fui até a cidade de Guararema em busca de algum rastro deixado por Rita Lee para produzir material para o Festival Diversa - se você ainda não viu, veja aqui- um evento feito por mulheres, com mulheres, para todo mundo. A cidade foi escolhida para o festival pois lá, em 1972, Rita, Arnaldo Baptista, Sérgio Dias, Liminha e Dinho encostaram um ônibus na praça central e promoveram para os munícipes um show de mais de cinco horas de duração, deixando a todos com uma sensação de que tudo aquilo era um sonho. Os jovens exalavam liberdade, e fizeram da vida pacata da pequena cidade um mundo tão parecido quanto o lema do Woodstock :" dias de paz & música".
Confesso para vocês, meus amados leitores, que ao perguntar a uma senhora onde nossa estrela tinha passado, já "tremi nas bases " .Migramos a equipe, as produtoras do festival e eu para a praça central, hoje muito diferente do que seria naqueles tempos. Emocionada, tive de segurar a fã pra deixar sair a jornalista e poder contar o que aconteceu naquele local. Mas a energia da padroeira ainda dá para sentir entranhada nas flores ou nas borboletas que passavam por mim enquanto falava sobre liberdade.
Semana passada, quando o vídeo foi publicado, recebi um belo relato de um dos meninos, na época adolescente, que foi testemunha ocular daqueles dias. Em uma página no Facebook chamada "Pérolas de Guararema" publicou o texto abaixo, que rendeu mais de 1,3 curtidas e outras histórias vividas pela nossa estrela naquele 1972. Como a da menina que tem uma lembrança de estar a espera do trem atrasado para Jacareí e seguiu para a praça curtir o show; a do sobrinho do dono da fazenda onde se hospedaram e tinha a destilaria de cachaça Nho Nhô da Bellard; da linda carta do prefeito da época agradecendo Os Mutantes por aquilo; das lembranças de quem ia na fazenda "filar" um lanchinho, e brigar pelas latas de coca-cola trazidas por eles do exterior; de Rita novinha e dos outros rapazes que iam para a cachoeira nadar (nus, para o nervoso das mães guararemenses); de meninos de 12 anos, que lembram da passagem de som; de conversas com Rita no banquinho de vime na padaria Barros; e até do delegado sisudo que se enturmou na praça ...
Hoje trago aqui, na Quinta da Saudade o relato do meu amigo e leitor João Pinto de Souza, que me deu de presente este texto...
" Ainda sobre quando Guararema se tornou 'Woodstock Brasileiro'
Eu morava na roça quando, através do meu primo irmão Laudenir Moreira , que vivia no centro da cidade, soube da chegada de um grupo de cabeludos que estava acampado na Fazenda Santo Antônio, da família Manograsso — onde hoje é o Residencial Alpes. Era ninguém menos que Os Mutantes: Rita Lee, Arnaldo Baptista, Sérgio Dias, Liminha e Dinho. Junto com eles, havia uma turma de cerca de 30 pessoas. Eu não cheguei a vê-los pessoalmente, mas a garotada da época ia de bicicleta até o acampamento só para acompanhar os ensaios. Aquilo era completamente novo e fascinante.
Naqueles tempos, Guararema tinha cerca de dez mil habitantes. Imagine o alvoroço quando um ônibus todo colorido surgiu pelas ruas — chamava a atenção de todo mundo.
Rita Lee, sempre simpática, passava os dias no centro da cidade, conversando com os moradores. Durante cerca de dez dias, a cidadezinha viveu algo extraordinário. Ela costumava chegar à padaria dirigindo um buggy branco e era recebida com carinho por todos.
O show aconteceu em agosto de 1972 e reuniu quase toda a população, especialmente os jovens. Eu tinha 16 anos e lembro bem da energia daquele dia. A apresentação durou cerca de cinco horas. No final, distribuíram sanduíches e sorvetes. E, claro, muitos autógrafos.
Há quem diga que Rita torceu o tornozelo em cima do ônibus durante a apresentação. Lembro de uma moça que levou para ela um buquê de flores, e de outro rapaz que entregou um crucifixo de madeira em um cordão que ele mesmo havia feito. Ambos foram convidados a subir ao palco — ou melhor, ao ônibus-palco.
Ainda ouvi dizer que todos do grupo tomavam banhos pelados na Cachoeira do Putim, mas isso não presenciei.
Foi tudo tão mágico. Naquela época, não fazíamos ideia do tamanho que Os Mutantes teriam na história da música brasileira. Muito menos que Guararema, por alguns dias, viveria algo próximo de um verdadeiro 'Woodstock Brasileiro' ."
Rita não virou estrela e foi para o céu. Ela nasceu estrela, iluminou caminhos e deixou por onde passou seu rastro de luz. E ainda brilha nos corações de quem se deixou tocar por ela.
Para a trilha da minha quinta da saudade a primeira canção de Os Mutantes que aprendi a tocar no violão...
E pra você padroeira, todo meu amor...
Brina.
Amei👏👏👏 Que delícia de texto! Parabéns 😘
ResponderExcluirAhhh...é para vocês, com muito amor ❤️🌹
ExcluirEu estava nesse show,hj ficaram boas recordações.❤️
ResponderExcluirAh que experiência maravilhosa e única! ❤️🌹
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